IX MORCE-GO VERMELHO | Entrevista com Felipe Hintze (ator) e João Fenerich (ator e produtor), do longa "Consequências Paralelas"
- Henrique Debski

- 4 de dez.
- 26 min de leitura
Felipe Hintze e João Fenerich contam sobre a produção de Consequências Paralelas, entre os desafios da composição de seus personagens, as dinâmicas do set, os reconhecimentos, em solo brasileiro e no estrangeiro, e planos para o futuro.

João Fenerich e Felipe Hintze em foto no set de Consequências Paralelas.
Nesta primeira entrevista do Cineolhar, realizada durante a cobertura do IX Festival MorceGO Vermelho, tive a oportunidade de conversar com Felipe Hintze, ator, e João Fenerich, ator e produtor, ambos parte da equipe de Consequências Paralelas, longa de ficção científica brasileiro que aborda viagem no tempo e realidades alternativas – tudo a partir de uma única sala, com três atores em frente à câmera, realizado de maneira independe, com baixo orçamento, e muita ambição, cujo resultado é impressionante – e muito divertido.
Com passagem por 19 festivais até o momento, nacionais e internacionais, Consequências Paralelas já acumulou mais de dezoito prêmios e vinte e uma indicações desde sua première, no 51th Boston Sci-fi Film Festival.
Entre suas passagens, assisti ao longa durante a cobertura do 16º Festival Cinefantasy, em São Paulo, e o reassisti na abertura do IX Festival MorceGO Vermelho, onde venceu o prêmio de melhor filme pelo público – crítica do filme aqui.
Então, vamos às entrevistas – e cabe avisar, HÁ SPOILERS DO FILME!
FELIPE HINTZE – Ator de Consequências Paralelas

HENRIQUE: Quando vocês filmaram e quanto tempo vocês levaram para filmar?
FELIPE: Tudo foi muito rápido. A gente filmou em sete dias. Mas antes a gente teve uma semana de preparação com o ator Vinícius de Oliveira, porque a gente tinha que acessar um sentimento muito difícil, e muitas vezes, né? Então nossa preparação foi muito intensa, mesmo. Além disso, eu tive uma semana com o João Fenerich, a Carol Macedo [atores], com o CD Vallada e o Gabriel França [diretores e roteiristas], para a gente entender o roteiro. A gente fez algumas leituras, e depois a mesa de discussão. Foram dias sentando e tendo um trabalho de mesa mesmo. É muito doido, né? É uma coisa que a gente vive muito no teatro, de pegar o texto e aprofundar dessa forma, e eu acho que esse filme merecia e precisava disso, porque a gente tinha que ter muito domínio na hora de fazer a cena do que estava acontecendo, eu tinha que entender muito de onde e para onde eu estava indo.
O Consequências Paralelas é um filme no qual você, como ator, e o seu personagem, Max, revivem várias vezes os mesmos momentos. Como é o sentimento de você reviver, com seu personagem, várias vezes o mesmo momento, voltando no tempo com a consciência do esgotamento e a noção do que pode acontecer se você seguir por determinado caminho? E como vocês filmaram – foi em ordem cronológica?
Quando a gente chegou e começou a preparação e as discussões, eu entendi que nossos personagens não poderiam estar na mesma cadência – afinal, se estivéssemos sempre muito alinhados dessa maneira, em todas as cenas, não seria interessante para o público e não estaríamos contando a história. Esse esgotamento mental que o personagem vai tendo no decorrer das realidades tinha que ser mostrado de uma forma muito clara para o público, para irem junto comigo em cada realidade, e entenderam que eu estava cada vez mais esgotado, desesperado. A gente tinha que ter uma construção.
E daí eu cheguei no primeiro dia, lá no set. Nós tivemos um dia off, porque era um sítio, no interior, um pouco longe de São Paulo. E seria um dia de conversa, para a gente entender como seria e tudo mais. Então me passaram o plano de filmagem, e eu fiquei assustado, porque a primeira coisa que a gente ia gravar eram as cenas com a arma, do João apontando a arma para mim (porque tínhamos um armeiro no set, e era algo super específico). Então eu falei “não tem como”. Porque se a gente não gravasse em ordem cronológica, não faria sentido para nós. Na sala de edição, não teria a mesma força das atuações, se a gente não estivesse contando essa história do começo ao fim.
Então eles [os diretores] entenderam, e concordaram em dar um jeito. Foi quando contrataram o armeiro para ficar todos os dias no set. Isso foi muito importante para a gente, porque a gente precisava construir isso cronologicamente, senão, na hora da edição, não ia ter esse crescente de tensão que tem no filme.
É aquela tensão da relação do personagem que se desgasta com as voltas no tempo para o checkpoint que ele criou. E da própria relação entre ele e os outros dois personagens que também estão em cena, tentando dar aquele jeito de não morrer e não matar ninguém.
