XXI FANTASPOA | Isso Também Vai Passar, de Rob Grant (This Too Shall Pass, 2025)
- Henrique Debski
- há 7 dias
- 3 min de leitura
Reconhecendo o cinema de John Hughes como fruto de seu tempo, Rob Grant faz de Isso Também Vai Passar um tributo ao cineasta com o olhar do presente.

Entre os muitos cineastas que fizeram história e deixaram marcas no cinema norte-americano dos anos 1980, certamente John Hughes é um nome que sempre será mencionado. Suas comédias “coming of age” retratavam adolescentes aprendendo o sabor da vida, se rebelando contra o sistema ao seu entorno, se posicionando contrariamente aos adultos “quadrados” e quebrando regras para fazerem uso do livre-arbítrio de que tanto acreditavam, ainda que nunca o mencionassem expressamente, mas em espírito. Seu cinema ainda deixa fortes marcas nos dias atuais, e inspirou, de diferentes maneiras, gerações, o que se mantém até hoje, nos Estados Unidos e também no restante do mundo.
Como um fã assumido de John Hughes, Rob Grant transforma seu “coming of age” Isso Também Vai Passar em um grande tributo ao cineasta, citado nominalmente e referenciado verbalmente por diversas vezes pelos personagens, que utilizam seus filmes (como Curtindo a Vida Adoidado) como inspiração para a jornada de aventura que decidem ingressar. No entanto, ao olhar para trás, Grant reconhece o cinema de seu ídolo como fruto de um tempo pretérito, composto majoritariamente por histórias envolvendo jovens brancos e heterossexuais, protagonizados por homens e cujo tratamento das personagens femininas, subestimadas, normalmente miravam na futilidade.
Nessa esteira, o que Grant propõe é um revisionismo cinematográfico ao estilo de Hughes, hoje com muito mais liberdade nos discursos e na busca pela representatividade, inspirando-se em seu cinema para a construção de uma comédia sobre amadurecimento, e ao mesmo tempo um “road movie”, que abarca, com verossimilhança e naturalidade, os problemas e tensões de uma viagem de adolescentes com dezesseis anos ao Canadá, longe dos responsáveis – e sem a anuência destes -, como forma do protagonista, um jovem de família mórmon extremamente rígida e religiosa, aproveitar a vida por uma “última vez” antes de enfrentar as consequências de seu recente “comportamento rebelde”, aos olhos da família, que o querem imerso na igreja e concentrado apenas em sua fé.
Todo o pretexto para a realização da viagem é justamente bem trabalhado pela direção, que acompanha o protagonista, muito bem na pele de Maxwell Jenkins, em seu convívio familiar sufocante, entre o ambiente enclausurado da casa e a infelicidade do personagem diante das ações rígidas tomadas pelo pai, que tenta a todo custo controlar a vida do filho sem se importar com seus interesses, evidentemente mais preocupado em obedecer a D’us e com Ele manter uma boa relação do que buscar pela proximidade com a própria família.
Ao mesmo tempo, ainda que o filme adote um protagonista, justamente o motivador dessa viagem ao Canadá, todos os demais integrantes do grupo também têm suas problemáticas de vida trabalhadas pela narrativa, entre a abordagem do preconceito racial, da homofobia, e do próprio temor em se abrir, mesmo que para com os amigos, diante do medo de não ser aceito por uma sociedade naturalmente conservadora, como era na década de 1980, época em que se passa o filme.
Pouco a pouco, a medida em que se desenrola, a viagem aproxima os personagens, que já anteriormente amigos, tem seus laços fortalecidos na medida em que podem compreender quem verdadeiramente são – uns pela coragem em se abrir, outros pela própria jornada de autodescoberta.
Dessa forma, Isso Também Vai Passar olha para os anos 1980 com um gostinho de saudade, e mais ainda para John Hughes, que, ao mesmo tempo que o critica (com o devido respeito e compreensão à sua época), reaproveita das fórmulas de seus filmes para um “coming of age” contemporâneo, genuinamente divertido, com um talentoso elenco jovem e que leva os ideais do presente ao passado, através de um bem-vindo revisionismo cinematográfico.
Avaliação: 4/5
Isso Também Vai Passar (This Too Shall Pass, 2025)
Direção: Rob Grant
Roteiro: Rob Grant e Michael Simon Baker
Gênero: Comédia, Aventura
Origem: EUA, Canadá
Duração: 105 minutos (1h45)
XXI Fantaspoa (Mostra Especial)
Sinopse: No final dos anos 1980, Simon, um adolescente de 16 anos asfixiado por sua criação mórmon rígida se rebela e cruza a fronteira com os amigos para um fim de semana no Canadá, onde cada um deles descobrirá mais sobre si mesmo. (Fonte: Fantaspoa)
Comments