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CRÍTICA | Better Man – A História de Robbie Williams (Better Man, 2024)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 13 de mar.
  • 4 min de leitura

Autoconsciente da recente onda de biografias musicais vazias, Better Man se adequa ao sarcasmo de Robbie Williams em obra que o explora de maneira profunda e com honestidade para com suas falhas como ser humano.



Quando pela primeira vez vi menção à Better Man, jurava tratar-se de uma biografia de Robin Williams. Mas por que o ator seria o foco central de um musical protagonizado por um macaco de CGI? Eu até cheguei a lembrar da história da gorila Koko, fã de Robin, mas me parecia exagerado demais. Foi então que percebi estar pensando no Williams errado, quando o longa é, na verdade, uma biografia do cantor britânico Robbie Williams.

 

O musico, que confesso, de nome desconhecia é retratado em uma biografia pouco convencional, e muito autoconsciente, tanto do momento em que está sendo lançada, quando da pessoa que retrata.

 

Pois vivemos em uma era de dramas biográficos musicais frágeis, que buscam um recorte da vida de um cantor/a, e a partir dele explora seus feitos e conquistas, mas sem nunca se aprofundar em quem realmente foram, para além daquela superficialidade facilmente acessível em um site como a Wikipédia (vide, recentemente, I Wanna Dance With Somebody, One Love, Back to Black, todos nessa lógica, e ainda por cima com o envolvimento das famílias dos biografados).

 

Na contramão dessa ideia de “biografia chapa branca”, Robbie Williams, envolvido diretamente na produção, mergulha de cabeça – literalmente – nessa oportunidade de abrir-se ao mundo para revelar seu íntimo. O longa, que serve como uma via de mão dupla para buscar mais relevância e reconhecimento para si, especialmente das novas gerações, também funciona como um pedido de desculpas e uma confissão de suas falhas mais humanas, sem que soe uma obra autoindulgente – como o gigante clipe experimental de Jennifer Lopez do ano passado, This is Me... Now.

 

A escolha de ser representado em tela por um macaco de computação gráfica, muito bem interpretado por Jonno Davies, com a voz do próprio Robbie, e um trabalho detalhado de captura de movimentos, sobretudo com atenção às expressões faciais, e não apenas é uma forma de trazer personalidade à biografia, até como uma espécie de crítica ao subgênero, que carece de uma reinvenção, mas oferece, ao mesmo tempo, o estabelecimento do personagem chamado Robbie Williams.

 

Isso porque o ponto central de seu longa, ao contrário de tantos outros, não é contar os seus feitos como um artista de sucesso, até o presente momento, mas trabalhar o custo dessas conquistas, as renúncias, as incertezas, e como esse personagem que havia criado, Robbie, pouco a pouco dava cabo e se sobrepunha ao seu verdadeiro “eu”, Robert.

 

As relações familiares (com a mãe, a avó e também a namorada) e o próprio círculo íntimo acabam sendo colocados em xeque quando o protagonista se encontra imerso em uma onda de narcisismo, como uma barreira defensiva que manifesta sua incapacidade de lidar consigo e os efeitos que a fama lhe trouxe. A ansiedade, e a descrença em si, o fazem afundar naquele mar depressivo que tantas outras celebridades, sobretudo da música, acabam por naufragar, entre o álcool e as drogas. Acontece que alguns acabam vitimados fatalmente por essa força, onde, por sorte ou destino, Robbie dá a volta por cima.

 

Por outro lado, entre o lado familiar que encontrava espaço para apoia-lo, seu pai, ausente e egoísta, apenas aparecia para se aproveitar de Robbie – mais um ponto em comum com tantas outras biografias. Ao invés de oferecer um retrato limpo dessa relação, Williams abre o coração para com suas mágoas, ainda que sempre deixe um espaço reservado para trabalhar o perdão e a cicatrização das feridas deixadas em aberto com o tempo.

 

Todos esses elementos, que parecem tão comuns a essa série de biografias vazias mencionadas anteriormente, encontram espaço para serem subvertidos em Better Man como uma espécie de paródia e até um comentário metalinguístico ao atual patamar da indústria cinematográfica – tal como, ainda que de maneiras diversas, Walk Hard foi para Walk the Line (com o diferencial de, nessa hipótese passada, falamos de uma paródia biográfica de um personagem fictício, que tem como base uma biografia musical respeitada e original a sua própria forma, e não como esses filmes ‘chapa branca’ atuais).

 

E mais do que isso, ao envolver Michael Gracey no projeto (responsável pelo ótimo musical O Rei do Show, de 2017, do qual este filme traça interessantes paralelos, na estrutura do texto e até no aproveitamento das canções), a fantasia foi definitivamente abraçada, justamente por um diretor que, como poucos, sabe mescla-la em um universo realista, entre o musical e o dramático, para construir uma realidade que os equilibra, lado a lado, e não os coloca um em detrimento do outro. É sobre um cineasta que acredita naquilo que faz (algo próximo de Paul King, cuja crença permite a magia de Paddington e Wonka florescer), e trabalha com os momentos musicais e com o fantasioso de maneira a explorar o interior da mente do protagonista biografado, inclusive como forma de levar um aspecto dinâmico ao filme, sempre buscando se reinventar nessa jornada de autoconhecimento, e, sobretudo, amadurecimento – com direito até mesmo a uma cena de ação com proporções quase épicas.

 

E assim, Better Man é como um respiro nesse mar de cinebiografias enfadonhas, que se beneficia justamente da autoconsciência de suas fragilidades enquanto filme, e, ao contrário de se contentar com o óbvio ou o básico, busca por subverte-las em prol de um longa original e com uma identidade própria, se adequando justamente ao estilo sarcástico e irreverente do biografado. E, por incrível que pareça – ou não -, comigo evidentemente atingiu seu propósito, pois eu mal conhecia o protagonista, e, a partir do filme, interessei-me pelas músicas de Robbie Williams e por conhecer, mais afundo, seu trabalho. Foi uma grande sacada do músico e da equipe por detrás do filme, uma das maiores, se não até a maior, surpresa cinematográfica de 2024.

 

Avaliação: 5/5

 

Better Man: A História de Robbie Williams (Better Man, 2024)

Direção: Michael Gracey

Roteiro: Michael Gracey, Simon Gleeson e Oliver Cole

Gênero: Drama, Biografia, Musical

Origem: EUA, Reino Unido, China, França, Austrália

Duração: 135 minutos (2h15)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Acompanhe o percurso de Robbie Williams desde a infância, passando por ser o membro mais jovem da boyband Take That, até às suas conquistas inigualáveis como artista a solo que bateu recordes - enquanto enfrenta os desafios que a fama e o sucesso podem trazer. (Fonte: TMDB - Adaptado)

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