Exatamente. E é muito doido isso. Porque ao mesmo tempo que o meu personagem, o Max, vai ficando, a cada realidade, mais esgotado, os outros, quando eu volto no checkpoint, estão iguais, pensando e fazendo a mesma coisa da primeira vez que eu volto no tempo.
Então foi um desafio muito grande para o João e para a Carol também. Porque cada vez que eu voltava diferente, isso batia de uma forma também diferente para eles, e daí eles conseguiam construir alguma coisa.
Acho que é o trabalho mais complexo que eu fiz no cinema, porque é muito difícil a gente ficar repetindo essas emoções constantemente.
E tem um determinado momento no filme em que você também acaba tendo que repetir algumas vezes a mesma situação. O que acontecia com a Carol e com o João acontecia também com você, nesse momento, de você ter que repetir a cena das mesmas maneiras.
Às vezes o personagem voltava e pensava: “eu vou repetir uma coisa que eu já fiz aqui, pra ver se desperta alguma coisa neles”. Tem uma hora que eu volto e eu falo a frase que o personagem do João ia falar, e ele assusta. A gente realmente precisou entrar nesse universo.
E por isso que é tão bom ter a parceria que eu tenho com o João. A gente é amigo há anos, e ter alguém que você confia no set é muito diferente. Porque eu sabia que eu poderia contar com ele, e ele sabia que poderia contar comigo. E a gente se conhece, então ele sabia quando eu estava esgotado, e eu sabia quando ele estava esgotado também. E nesse mergulho, de acreditar nessa realidade, se você não se aprofunda, as pessoas não compram. E a Carol entrou junto com a gente, de uma forma muito bela.
Então eu acho que a gente tem uma coisa especial, nesse filme, que é essa junção desses três atores.
A direção tem que estar muito presente nesse set, mas muito do trabalho vem igualmente de vocês e das suas atuações, do estar em frente à câmera, de como vocês reagem frente à situação dos personagens, do que estão vivendo, especialmente quando voltam no tempo. Como foi a relação entre vocês três, os diretores e a equipe no set?
É uma equipe de ouro. O Gabriel França e o CD Vallada são dois gênios. A criação da história é do CD, mas o roteiro os dois assinam juntos. Eles são uma dupla que se completa muito perfeitamente, tanto no roteiro quanto na direção.
Primeiro que eles deixam a gente muito confortável. Eles nos davam muita segurança, sempre tínhamos tudo o que precisávamos. Em vários momentos, naquele calor, a gente fazendo essas cenas tão complicadas, tínhamos que parar um pouco, tomar uma água, fazer uma pausa. E a parceria que eles tinham, e para conosco, fazia parecer que a gente já se conhecia há muito tempo. Por isso que a gente já tem mais três projetos juntos, com essa mesma equipe. Porque a gente se deu muito bem.
É muito difícil fazer um filme com baixo orçamento, e nos moldes que a gente teve. Então a gente precisava de pessoas que realmente acreditassem no projeto, a gente se abraçou de uma forma muito fraternal, e estamos continuando nessa trajetória. Tem bastante coisa ainda por vir com eles.
Vocês três tem mesmo uma química, como personagens e atores em cena muito grande. Realmente parece que os três se conhecem há muitos e muitos anos, deixa essa sensação. Desse mesmo triângulo amoroso que se constrói dentro do filme, e que talvez já fique bem claro para o espectador já logo na primeira cena. A gente sempre sabe que algo está para acontecer.
Exatamente. E assim, por mais que o meu personagem revela, mais para o meio do filme, que ele é apaixonado pela personagem da Carol, eu, como ator, tinha que deixar isso claro para o público logo no início, que ele tinha esse amor e carinho por ela. Acho que isso é o motor principal do meu personagem. Ele tem coragem de enfrentar esse amor que ele sente por ela, de ir para outras realidades. Então eu acho que isso foi muito importante. E a gente só conseguiu desenvolver isso porque nós três estávamos muito entregues para o filme.
E ao longo do filme o desgaste fica muito claro fisicamente. Os personagens o tempo inteiro suando. Quando que vocês gravaram esse filme – ou melhor, em qual época do ano? Como estava o set?
Era janeiro, um calor!
E era um porão mesmo?
Não era um porão. Engraçado, as pessoas falam que é um porão. Talvez seja porque as janelas estão fechadas, é de noite, e tem cortina. Então parece muito que é um porão. Mas na verdade era uma casinha, anexada a um sítio de um dos diretores, no interior.
Ele reformou a casinha para ser o set. A gente tinha um ar-condicionado, mas era um ar-condicionado portátil. E quando a gente gravava, tinha que desligar porque fazia muito barulho. Então realmente fazia muito calor. Isso era algo bom para o personagem, mas também era algo muito complexo para a continuidade, porque eu suava muito, justamente por conta do calor. E toda vez que eu voltava no meu checkpoint, eu tinha que estar com suor em que eu sentei no checkpoint. E eu ainda faço um segundo checkpoint, mais para frente, quando eu já estou mais suado. Então às vezes eu estava muito suado e tinha que secar o suor, e outras vezes eu estava muito seco e tinha que me molhar. E nisso, dependendo da realidade em que eu estava, mudava também a quantidade do suor. Então cada realidade tem o seu suor, o que também era uma preocupação.
