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CRÍTICA | Anônimo 2, de Timo Tjahjanto (Nobody 2, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

Anônimo 2 faz comédia por meio da ação, e estabelece a violência como sua linguagem primordial, em um filme que expande o universo através da mesma fórmula.


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Lembro-me como se fosse ontem de minha empolgação para assistir a Anônimo. O ano era 2021, ainda época em que a escassez de bons longas era sentida. Algumas produções, paralisadas, em razão da pandemia, já estavam sendo retomadas, e algumas outras até mesmo já eram lançadas, mas ainda estávamos parcialmente presos dentro de casa, sem as duas doses da gloriosa vacina, e um tanto carentes de um filme de ação que, talvez, pudesse nos lembrar de John Wick.

 

Pois de maneira reversa, é mais ou menos essa a proposta de Anônimo. Se John Wick fora atacado em sua própria casa, tivera seu carro levado e seu cachorro assassinado enquanto tentava viver em paz, o protagonista da vez, Hutch Mansell, vivido por Bob Odenkirk, tem uma família saudável, e vai, sozinho, de encontro a um problema que sequer existiria se não fosse por sua raiva incontrolável.

 

Quase como uma paródia de John Wick, fazendo comédia a partir da violência e da brutalidade, Anônimo é um exercício divertido do roteirista Derek Kolstad sobre sua própria criação, invertendo as bases e construindo um personagem novo pautando-se no contrário.

 

Agora, quatro anos depois, o retorno de Mansell se dá seguindo pela mesma fórmula do primeiro longa, mas em novos cenários, físicos e familiares. Tendo por anos conseguido esconder seu passado e natureza dos filhos, agora eles não apenas sabem quem é, de verdade, seu pai, como são coniventes dessa onda de violência rotineira, enfrentando todos os tipos de criminosos em atenção aos objetivos de sua organização. Não é algo inserido diretamente no seio daquele núcleo familiar, mas que se manifesta pela agressividade do filho e da própria dinâmica mais crua de relações dentro da casa.

 

Esses efeitos colaterais são justamente o centro do longa, cujo conflito torna-se puro desdobramento da natureza violenta de Hutch, que acaba sendo passada diretamente para o filho. O que seria uma viagem de férias leve e divertida para todos aliviarem o estresse torna-se uma verdadeira confusão quando ambos se descontrolam diante de uma situação provocativa.

 

As cenas de ação, a partir disso, assim como quase toda a narrativa, são quase idênticas, seguindo estritamente um mesmo passo a passo, mudando o ambiente, e, claro, retrabalhando passagens para transformar o caos de Anônimo 2 em algo no formato “mais e maior”. Muito sentido faz, inclusive, a mudança de direção, agora assumida pelo indonésio Timo Tjahjanto, cuja ênfase se mantém na brutalidade – algo de Ilya Naishuller já muito bem estabelecera no primeiro longa -, mas agora construindo o próprio senso cômico a partir da violência, diminuindo aquele tom mais sério da primeira metade do longa anterior, e apostando em uma ação que se trabalha sob planos mais longos, menos cortes, e mais ênfase na coreografia, com retoques até mesmo circenses, típicos do cineasta e do próprio cinema de ação de seu país.

 

O que, por outro lado, não acompanha tão bem esse espírito do “mais e maior” é a construção da antagonista vivida por Sharon Stone, escanteada e quase esquecida em meio a curta duração do longa, que, diante da complexidade que se busca construir para o esquema criminoso, insere muitos personagens e níveis de poder sem que todos tenham, de fato, algum destaque maior. Ainda que a atriz se dedique à loucura da personagem, pouco a vemos agindo ou sendo efetivamente ameaçadora, tal como o vilão do primeiro filme, por exemplo. Sua distância do conflito, até mesmo hierárquica, afasta o senso de perigo que a mesma deveria manter, ainda que sua presença efetiva no ato final acabe justamente a desconstruindo, em uma solução divertida ao problema gerado pelo roteiro de Kolstad e Aaron Rabin.

 

E mesmo que ainda falte um pouco mais de espaço também para um diálogo maior da própria família, o que Anônimo 2 faz de melhor é transformar a violência em sua linguagem primordial. Mais do que conversar para solucionar problemas, o que os Mansell fazem de melhor, e torna tudo sempre mais cômico e divertido, é abraçar o conflito e a ação sempre como forma de solucioná-lo, quase sem pensar, o que dessa vez acontece em dose dupla, com pai e filho, o que leva a uma espiral de ainda mais caos e violência, onde todos acabam se machucando. No final, o uso da fórmula, e a maneira como a mesma é retrabalhada, sela uma identidade à franquia, agora ainda mais voltada à comédia, e com a violência assumindo um papel maior e primordial à família.

 

Avaliação: 4/5

 

Anônimo 2 (Nobody 2, 2025)

Direção: Timo Tjahjanto

Roteiro: Derek Kolstad e Aaron Rabin

Gênero: Ação, Comédia, Thriller

Origem: EUA

Duração: 89 minutos (1h29)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: O assassino workaholic Hutch Mansell leva sua família para férias na pequena cidade turística de Plummerville, onde fora uma vez com seu pai quando criança. No entanto, ele logo se vê na mira de um gerente de parque aquático, um xerife corrupto e uma chefona do crime sedenta por sangue.

 
 
 

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