CRÍTICA | The Old Guard 2, de Victoria Mahoney (Idem, 2025)
- Henrique Debski
- há 6 dias
- 4 min de leitura
Em um desastre à franquia, The Old Guard 2 não só é um dos piores filmes do ano, como também uma das piores sequências do cinema.

Quando se fala em The Old Guard, a primeira lembrança que me vem a mente, antes mesmo do próprio filme, é do auge da pandemia, momento em que, presos em casa durante a quarentena, nos contentávamos e nos distraímos com os lançamentos da Netflix, produção essa que, acredito, não deve ter sido afetada pela calamidade, mas sim dela se beneficiado dela para se tornar um dos filmes mais assistidos da plataforma até então.
De toda maneira, não é sempre que nos deparamos com uma superprodução protagonizada pela talentosa Charlize Theron, e com outros tantos nomes chamativos no elenco, de Kiki Layne, Luca Marinelli e até mesmo Harry Melling no papel do antagonista. Ainda que não fosse um grande filme de ação – mas sim algo bem genérico e até esquecível -, o primeiro filme, ao introduzir seus personagens e universo, colocava para discussão, de maneira curiosa, a imortalidade, que não necessariamente um dom desejável por todos, mas responsável, a depender do ponto de vista, por dores e sofrimento. Mas com ele em mãos, o grupo posicionava seus objetivos coletivos a frente de si próprio, de forma a tentar usar do poder que lhes foi conferido, por alguma razão, para o bem da humanidade, manifestado através do interessante efeito cascata de que tanto falam.
O debate prometia se intensificar nesta sequência, com o retorno de uma personagem em busca de vingança por fatos passados que lhe custaram séculos de vida. O gancho tinha tudo para dar ainda mais espaço ao desenvolvimento do grupo – e especialmente da protagonista -, e aprofundar essa complexa filosofia que se encontra por detrás dos personagens e suas habilidades. Mas, desde o princípio, o sonho do longa em se tornar uma trilogia não só falha pela incompetência das mentes responsáveis pela produção, como, ao tentar expandir o universo sem um rumo determinado, e jogar mais imortais na equação, tornam esta sequencia em mais uma grande introdução para algo que promete vir, mas nunca chega.
Nas mãos de Greg Rucka (o autor da graphic novel adaptada) e Sarah L. Walker, o roteiro de The Old Guard 2 parece acrescentar à roda mais elementos do que consegue lidar. São as questões não resolvidas de Andy e Quynh; o historiador imortal Tuah e sua obsessão pela história e registro da imortalidade na Terra ao longo dos séculos; a relação de Joe e Nicky, e os medos de ficarem sozinhos depois de milênios juntos – um romance queer interessante, que já no primeiro filme colocava em xeque a questão de gênero para o amor, vale lembrar; a depressão de Booker; a misteriosa vilã e seu plano desconhecido; e a perda da imortalidade de Andy. Apesar de se conectarem, um filme de noventa minutos é simplesmente incapaz de lidar com tanta coisa sem se atrapalhar ou apenas pincelar ideias, largando todo o restante perdido no caminho, se esforçando, nitidamente sem sucesso, para equilibrar os elementos.
Isso faz com que a mitologia da imortalidade, talvez o cerne da narrativa, quiça deste universo, se é que realmente se deseja explora-lo, e supostamente o caminho desejado pelos realizadores à franquia, se desenvolva a partir da exposição, e, pior, das soluções milagrosas típicas de histórias que enfrentam uma crise criativa, como um caminho provisório colocado em um roteiro, em que a pessoa responsável nunca retornou para poli-lo. É o caso de determinado personagem pegar um livro aleatório, e mencionar uma “ação mágica”, com base em uma lenda sem qualquer fonte, que, não só conveniente ao seu interlocutor em cena, é responsável por praticamente resolver a problemática de todo o filme, e sobretudo de seu ato final.
Não apenas é um filme em que falta completa organicidade nas relações de causa e consequência, ao ponto de subestimar o espectador com a situação descrita acima, dentre tantas outras semelhantes, mas também falta direção por parte de Victoria Mahoney para encenar tudo diante da câmera. A vilã vivida por Uma Thurman, uma atriz talentosa, é um exemplo claro da falta de composição da personagem, que, se não bastasse aparições esporádicas, repletas de frases de efeito e sem dizer a que vem, suas feições caricatas e vilanescas evidentemente não combinam com a atmosfera dramática buscada pela obra, tornando-se completamente destoante em relação aos demais. O mesmo vale para uma reconciliação nos momentos finais, que mal valem uma linha de diálogo para já motivar uma união, e abrir espaço para a sequência.
E se talvez o primeiro filme pudesse trilhar caminhos genéricos, mas ainda se divertisse com a ação, aqui nem a porradaria e os tiroteios se salvam, enquanto Mohoney mais parece detestar o gênero do que efetivamente o abraça-lo. Sua câmera a todo momento se movimentando sem parar torna difícil a compreensão do que acontece em cena – isso quando não está mais preocupada em filmar o teto de um ambiente do que a luta que acontece abaixo dele, como acontece em determinada cena na reta final, de maneira inexplicável.
Dessa forma, The Old Guard 2 praticamente joga no lixo todo o estabelecimento que fizera no primeiro longa, mudando as regras do jogo no meio da partida, e até se contradizendo dentro do próprio universo – em relação a obra anterior e a si próprio. Às vezes, parece mais que Greg Rucka deseja sabotar seu universo, ou mal conhece de sua própria criação, em um significativo retrocesso ao que se havia feito na obra anterior e, pior, um filme que não tem final, enquanto deixa a resolução a cargo da sequência – bem ao estilo do que fez o último Velozes e Furiosos, só que sem a certeza, ainda, de que teremos uma continuação. É uma aula de cinema, sobre como não continuar uma história, em talvez uma das piores sequências do cinema, conduzidas pela mesma produtora, equipe e elenco.
Avaliação: 1/5
The Old Guard 2 (Idem, 2025)
Direção: Victoria Mahoney
Roteiro: Greg Rucka e Sarah L. Walker, adaptado de Greg Rucka (graphic novel)
Gênero: Ação, Thriller, Fantasia
Origem: EUA
Duração: 107 minutos (1h47)
Disponível: Netflix
Sinopse: Andy e sua equipe de guerreiros enfrentam uma nova e poderosa ameaça: uma imortal, há muitos anos desaparecida, presa no fundo do oceano, que retorna com sede de vingança.
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