Quando você estava nas leituras de roteiro, sentado à mesa, debatendo o projeto, quais foram as suas inspirações para compor esse personagem?
A minha dificuldade nesse processo foi entender as emoções do Max, e especialmente entender muito bem o roteiro. Eu precisava ter muita certeza da realidade da qual eu estava vindo e qual seria a próxima. Eu não podia me perder ali. Então nesse projeto específico, as minhas inspirações foram muito focadas no roteiro. Eu não fui pesquisar coisas fora, como eu geralmente faço. Às vezes eu pego muitos personagens e vou fazendo colagens de inspirações em um caderninho. Nesse filme, eu peguei o roteiro e eu fiquei desenhando no próprio roteiro. Eu não fiz uma coisa fora.
E eu acho que faz sentido, porque esse personagem tem algo tão introspectivo, que, se você for pensar, todas as realidades estão dentro da cabeça do Max. Tudo aconteceu dentro daquela cabeça. Então era tão profundo e tão pessoal que eu não podia ter muita coisa externa. Eu emprestei pouca coisa de fora.
Durante as filmagens, a gente se emocionava muito. Tinha momentos que a gente chegava a ficar seco, depois de tanto suar.
Dá até pra perceber também o nosso olhar, vermelho de tanto chorar, e a olheira, do cansaço de um dia inteiro de set.
Eu acho até que isso é algo legal que entrou para o filme, porque reflete o desgaste físico dos próprios personagens, para além do suor.
Isso vai ajudando a contar como está o psicológico deles, né?
Eu tenho muito orgulho desse filme. Quando eu li a primeira vez [o roteiro], eu sabia que a gente tinha uma preciosidade nas mãos e... E é isso. Hoje a gente acabou de receber a notícia que ganhamos um prêmio na Espanha, no CURTAS – Festival do Imaxinario (Melhor Filme Latino-Americano). Já são 14 prêmios [até o dia da entrevista, 02/11], e isso não é comum, especialmente para um filme independente, de primeira direção, e baixíssimo orçamento.
Eu queria que as pessoas divulgassem mais o que está acontecendo com nosso filme. Porque além de não ser comum, a gente está levando nosso filme brasileiro para fora, e lá fora a gente está sendo muito bem reconhecido e festejado. Eu recebo mensagens de pessoas que assistem o filme lá fora, e falam, “pô, que incrível”.
O mesmo também em relação às críticas que estão saindo. A gente já teve duas críticas incríveis. A sua [intervenho com “muito obrigado”], e a do Omelete. E todo mundo gostando muito do filme, entendendo a complexidade do roteiro, a dificuldade da direção em fazer tudo num lugar só, de maneira dinâmica, em uma única sala, que a gente não sai, como se fosse uma caixa.
Então realmente, acho que o que a gente fez ali é um trabalho que me orgulha muito.
Por fim, eu queria te fazer uma pergunta bem abstrata. Em determinado momento do filme, para começar o grande conflito, e revelar uma das reviravoltas, o personagem do João Fenerich, o Pedro, faz um checkpoint, e a partir de então, quando retoma a consciência, ele vê uma realidade completamente inesperada, principalmente quando se tem em mente aqueles primeiros 15 minutos, em que eles interagem entre si. Você, na composição do personagem, encarnando e dando vida ao Max, acha que seu personagem seria capaz de fazer aquilo que é dito que ele fez? Que seria uma realidade, de fato, do seu Max, ou não? É uma pergunta não sobre a história e a ideia do filme em si, que foi idealizada pelo CD, mas para você, Felipe, como quem deu vida ao personagem, e materializou a sua versão do Max. Porque a gente não sabe o que o Pedro viu, ou o Max que ele encontrou.
Eu acho que a natureza humana tem infinitas possibilidades mesmo. Eu, Felipe, tenho que defender o meu personagem. Mas eu não posso bloquear as possibilidades do que qualquer ser humano pode fazer. Eu não posso julgar ele. Então, se eu não der o mínimo de possibilidade, talvez o público não acredite no que o João fala. Então, eu tenho que minimamente mostrar alguma coisa de psicopatia ou de monstruosidade, porque senão eu não conto a história do filme. O público tem que ficar na dúvida. O público precisa poder acreditar no que o personagem do João fala que aconteceu, mesmo que ele possa estar mentindo. Na realidade do filme, no ponto de vista do Max, não aconteceu. Mas eu não sei o que é o Max na realidade do Pedro, da mesma forma que eu não sei o que é o Max na realidade da Bruna.
Ou do próprio Max da realidade do futuro mesmo, já que é uma coisa que acontece dois anos depois.
