CRÍTICA | A Fonte da Juventude, de Guy Ritchie (Fountain of Youth, 2025)
- Henrique Debski
- há 2 dias
- 3 min de leitura
A Fonte da Juventude se atrapalha tentando ser mais complexo do que é, em uma narrativa sem originalidade, mas boa como passatempo.

Em um dos raros projetos recentes em que Guy Ritchie apenas assumiu a cadeira de diretor, e não também a de roteirista, A Fonte da Juventude é uma clara tentativa da Skydance, em parceria com a Apple, de construir mais uma grande franquia de aventura voltada essencialmente para o streaming, seguindo aquela sua típica fórmula de blockbusters pouco inventivos que se utilizam de fórmulas prontas – algo que tem sido bastante recorrente, sobretudo com seus filmes de espionagem, vide Ghosted, The Old Guard, Without Remorse, Agente Stone e tantos outros.
O atrativo deste novo projeto, então, senão pela temática que pode chamar atenção por evocar aquele espírito ao estilo Indiana Jones, do qual, confesso, tenho sentido falta ultimamente, talvez recaia em sua proposta de aventura para a família, com um elenco carismático e repleto de nomes consagrados.
De todo, sua introdução, com uma boa sequência de perseguição em Bangkok ao som de “Bang Bang” em língua francesa, já demonstra que Ritchie, mesmo que se mantenha inspirado na direção de ação, aqui parece limitado na forma como pode trabalhar com a violência, enquanto um projeto voltado para um público familiar. Ainda que bem coreografada, é possível sentir uma falta de impacto nos combates, algo relativamente comum nessas produções para streaming, em que os tiros parecem soar inócuos, as balas não acertam nada, e tudo se resume a computação gráfica e efeitos digitais excessivos, o que, pouco a pouco, parece esvaziar o próprio senso de ameaça – se é que aqui realmente existe algum.
O roteiro de James Vanderbilt até procura uma forma de emular as características típicas do cinema de Ritchie, com uma narrativa que não tem apenas dois polos, de heróis e vilões, mas diversos grupos de pessoas envolvidas na mesma empreitada, perseguindo uns aos outros, e se encontrando a todo tempo nesta caçada ao tesouro ao redor do mundo. Por um lado, funciona bem enquanto não necessariamente conhecemos as intenções de todas as partes envolvidas, o que acrescenta substancialmente algum valor nos mistérios do filme, que vão além do artefato procurado, e residem também nas motivações dos personagens.
Entretanto, por outro lado, o roteirista não tem o mesmo êxito do diretor em construir uma narrativa complexa. Talvez pelo excesso de elementos com os quais precisara lidar nessa tentativa de emulação, muitas ideias ou acabam se perdendo nesse mar de relações, ou restam simplificadas. A própria equipe protagonista, por exemplo, mal possui alguma integração ou espírito coletivo, e a relação entre os irmãos, vividos por John Krasinski e Natalie Portman, se ancora no passado, e em discussões acerca das aventuras que tiveram quando jovens e no legado do pai, um respeitado arqueólogo e historiador falecido há pouco mais de uma década, que não avança, porém, para além de alguns flashbacks, sonhos ou mesmo uma discussão aquém do óbvio dentro do gênero, sobre respeitar os artefatos, e a História. E nisso, o restante da equipe, que trabalha com os personagens desde os tempos do pai, não tem sequer alguma característica marcante, ou presença em cena, servindo mais como elenco de apoio para questões pontuais do que qualquer outra coisa.
Nesse mesmo sentido, são tantos polos antagonistas igualmente mal aprofundados – vide a personagem de Eiza Gonzales e a participação tola de Stanley Tucci, resumida a um diálogo expositivo -, que até a resolução do mistério por vezes resta prejudicada, com etapas não fazem sentido por, aparentemente, não terem qualquer utilidade prática (como a Bíblia), ao ponto deste acabar resolvendo-se por si e ao acaso, enquanto os protagonistas discutem as próprias vidas.
Dessa forma, A Fonte da Juventude não só não oferece nada em relação ao gênero e ao próprio estilo de aventura na caça de um tesouro, como também recicla, sem muita criatividade, ideias de tantos outros filmes – ao ponto de reproduzir, integralmente, o desfecho de um dos Indiana Jones, justamente a maior sua fonte de inspiração. Por vezes, nem se parece com um filme de quase duzentos milhões de dólares (como se estima), ainda que possa ser divertido pela ação – fruto da direção de Guy Ritchie – e do carisma de um elenco com boa química (dificilmente um projeto com Krasinski não tem esse elemento ao seu favor), talvez servindo como entretenimento para a família em uma tarde chuvosa, mas bastante esquecível a longo prazo, no catálogo do streaming, e na filmografia do diretor.
Avaliação: 3/5
A Fonte da Juventude (Fountain of Youth, 2025)
Direção: Guy Ritchie
Roteiro: James Vanderbilt
Gênero: Ação, Aventura, Thriller, Comédia
Origem: EUA, Reino Unido
Duração: 125 minutos (2h05)
Disponível: AppleTV+
Sinopse: Dois irmãos afastados unem forças para buscar a lendária Fonte da Juventude. Usando pistas históricas, eles embarcam em uma jornada épica repleta de aventuras. (Fonte: IMDB)
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