CRÍTICA | Extermínio: A Evolução, de Danny Boyle (28 Years Later, 2025)
- Henrique Debski
- há 13 minutos
- 4 min de leitura
O retorno de Boyle e Garland ao universo de Extermínio reforça a originalidade do cinema de zumbis, em uma expansão da franquia rumo a uma jornada de amadurecimento em meio a devastação pelo contágio.

Em tempos sombrios ao cinema hollywoodiano, nos quais a liberdade criativa encontra-se cada vez mais sufocada pelos estúdios e seus executivos, que acreditam saber sobre o que o público deseja consumir, na maior parte das vezes erroneamente, filmes como Extermínio: A Evolução são um respiro ao monte de obras genéricas que semanalmente chegam aos cinemas ou entram para os catálogos dos streamings.
No primeiro longa dessa agora franquia, lançado em 2002, o roteirista Alex Garland e o diretor Danny Boyle se aproveitaram dos zumbis definidos e popularizados no cinema norte-americano por George A. Romero para a construção de um universo diferenciado, que atendia a mudança dos tempos com um cinema mais veloz. Suas criaturas ainda são sedentas por carne, mas a transformação, baseada no vírus da raiva, é rápida. Em meros vinte segundos, qualquer contato com infectados já poderia ser motivo suficiente para a transformação. Tal fato dificultava a formação de estratégias por parte dos sobreviventes, que mal tinham tempo para decidir o que fazer antes do outro se tornar uma das criaturas. O baixo orçamento é uma das grandes marcas daquele filme, que recorre a uma fotografia digital granulada como forma de impor uma visão ainda mais pessimista àquele mundo, além daquilo que o próprio texto já trabalhava.
E então, depois de uma sequência genérica, sem o envolvimento da equipe do primeiro longa, com boas ideias mal executadas em um filme que valoriza muito mais a ação do que de fato o universo, essa terceira entrada nos reposiciona dentro dessa realidade tomada pelo vírus, vinte e oito anos depois do contágio original, novamente sob os olhos de Garland e Boyle.
Mas ao invés de retomar do ponto e do estilo em que pararam no longa de 2002, os cineastas compreendem a necessidade de uma mudança, e partem na busca de uma identidade ao novo longa, como um novo capítulo, independente, pautado na mesma realidade.
Afinal, o mundo evolui, e o do filme também. Enquanto o vírus conseguiu ser contido em praticamente todo o globo, o desastre ocorrido na Grã-Bretanha a faz ficar parada no tempo, isolada, destruída, abandonada. Sua população sucumbiu à doença, muitos ficaram pelo caminho, inclusive transformados, e muitos já mortos pela fome com o estabelecimento de um cenário pós-apocalíptico. Alguns sobreviventes conseguiram agrupar-se em comunidades isoladas, afastadas e altamente protegidas, justamente onde reside o protagonista e sua família.
No início, uma dúvida aos poucos é sanada sobre quem assume, de fato, o protagonismo deste novo Extermínio, que inicialmente recai sobre o personagem de Aaron Taylor-Johnson, e pouco a pouco é passada para seu filho na trama, Spike, vivido excelentemente por Alfie Williams, em seu primeiro papel de destaque na carreira. É curioso, nesse sentido, que desbravamos aquele mundo junto a um personagem que nele nasceu, já após a situação de caos, naquela comunidade isolada e protegida, sem nunca ter tido acesso ao lado de fora dos portões, justamente quando o acompanhamos, em sua primeira viagem, no ritual de desbravamento do mundo exterior e para matar infectados junto de seu pai, na forma de uma espécie de conquista da “maioridade”.
Nesse momento, compreendemos que o mundo afora tornou-se ainda mais perigoso, com a mutação do vírus e da periculosidade dos infectados, em seus diferentes tipos – uns mais fortes, e outros mais inteligentes. Da mesma forma, outros sobreviventes também espreitam o exterior naquele país isolado, e a jornada de conhecimento de Spike também se estende a nós, espectadores, pelos mistérios daquela natureza perversa e transformada, que reserva surpresas na forma de empatia, e também esperança pelo poder da maternidade – temática central do longa, onde também reside seus momentos mais dolorosos.
Boyle sintetiza muito bem no campo da imagem o sentimento de solidão e esperança com o qual Garland escreve a jornada de amadurecimento de Spike enquanto anda com sua mãe para cada vez mais longe da vila segura em que residem, na busca por um possível médico para investigar a condição dela. O microcosmo em que nasceu o personagem é trabalhado pela narrativa como uma espécie de fantasia medieval - uma vila protegida, cujo exterior de seus muros guarda mistérios e perigosas criaturas “fantásticas”. Muito disso fica evidente na montagem que intercala o andar do protagonista para fora de seu mundo seguro com antigas imagens de soldados marchando e outros disparando com arco e flecha – justamente a arma portada por Spike – e o poema “Boots!”, de Rudyard Kipling, ao fundo, em uma comparação direta que reforça esse teor antigo dessa “involução” da forma de viver, junto com uma ação visceral quase sempre pautada nas armas brancas e analógicas, tendo em vista a completa cessação da tecnologia.
Quando em contato com pessoas de fora da Grã-Bretanha, há uma fascinação por parte do roteiro em explorar essas diferenças culturais, entre o protagonista, filho da epidemia e nascido no ambiente pós-apocalíptico, e o soldado sueco também nascido depois do contágio, mas em um país cujos efeitos do vírus não chegaram a ser catastróficos ou talvez nem sequer sentidos. Essa escolha, de isolar o evento em um único país, além de diferenciar Extermínio: A Evolução de tantos outros filmes, ainda permite essa interação, que novamente oferece substância a um mundo ainda mais complexo e com fronteiras delicadas.
E assim, a proposta de uma trilogia, já filmada, é arriscada em se tratando de uma franquia sem tanto apelo por parte do público geral, cujos verdadeiros fãs são bastante específicos. E apesar de torcer o nariz para projetos grandes assim já estabelecidos desde o princípio, aqui há muito potencial, sobretudo pela integração entre a primeira e última cenas, que será aprofundada no segundo longa, o qual já anseio desde já; e, sobretudo, pelo excelente trabalho conjunto exercido por Garland e Boyle no aprofundamento e expansão de seu universo.
Avaliação: 4.5/5
Extermínio: A Evolução (28 Years Later, 2025)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Alex Garland
Gênero: Thriller, Terror, Drama
Origem: EUA, Reino Unido, Canadá
Duração: 115 minutos (1h55)
Disponível: Cinemas
Sinopse: Ainda vivendo em quarentena devido ao vírus da raiva, um sobrevivente decide se aventurar no coração sombrio do continente. Ele logo descobre que uma mutação se espalhou entre os infectados, agora mais fortes e perigosos do que antes. (Fonte: Google - Adaptado)
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