Quantas vezes você não conheceu uma pessoa, e depois você pensou “eu não acredito que essa pessoa foi capaz de fazer isso”. Então, se eu limitar o meu personagem, ele fica vazio, e vazio é a única coisa que eu não admito que qualquer personagem meu seja.
Então, eu acredito no que as pessoas são capazes. Olha o mundo que a gente vive. Eu não posso julgar, e eu não julgo o personagem. Eu vou defender ele da melhor forma possível. Se um personagem for escrito para mim, e eu tiver que fazer uma coisa muito absurda, eu não vou justificar também. Eu acho que isso é um grande erro também de algumas interpretações, de a todo tempo querer ou sentir a necessidade de justificar o vilão. Não, o vilão é mal, e ele é mal. Não é porque ele sofreu na infância, não é porque ele sempre tem um motivo de ser assim. Se ele escolheu fazer isso, ele é mal. Ele tem um desvio de caráter. Então, ele até pode ter seus motivos, mas vamos defender esse desvio de caráter. Ele fez, e temos de mostrar ele fazendo.
E é curioso que o Consequências Paralelas é um filme que não tem exatamente um herói ou um vilão estabelecido. O vilão é tanto o Max quanto o Pedro, a depender do ponto de vista. Ou a própria Bruna, na verdade.
Não existe mesmo. O que nós temos é a perspectiva do Max, a partir do momento em que ele se senta na poltrona e faz um checkpoint. Então, a partir daí, a gente vê a realidade dele. O resto, a gente não sabe, e o filme também não mostra. Por isso que o Consequências Paralelas gera tanta discussão, e as pessoas falam tanto do filme depois. Porque, justamente, você pode criar a sua própria realidade.
JOÃO FENERICH – Ator e produtor de Consequências Paralelas

HENRIQUE: Como foi, pra você, a composição do seu personagem? De onde você tirou as suas inspirações? Como você estudou para o compor? Porque o Pedro não é um personagem fácil, ele tem um dilema moral muito difícil para lidar.
JOÃO: Eu sempre faço dos meus trabalhos um trabalho muito individual, de pesquisa minha, com elementos. É uma característica muito pessoal, eu nunca falei sobre isso, mas sempre carrego e crio, para cada personagem meu, um objeto que ninguém sabe que ele tem. Já fiz em novela, e sempre carrego algo que eu acho que ajuda a compor o personagem, e esse objeto eu defino ao longo da minha pesquisa.
Com o Pedro não foi diferente, eu fiz isso, uma pesquisa de traço de personalidade dele, porque eu acho que, ao mesmo tempo, eu sou uma pessoa que o defende de toda maneira. Embora eu saiba dos problemas que ele tem – um homem super possessivo, machista, ultra protetor – eu comecei a fazer uma pesquisa desse traço de personalidade dele, e tentei fazer com que a preparação de elenco, que a gente fez com o Vinícius de Oliveira, me levasse a um lugar da exaustão para que eu chegasse às construções daquilo que eu tinha imaginado. Então isso foi o primeiro passo.
E eu tinha um objeto, que era um colar. O Pedro tem um colar que ninguém vê, que ninguém sabe que ele tem, um pingente específico, que me dava essa sensação de uma chave. E essa chavezinha, para mim, é a relação que o Pedro tem com a Bruna (Carol Macedo), uma relação fechada.
E acho que o que me ajudou muito também a construir o Pedro foi o jogo de cena entre [e com] os outros personagens, porque eu acho que a própria composição da Carol Macedo e do Felipe Hintze me ajudam de uma certa maneira, no próprio set.
Quando a gente estava lá, gravando, e principalmente no primeiro dia, acho que o personagem se assentou. Então é um pouco disso.
Como que foi o seu primeiro contato com o texto, com o roteiro, e o seu primeiro contato com o Pedro? Como que você imaginou e sentiu que era esse personagem, e como isso pode ter mudado ou não durante as leituras de roteiro, durante a preparação pro personagem, e mesmo para as filmagens?
Eu estava gravando uma novela, e já tinha trabalhado com Gabriel França [um dos diretores]. Um dia ele entrou em contato comigo e disse: “quero te chamar pra um projeto”. Eu respondi: “não quero nem saber o que é, eu tô dentro”. Mal sabia eu o que esperava, né?
E foi engraçado, eu demorei umas semanas pra ler o roteiro, porque eu estava atolado de trabalho. Mas no momento que eu li, eu liguei para ele e falei: “cara, eu quero fazer”.
E eu acho que, principalmente, eu quis muito fazer esse personagem porque amei esse roteiro. Eu achei maravilhoso. E eu vi ali que era um filme de atores. Eu vi que ele tinha me chamado para um projeto de ator. Um filme de três personagens em um cenário, uma hora e vinte, de três atores que teriam que segurar esse texto para contar essa história. E acho que isso me chamou muita atenção.
