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CRÍTICA | Covil de Ladrões 2, de Christian Gudegast (Den of Thieves: Pantera, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 31 de jan.
  • 4 min de leitura

Covil de Ladrões 2 abandona os melhores atributos de seu antecessor para tentar emplacar uma franquia de roubos absurdos.


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O lançamento de Covil de Ladrões me levou a uma agradável surpresa, pois antes deste filme ser anunciado, eu nem sequer sabia da existência do primeiro, lançado em 2018. Então, decidi conhecer a então franquia, e encontrei em Covil de Ladrões um thriller policial de ação bastante maduro, na medida em que se parece com uma versão mais investigativa do clássico Fogo contra Fogo, de Michael Mann (certamente um diretor que inspirou tanta a estética quanto a própria narrativa), enquanto também ancorado sob um duelo, mas muito mais interessado na investigação do jogo de gato e rato entre policia e ladrão do que efetivamente na ação, em tons bastante realistas e uma decupagem verdadeiramente tensa, ao longo de quase 140 minutos de duração (algo incomum para o gênero).

 

No entanto, uma luz vermelha me foi acendida, pois o desfecho de Covil de Ladrões não sugere, e muito menos deixa espaço, para uma sequencia no mesmo patamar capaz de trazer novamente os personagens de Gerard Butler e O'Shea Jackson Jr., ainda que pudéssemos confiar no fato de a mesma equipe estar por trás de ambos os projetos.

 

E o caso de Covil de Ladrões 2 é mais ou menos semelhante ao de Estômago 2, lançado no ano passado, na medida em que uma sequência assumidamente caça-níquel que não parece conseguir ou procurar manter o estilo do longa anterior, com uma continuidade – até pela ausência de espaço narrativo para tanto -, mas transformá-lo em algo que não o é. O resultado disso acaba, novamente, se assemelhando nas duas situações, quando o filme então concebido se torna praticamente uma paródia não intencional do anterior.

 

Pois aqui, acompanhamos a desconstrução da interessante figura de Big Nick do primeiro filme, uma pessoa problemática, alcoólatra, de abordagens truculentas, que não sabe lidar com a esposa e filhas, e adota estratégias questionáveis enquanto trabalha, sob o manto do “proteger e servir”, ainda que suas ações tragam bons resultados à segurança pública. É uma grande faca de dois gumes ao sistema público, que gera interessantes desdobramentos enquanto investiga e caça uma quadrilha de assaltantes de bancos depois de um roubo violento que vitima inúmeros policiais.

 

Acontece que toda essa persona, muito bem vivida pelo Gerald Butler, é abandonada nesta sequência, que o força a se aliar com seu maior inimigo – justamente o homem que conseguiu se esquivar de suas garras enquanto policial. Em um primeiro momento, a ideia de união, ainda que genérica, parece interessante, mas perde a verossimilhança quando não existe qualquer motivação de urgência que torna essa junção de forças crível, e menos ainda a facilidade com a qual a relação é criada. Tudo cai no colo do personagem nesse primeiro momento – onde está o bandido, como encontra-lo, e qual o seu próximo golpe.

 

De outro lado, pouco fica claro o que se passou em suas vidas nesses anos de hiato entre o filme e outro – visto que existe uma questão temporal. Já havia um plano em andamento, do qual acompanhamos desde o princípio, mais ou menos seguindo a mesma fórmula e estilo do anterior, e simplesmente Nick entra com o bote andando e decide participar do grande roubo. Alguns conflitos, nesse meio tempo, são estrategicamente criados para garantir ao filme um pouco de ação e uma tentativa de tensão, que o roteiro de Christian Gudegast parece nunca conseguir estabelecer enquanto tudo trilha por caminhos óbvios – o que só vai se confirmando ao longo da projeção.

 

Seus melhores momentos, então, se encontram na hora do roubo – aí sim onde a direção de Gudegast consegue replicar, ou ao menos se aproximar, do longa anterior, ainda que o fator “risco” aqui não dê sinal de vida, especialmente frente à inexistência de qualquer investigação ou atenção policial. Os contratempos são rapidamente resolvidos por soluções mirabolantes, que desafiam o realismo, a marca registrada do outro filme, e as longas perseguições pelas ruas do litoral francês parecem saídas de uma das comédias de ação de Guy Ritchie, assumidamente exageradas, ainda que tente vender uma ideia contrária.

 

Tudo para, como era de se esperar, a reviravolta provar a repetição da fórmula, sob outro prisma, mas sem a coragem suficiente para assumir as consequências, com uma segunda reviravolta que abre, a partir disso, um caminho fácil para mais filmes – e quem sabe ainda mais exagerados também.

 

Assim, é como se Covil de Ladrões 2 abandonasse seus melhores atributos, como a ação crua e realista, para investir na galhofa, e agora na construção de uma franquia que mira no absurdo e quem sabe até na megalomania. E ao contrário de John Wick, que passou por um processo semelhante, falta o elemento diferencial aqui, para individualiza-lo em meio a tantos filmes parecidos, que fazem o mesmo com mais estilo e originalidade, ainda que se tente vender Gerald Butler como a alma do negócio – e ele realmente está bem aqui, junto de O'Shea Jackson Jr. É aquilo: não ofende ninguém, mas também não ter vigor ou inspiração para manter o alto padrão do longa anterior, e nem para tentar uma mudança com personalidade, de forma a sair do óbvio. É só mais um filme de assalto mesmo.

 

Avaliação: 2.5/5

 

Covil de Ladrões 2 (Den of Thieves: Pantera, 2025)

Direção: Christian Gudegast

Roteiro: Christian Gudegast

Gênero: Thriller, Ação

Origem: EUA, Canadá, Espanha

Duração: 144 minutos (2h24)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Big Nick está na Europa à procura de Donnie, que se envolveu no perigoso negócio dos ladrões de diamantes e na famigerada máfia Pantera, quando estes planeiam um gigantesco assalto à maior bolsa de diamantes do mundo. (Fonte: TMDB)

 
 
 

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