CRÍTICA | Missão: Impossível – O Acerto Final, de Christopher McQuarrie (Mission: Impossible – The Final Reckoning, 2025)
- Henrique Debski
- há 4 dias
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O Acerto Final encerra Missão: Impossível com ar saudosista, em um bom exercício de desconstrução, e uma das melhores cenas de ação da franquia.

Ao sair da sessão de Missão: Impossível - O Acerto Final, um sentimento de tristeza e vazio, talvez momentâneo, tomou conta de mim. Não em razão do filme em si, que me deixou satisfeito, mas pelo fato de que, talvez, nos últimos anos tenhamos testemunhado a morte das duas maiores franquias de ação e espionagem da atualidade – e quiça de todos os tempos: 007, com Sem Tempo para Morrer (2021), e agora Missão Impossível.
Fato é que obras arriscadas como as integrantes dessas franquias estão cada vez mais escassas nos dias de hoje, tomados, em sua maior parte, por tentativas de recriar algo no mesmo estilo, mas sem o mesmo investimento (na verdade, com o mínimo de gasto possível) e, consequentemente, sem a mesma qualidade – vide as próprias recentes produções da Skydance, responsável por Missão: Impossível, para a Netflix ou AppleTV. Então, o proveito dessa nova, e talvez última, entrada de Missão Impossível nos cinemas, ao menos na forma como a conhecemos e estamos acostumados, deve soar nostálgica.
No entanto, o resultado dessa última aventura pode soar um tanto agridoce. Aos que esperavam grandes sequências de ação, ao estilo de Efeito Fallout ou mesmo Acerto de Contas, pode sentir-se frustrado com a ausência de quantidade neste Acerto Final, ainda que se tenha reservado um grande momento para o final. Na verdade, estamos diante de uma obra que, olhando para trás e repassando todos os momentos dos sete filmes anteriores, caminha para a desconstrução de tudo o que Missão: Impossível sempre foi ou fez. Falamos de uma franquia na qual a tecnologia está sempre presente ao lado do protagonista, figurando como uma fiel aliada em suas constantes batalhas para salvar o mundo de ameaças cada vez maiores.
Porém, agora a tecnologia mudou de lado, e apesar de Gabriel, vivido por Esai Morales, representar uma ameaça física para Hunt, que ressurge como uma sombra do passado, a Inteligência Artificial, chamada de A Entidade, se mantém como a grande vilã. O que outrora se resolvia com equipamentos de última geração e ultramodernos, agora qualquer coisa que chegue perto da internet pode se tornar uma arma. A necessidade do analógico, rejeitado durante todo esse tempo, em pleno 2025, diante de uma era hiper conectada, faz com Missão: Impossível um comentário irônico sobre os caminhos que trilhamos enquanto sociedade, e os perigos da realidade física sucumbir ao universo virtual, quando os humanos deixariam de ser os detentores de seu próprio destino, enquanto influenciados constantemente, sem nem perceber, por um grande algoritmo, algo que soa até mesmo profético.
Ao mesmo tempo, por outro lado, O Acerto Final destoa em alguns pontos do capítulo anterior ao sucumbir a algumas ideias de estúdio, como a necessidade que sente, completamente inoportuna, de estabelecer conexões com as origens da franquia (sobretudo com elementos dos 1º e 3º filmes), a partir de coincidências (ou não) de causa e consequência, referentes a personagens do passado e eventos que ficaram esquecidos na linha do tempo – ou mistérios que nunca foram resolvidos, e faziam parte do charme e ironia da narrativa naquele momento (como o “pé de coelho”).
Além disso, a constante necessidade de o filme se explicar, através de muita exposição verbal, pode até ser compreensível como forma de tornar a obra mais acessível, e imergir o público em meio a aventura e os desafios que Hunt precisará enfrentar para salvar o mundo nesta jornada realmente complexa. No entanto, o excesso de vezes em que esses recursos são empregados, repetidamente, acabam por tornar o filme cansativo em certas oportunidades, ainda mais em se tratando de quase três horas de projeção – seja pelos mesmos diálogos, com as mesmas palavras, expressões e tiradas cômicas sendo repetidos por duas, três vezes em momentos diferentes, mas especialmente pela quantidade de flashbacks, com direito até a um jumpscare em certa oportunidade.
No entanto, quando se aproxima à reta final, e o roteiro de Erik Jendresen e Christopher McQuarrie começa a criar complicadores cada vez maiores para o que já era complicado, toda uma previsibilidade aparente dos momentos anteriores, motivada justamente pelo excesso de exposição repetida, cai por terra ao levar a narrativa deste capítulo final ao ápice do frenético, intercalando habilmente diversos arcos, em locais diferentes, como forma de explorar os impactos globais que as lutas travadas pelos personagens representam para um mundo à beira do colapso, nas mãos de um inimigo invisível.
Em grande parte, o trunfo desses impactantes momentos finais se deve à criatividade – e loucura – de Tom Cruise em desafiar a si e ao seu corpo em cada novo filme, dessa vez com uma batalha em aviões de hélice em pleno ar – e muito bem filmada pela direção de Christopher McQuarrie, que ainda mantém o tom de paranoia e onipresença da ameaça da parte anterior, ainda que não com o mesmo brilhantismo de antes, talvez esvaziado pelas razões já comentadas.
De qualquer maneira, mesmo que O Acerto Final não tenha conseguido chegar à altura dos dois últimos filmes, os pontos mais altos de uma franquia que nunca esteve embaixo, apresentou-se como uma conclusão justa, e ao mesmo tempo épica, para tudo o que Missão: Impossível sempre representou ao cinema de ação, seja por suas sequências cada vez mais elaboradas, ou por uma ameaça mais engenhosa e complexa. Mais do que isso, seus momentos finais ecoam um sentimento de saudade, que será deixada se este for, de fato, o último filme da franquia, ao menos nos moldes que conhecemos.
Avaliação: 4/5
Missão: Impossível – O Acerto Final (Mission: Impossible – The Final Reckoning, 2025)
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Christopher McQuarrie e Erik Jendresen
Gênero: Ação, Aventura, Thriller
Origem: EUA, Reino Unido
Duração: 170 minutos (2h50)
Disponível: Cinemas
Sinopse: Ethan e sua equipe estão em uma missão para encontrar e destruir uma IA conhecida como The Entity, antes que a mesma tome controle do mundo, correndo contra o tempo e desviando daqueles que a querem controlar. (Fonte: IMDB - Adaptado)