Quando eu li o personagem, eu sabia que ele tinha me chamado para o Pedro, que nem se chamava Pedro na época, ele se chamava Hans. E aí, até quando eu li, eu falei, “cara, eu acho que não tem nada a ver com o Hans, eu acho que a gente precisa trazer pra um lugar, pra uma narrativa nossa, brasileira”. E quando eu li, curiosamente, eu o achei mais agressivo na primeira leitura, e até na própria leitura de mesa que fizemos, eu o fiz um pouco mais agressivo. E aí eu não fui o moldando, tornando menos agressivo ao longo do processo. E a gente foi se entendendo, se apropriando um do outro, eu e o Pedro.
E o que eu acho que me chamou muita atenção, até porque eu o acho um personagem maravilhoso, é que, embora a gente esteja observando o filme pela perspectiva do Max, é o Pedro que tem o fio condutor de esticar essa corda o tempo inteiro. É ele que estica a corda até o momento de contar o que de fato está se passando no filme. E principalmente porque era algo que eu não tinha tido a oportunidade de fazer na televisão, no cinema e no audiovisual. Então eu falei, “é isso que eu quero fazer”. É um antagonista, ou protagonista, ou como quer que se chame. São três protagonistas, e três antagonistas ao mesmo tempo. Então, acho que por isso também que eu fui muito de cabeça. Eu quis ter a minha chance de mostrar o meu trabalho, o que é possível fazer para contar uma boa história.
Eu até conversei isso também com o Felipe, que na verdade o Consequências Paralelas é um filme que você não tem exatamente um herói nem exatamente um vilão – acho que você trabalhou essa ideia, agora, até melhor do que eu. Você tem três protagonistas e três antagonistas, um em relação ao outro dentro da própria história e perspectiva, porque, na verdade, os três são personagens com qualidades, mas especialmente muitos defeitos. Os três são muito complicados. Qual foi seu maior desafio nessa composição? O que mais te desafiou como ator e o que mais te desafiou dentro do projeto, para encarnar esse personagem?
Eu acho que o Pedro e o Max – e eu falo muito do Max porque eu acho que a gente (eu e o Felipe) trouxe junto uma mesma proposta, de uma energia muito alta. Então, eu acho que o que para mim foi muito desafiante artisticamente foi a manutenção dessa energia muito alta o tempo inteiro gravando – foram seis dias de filmagens, mas foram seis dias filmando das dez da manhã às seis da tarde.
E aí eu tinha um outro desafio, de que pelo estilo de ator que eu sou, se eu esfrio, ferrou. Então, eu me mantinha muito. A gente teve um processo super curioso e super divertido que era muito leve, ao mesmo tempo de que o filme é muito pesado. Os bastidores eram de muita leveza, é era até engraçado porque sempre os três atores estavam quietos, cada um no seu canto. Eu acho que cada um de nós sempre estava buscando pelas nossas individualidades, os nossos internos como personagens para manter essa energia. Cada um tem um tipo de processo. Eu tenho o meu processo, e estava sempre com meu fone, ouvindo uma música em loop.
Era uma música específica que eu ouvia o filme inteiro [nas filmagens], que é Nuvole Bianche, do [Ludovico] Einaudi. Eu só ouvia essa música. Ela me ajudava muito nessa crescente, e o desafio dos desafios era a manutenção dessa adrenalina, que tinha de estar a mil por hora o tempo inteiro.
E outra coisa muito curiosa, também um grande desafio, era estar com um dos meus melhores amigos em cena [Felipe Hintze] e ter que odiá-lo ad eternum. E algo até curioso dos bastidores é que como o meu personagem carrega uma arma o tempo inteiro, e a gente tinha um armeiro lá que fazia o trabalho todo da manutenção e tudo o mais, e eu morria de medo dessa arma, porque a todo momento eu estava apontando essa arma para a cara do meu melhor amigo de vida. Então é isso. Eu olhava, e eu dava tiro no chão. Tiro, tiro, tiro, tiro, tiro, tiro. Olhava [o tambor], não tem nada, não tem nada. É isso.
Mas com relação ao processo, eu não tenho muita dificuldade de entrar no processo, mas eu tenho dificuldade de sair do processo. A minha grande dificuldade nesse aspecto foi no pós-filmagens. Eu liguei pro Felipe, uma semana depois que a gente tinha terminado de gravar, e eu falei “amigo, eu não tô bem”. Aí ele falou “amigo, acho que eu também não”. Foi muita coisa, né?
Então agora eu aproveito, e puxo um gancho para sua atuação também dentro do filme, não só como ator, mas também como produtor, e a questão do armeiro, e da arma. Como era lidar com isso tudo? Porque era um espaço pequeno, tinha que ter um armeiro no set o tempo todo, e certamente a arma era de verdade. As balas na arma eram de festim, ou como vocês faziam?
A arma era sim de verdade, e não tinham balas de festim, nem nada, a gente tinha só a capsulazinha, o formato da capsula que era feito pela direção de arte, para ficar no chão depois, que eles colocavam, e até para ficar dentro da arma, para quando a gente desse um zoom muito grande na arma, parecesse que tinham as munições dentro dela.
