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XXI FANTASPOA | Jimmy e Stiggs, de Joe Begos (Jimmy and Stiggs, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

Em Jimmy e Stiggs, Joe Begos leva a reconciliação de dois amigos ao extremo, em meio a violência, alienígenas e alucinógenos.



Alguém (que não consigo me recordar quem), há alguns anos, me disse uma frase interessante, que não tirei da minha mente até vê-la se confirmando em Jimmy e Stiggs: “Joe Begos é como uma versão de Rob Zombie que deu certo”. Apesar de não gostar dessas comparações, por considerar que a arte, em regra, não deve ser passível de análises desta maneira, sobretudo entre artistas, que manifestam suas visões de mundo através de suas obras, nesse caso tenho de concordar que não é uma afirmação de todo errada, ao menos para mim.

 

Tanto Zombie quanto Begos compartilham, entre si, de interessantes semelhanças em relação às filmografias, a partir de visões de mundo pessimistas, esteticamente poluídas (nos próprios personagens aparentemente sujos, descuidados com o próprio corpo e aparência, em mundos exagerados, pelas cores e luzes), em diálogos repletos de vulgaridades, que manifestam os desejos mais profundos daqueles em cena, nos prazeres corporais e biológicos, com uma montagem, por diversas vezes, psicodélica, tramas repletas de violência em suas mais diversas formas, e sempre acompanhadas por trilhas de rock/heavy metal.

 

Acontece que Begos, porém, em todos os seus filmes sabe trabalhar com esses elementos com a habilidade de não os tornar recursos visualmente exaustivos, e muito menos gratuitos, sabendo exatamente dosar aquilo que deseja contar, em curta duração, com seu estilo psicodélico.

 

Jimmy e Stiggs, nesse sentido, funciona como um grande diálogo metalinguístico e autorreferencial à filmografia do próprio cineasta, ao colocar no centro da narrativa uma dupla de amigos de longa data – justamente Jimmy, vivido pelo próprio diretor, e Stiggs, vivido por Matt Mercer –, também cineastas, cuja relação de amizade encontra-se rompida em razão do abuso de álcool e drogas por parte de um deles, que agora acredita estar sendo vítima de perseguição por alienígenas dentro de seu próprio apartamento. A partir do momento em que ambos se encontram nesse mesmo ambiente, em meio à obsessão com extraterrestres e a necessidade de discutir o passado para consertar o presente e quem sabe o futuro, Begos acaba levando essa proposta de reconciliação ao extremo, quando pouco a pouco se torna, também, uma luta pela sobrevivência.

 

Como um filme que se passa em um único ambiente, há uma preocupação por parte da direção em estabelecer esse local, sobretudo geograficamente, de maneira detalhada para que se torne compreensível ao espectador as movimentações dos personagens em cena. A escolha de Begos por uma câmera em primeira pessoa, presente no terço inicial e final, funciona para além desse objetivo de mero estabelecimento, mas como o pontapé inicial e final de um ciclo que sela o destino da dupla protagonista, ao vincula-los a momentos do próprio passado juntos através dos alienígenas.

 

Isso porque durante boa parte do tempo, o roteiro habilmente constrói um mistério no entorno das criaturas, não apenas por conta de suas aparições, as quais demoram algum tempo para começarem a acontecer, mas especialmente pela dúvida em relação a própria existência dos alienígenas, criando a incerteza sobre até que ponto aquilo que assistimos em tela é real, e até que ponto é uma ilusão criada pelas substâncias consumidas pelos personagens, como parte de um delírio conjunto motivado por seus interesses e obsessões de infância com extraterrestres e programas sobre teorias da conspiração.

 

E é em razão desse contexto que toda a proposta da psicodelia tão bem se adapta ao longa, da decupagem caótica e rápida, dos alienígenas com sangue neon e da ação violenta e, ainda que acelerada, muito bem montada, enquanto ficamos presos neste limiar onde nunca sabemos – e tampouco os personagens – distinguir a realidade da imaginação, o efeito alucinógeno das bebidas e drogas do real significado da reconciliação, e até mesmo se de fato é o que está ocorrendo, e não é apenas mais uma ilusão da mente do protagonista, em relação a algo que gostaria de fazer – e sabe que precisa – mas tem receio, por orgulho de admitir os erros ou mesmo vergonha do que fizera.

 

Dessa forma, Jimmy e Stiggs, em toda sua forma caótica, pouco está interessado em se debruçar sobre os alienígenas ou qualquer contexto para além da dupla protagonista. Tudo se estabelece apenas como forma de se trabalhar uma reconciliação, regada a muita violência, heavy metal e apenas oitenta muitos de duração, suficiente para brincar com a temática proposta, em tons autorreferenciais, humor ácido e cujo resultado é como uma reunião de amigos muito divertida.

 

Avaliação: 4/5

 

Jimmy e Stiggs (Jimmy and Stiggs, 2025)

Direção: Joe Begos

Roteiro: Joe Begos

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA

Duração: 80 minutos (1h20)

XXI Fantaspoa (Mostra Madrugadão)

 

Sinopse: Uma enxurrada de más notícias leva Jimmy, um cineasta decadente, a uma farra descontrolada, durante a qual ele afirma ter sido abduzido por alienígenas. Com medo de que eles voltem, ele entra em contato com seu velho amigo Stiggs, com quem havia brigado, para ajudá-lo a se preparar para a guerra. (Fonte: Fantaspoa - Adaptado)

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