Então os tiros – sons, efeitos etc. – foram todos inseridos na pós-produção?
Todos os tiros foram inseridos mesmo na pós-produção, não teve nada no set.
Os efeitos são muito bons, desde a luz, o som, o impacto, e até a questão do físico, do ferimento, o sangue, foi muito bacana de ver o cuidado que vocês tiveram.
É, a gente teve muito cuidado na verdade com isso, porque ainda que seja um filme de baixo orçamento, eu acho que a gente entrega uma estética, um profissionalismo que não se vê muito em filmes tão independentes como foi o nosso. Eu gosto muito da maneira como foi feito, e eu sempre falo com o Gabriel [França] e com o CD [Vallada], que são os diretores, que eu vejo o Consequências Paralelas como um filme de manufatura, em que a gente está aos poucos o tecendo. É meu primeiro como produtor, é o primeiro deles como diretores, e assim como a gente fez o filme acontecer, a “seis mãos”, assim foi no set, assim vai ser na distribuição, e acho que é sempre essa manufatura, um artesanato, a gente vai manuseando esse filme de alguma maneira.
Então, por exemplo, quando a gente vê o tiro na cara, no rosto da Carol, foi uma cena em que houve muito cuidado para isso, e os diretores potencializam as nossas entregas, pois quando a equipe de arte fez o tiro [a maquiou], não deixaram a gente ver antes. Nós só vimos o trabalho pronto quando estávamos rodando. Então, só quando a gente sai da briga e a gente vê a Carol [ou Bruna, a personagem] com o tiro na cabeça, a reação foi verdadeira. E acho que eu, vivendo Pedro, e o Max refletimos muito nesse momento – é uma das cenas que eu mais gosto do filme –, porque quando a gente a vê morta, e a gente joga a culpa um para o outro.
E sobre essa questão do armeiro, ele foi muito importante para as filmagens. Inicialmente ele não tinha todas as datas disponíveis, e por conta disso a gente tinha um plano de filmagem que não era cronológico [seriam filmadas primeiro todas as cenas que envolviam a arma]. Aí eu falei com o Gabriel, que estava cuidando dessa área, que precisávamos ter esse armeiro no set o tempo inteiro, porque a gente não conseguiria filmar fora de ordem. E eu acho que essa foi uma decisão muito importante, porque eu acho que para nossa construção [dos personagens], essa escada precisava ser subida degrau a degrau. E era o que a gente fazia. No primeiro dia, beleza, entregue o primeiro dia, a gente não teve uma tensão tão profunda, e aí acho que a cada dia a gente ia aprofundando.
Como que foi o desgaste para você como ator e para o seu personagem? Porque é uma jornada muito dura, um filme que praticamente se passa tempo real, uma hora e vinte minutos, mais ou menos, mas para vocês foi uma semana. E o personagem tem um desgaste físico e sobretudo emocional. E, com isso, já gostaria de juntar com uma outra pergunta: como foi para você repetir várias vezes a mesma cena? Porque em várias oportunidades o Max volta no tempo, para o checkpoint dele, e você precisa reagir da mesmíssima forma.
Sobre a primeira pergunta, como a nossa preparação foi em cima do desgaste físico, esse desgaste físico nos trouxe também o desgaste emocional, que eu acho que potencializava muito um ao outro, ao longo de uma semana. Como eu te falei, era uma escadinha que a gente ia subindo, e eu acho que esse desgaste emocional também ia por esse caminho. Eu acho que a cada dia que a gente fazia um bloco de cenas e chegava nesse lugar, a gente baixava um pouco a energia, e a gente ia escavando um pouco mais para chegar nisso. E eu sou um ator muito do método, então como o desgaste físico era algo que me funcionava muito bem todos os dias – o Felipe até brinca com isso –, eu acordava cedo (eles ficavam dormindo), a gente começava a maquiar às 10 horas da manhã, maquiava, comia e ia pro set. Mas eu acordava às 7, tomava um café, 8 horas estava eu, meu fone, a mesma música no repeat. Eu ia até o armeiro, pegava a arma e ficava sozinho, caminhando pelo lago – era um lago super bonito de bambus, que a gente tinha nesse espaço onde filmamos –. Eu pegava uns tocos de bambu e colocava nas costas, pegando peso para chegar já mais desgastado fisicamente. Eu fazia isso todos os dias, antes de filmar.
Sobre a segunda pergunta, eu acho que essas repetições são o ponto de partida do Pedro para a construção dele como personagem. Eu vou usar uma palavra que eu não quero usar, mas ela ficou de certa maneira ‘engessada’ nesse começo. Ele [Pedro] chegou numa forma que funcionava para mim, a gente começava a reagir a partir das mudanças que aconteciam em cada realidade, então a repetição em si, muito pelo contrário, eu não achava ruim. Eu tenho até uma pós-graduação que trabalha justamente a repetição, então é algo que eu já tenho de experiência, e ela me ajuda. Então eu acho que quando a gente encontrava em uma outra realidade um outro fator que saia da repetição é onde chama a atenção, de quem está repetindo, e te leva para um novo caminho.
E aí, passando também pela sua experiência, e como você disse, a sua primeira produção, como que foram os desafios de Consequências Paralelas para você como produtor? Porque é um filme com um baixo orçamento, mas muito cuidadoso e com evidente vontade de fazer cinema, de muita ambição artística e um verdadeiro primor – técnico, artístico, um set muito bonito, muito bem construído e até a própria a própria continuidade do filme (vocês têm a questão do suor, desse cansaço, que é muito bem trabalhado ao longo do filme). Como foram os seus desafios na pré-produção e na produção?
Eu acho que estou produzindo o filme desde o começo, mas creio que antes da gente rodar não tínhamos ainda entendido que eu era um dos produtores. Eu não entrei como produtor do filme logo no começo. Na verdade, quando o Gabriel [França] me chamou pela primeira vez para uma reunião, logo de cara eu estava produzindo sem ter esse título ainda. Então, quando a gente terminou de rodar, eles montaram o filme e apresentaram para a gente o primeiro corte, e fomos tentar editais de finalização, a gente foi barrado em dois editais. Eu falei, “cara, não dá pra esperar, tá aqui os contatos, vai atrás, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”, e eu cheguei com uma equipe de pós-produção do tipo, “vamos finalizar e tudo mais”. Aí, o Gabriel falou “cara, não é possível, você é um baita produtor, você tá trazendo todas as coisas – eu tinha colocado dinheiro, investimento e tudo mais –, e você tá produzindo desde o começo, então não tem porquê não te dar esse crédito”.
E eu acho que o grande desafio, por ser o nosso primeiro projeto, eu digo até de forma muito experimental, porque a gente está experimentando tudo, é encontrar o caminho que talvez seja o correto. E aí sem juízo de valor, mas encontrar o nosso caminho, encontrar qual é o momento certo de dar cada passo, de fazer isso, aquilo, de inscrever em um festival, de fazer a estratégia. Eu acho que esse primeiro filme é um excepcional cartão de visita, e o que eu mais acho é que é um filme que nos ensinou, agora olhando para trás, a entender qual é o nosso caminho, qual é o caminho de se fazer um filme, qual é o caminho de produzir, qual é o caminho de falar, saber soltar, quando a gente precisa soltar; saber apertar, quando a gente tem que apertar. Sobre não querer ter o controle de tudo, até porque também são poucas pessoas, a gente faz praticamente tudo nós três. Então é também sobre delegar certas funções, contratar certas pessoas que também são importantes, para fazer com que o filme também tenha a sua própria vida.
Eu acho que pode ser uma comparação maluca, até porque eu não sou pai, mas é algo parecido. Quando você é pai de uma primeira criança, nasce o filho, e tem um certo protecionismo com relação a isso. Aí eu acho que principalmente no segundo filho você já sabe como funciona, você já sabe que horas você vai acordar, como você vai fazer, e eu acho que é um pouco isso. Eu acho que o desafio grande foi entender, aprender a fazer, especialmente para três pessoas que nunca tinham feito. E o CD e o Gabriel são dois diretores estreantes maravilhosos, e um produtor também estreante, então são três produtores estreantes juntos. E, modéstia à parte, eu posso falar que a gente está com muitos sucessos, porque a gente hoje tem recebido o décimo quarto prêmio na Espanha [e já receberam mais alguns após essa entrevista], então eu acho que o desafio é esse. A gente juntou muita gente boa e que apostou muito no filme, que comprou essa ideia e que quis fazer, estar junto e quis somar. A gente tem uma base muito sólida, e essa base está encontrando o seu caminho no mundo – é a dor e a delícia de se fazer cinema.
Vocês estão fazendo uma rodagem muito boa do filme em festivais, nacionais e internacionais, e com muito reconhecimento. Quais que você diria que são os próximos passos para você, como produtor, a partir de agora, do MorceGO Vermelho, e dos próximos festivais?
A gente ainda tem alguns festivais para rodar, e o próximo passo com o Consequências Paralelas é encontrar uma distribuição. Primeiro conseguir uma distribuição nacional, e possivelmente também internacional, e depois uma distribuição ao streaming. Eu acho que isso seria muito bom para o filme. E nosso time (eu, Gabriel e CD) temos novos projetos na mesa. Nós já estamos falando com outras pessoas para os próximos projetos, - já temos dois que estão muito na marca do pênalti pra serem batidos e começar uma pré-produção, são ótimos, eu gosto muito.
Acho que esse sempre foi um desejo do João ator desde que eu comecei todo meu processo de estudar artes cênicas e meu processo de atuação. É engraçado que, na minha terapia, eu sempre falava que eu gostava muito, e tinha como referência atores produtores, ou atores de negócios, que tem negócios ou fazem negócios. Eu sempre falei muito do Bruno Gagliasso, um cara que eu gosto muito, e que eu sempre gostei muito – bom ator, que também produz e tem o negócio dele. Eu também fiz faculdade de administração, então eu tenho um pouco dessa veia.
E eu sou um ator produtor porque eu tenho histórias que gostaria de contar. Eu estou terminando de adaptar uma peça agora, que deve acontecer no ano que vem, na qual eu vou atuar, e vou produzir. E ainda tem um longa, que é uma história pessoal de família, minha, da qual eu já escrevi um curta, já tenho um projeto, mas quero transformar num longa - é um drama, dos mais pesados, que fala sobre a dor de uma ausência – dadas as proporções, em uma linha similar a de Ainda Estou Aqui, na mesma espinha dorsal, mas longe de mim fazer uma comparação direta assim.
Mas é isso, eu quero ser um ator que produz, eu quero ser um cara que soma, que joga junto, que entra nas produções para fazer acontecer. E o mais importante é que dado esse sucesso nos festivais, nacionais e internacionais, eu acho que existe uma certa síndrome de vira-lata no Brasil ainda, então nosso filme está fazendo um sucesso enorme no internacional, o que nos ajuda muitíssimo a chegar no Brasil com uma certa força maior, e as pessoas estão vendo. Hoje a gente postou que ganhamos esse prêmio na Espanha, e meu Instagram está do tipo “caraca, quero assistir, vocês não param de ganhar prêmio, e tudo mais”. Todo mundo vendo a gente ganhar prêmio lá fora, vai chegar aqui talvez mais forte.
E o que tem sido mais legal nisso tudo são os encontros. Eu sou apaixonado pelo acaso dos encontros, e esses festivais têm me apresentado pessoas muito incríveis – produtores, diretores, equipe, diretores de festival, membros da imprensa. São pessoas que amam muito o que elas fazem, e eu acho um tesão encontrar pessoas que, assim como eu abandonei a minha carreira quando eu tinha 22 anos para fazer teatro, que era uma coisa que eu amava, eu vejo aqui pessoas que amam o que fazem. Pessoas que amam o cinema de horror, que amam o cinema fantástico, que amam produzir, que amam o acontecer disso. E pessoas muito boas, que a gente vai levando para a vida. Tiveram pessoas que conhecemos no México, por exemplo, que já querem somar forças conosco para fazer um filme nos Estados Unidos; tem gente aqui que já falou para fazermos projetos juntos, que pode ser legal. Então todo esse movimento dos festivais tem sido maravilhoso para o filme, para toda a nossa estrada, e para a gente como seres humanos.
Eu acho que os festivais têm muito disso mesmo, dessa integração, desse contato. E vocês estão aqui com um filme maravilhoso, que eu não preciso dizer do quanto que eu gosto, que engaja o espectador. Eu mesmo já assisti duas vezes, e quero logo ver a terceira. E o Consequências Paralelas é um filme muito legal porque ele tem algo muito próprio do videogame, que é um “fator replay” – a cada vez que você assiste, algo novo ou diferente pode surgir. Serve para qualquer filme, na verdade, mas é muito forte aqui, tem mais impacto para entender a dinâmica entre os personagens.
Eu sou um defensor do roteiro do Consequências, mas principalmente porque acho que o que passamos ali é o que cada personagem de fato acredita. Todas as nossas conversas, e conversas com o público, sempre geram um debate do tipo “eu acho isso” ou “aquilo”. Eu acho que, justamente, todas essas hipóteses são reais. Porque o filme parte de uma regra, que é imposta, sobre o funcionamento da máquina do tempo. Mas nem nós sabemos qual é a veracidade dessa regra, e se essa regra de fato é um fato determinante para como as coisas funcionam ali. Então como nós, personagens, somos muito fiéis à regra de funcionamento da máquina, de todo esse desenrolar que acontece, e eu acho que todas essas opções de verdade, de cada personagem, são reais. E quando estamos nós três, atores, juntos, e principalmente quando estamos nós, Pedro e Max, eu sempre defendo o meu personagem, e o Felipe vai defender o Max, e acho que não tem um certo e errado. Não existe um juízo de valor entre os personagens.
Assim como não existem heróis ou vilões, são todos os heróis das próprias histórias, e os vilões das histórias dos outros.
Então, aproveito para te fazer uma última pergunta – que também fiz ao Felipe –, especialmente considerando que vocês não foram os roteiristas dessa história: você acha que, se ninguém tivesse usado a máquina do tempo, a relação entre o Pedro, a Bruna e o Max teria sido daquela forma como o Pedro viu; ou você acha que seria completamente diferente, entrando naquela linha do “não tem como saber”?
Eu acho que, se não tivéssemos usado a máquina, a gente estaria comendo o macarrãozinho a gorgonzola que o Max faria para a gente, dentro daquela cabana. E aí reticências (risos).



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