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CRÍTICA | Capitão América: Admirável Mundo Novo, de Julius Onah (Captain America: Brave New World, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 18 de fev.
  • 4 min de leitura

Admirável Mundo Novo, que poderia significar a renovação do universo, apenas reforça a ladeira abaixo na qual vai o MCU.


 

A aparição do logotipo da Marvel em Capitão América: Admirável Mundo Novo, em um formato antigo, de slides analógicos, reascendeu uma pequena fagulha de esperança em um acerto neste universo cinematográfico que outrora fora tão potente, mas que hoje perde vertiginosamente a relevância a cada nova produção, seja em filme ou em série. A ideia de um thriller político envolvendo uma conspiração que ameaça diretamente o presidente dos Estados Unidos e a ordem vigente neste mundo pós-Ultimato parece promissora enquanto uma busca dos produtores por explorar novos ares, com os super-heróis, mas tentando se desvencilhar daquela fórmula batida que ninguém aguenta mais.

 

Por alguns momentos, eu realmente acreditei – ou fingi acreditar, afinal de contas -, que Kevin Feige entendeu que precisava mudar. Ledo engano. É notável, a partir de Admirável Mundo Novo, que os produtores ainda não entenderam nada, quando se utilizam dessa roupagem elegante de thriller político para dar origem a mais um filme de heróis, tão insosso quanto os anteriores dessas novas fases sem graça do universo, desnorteadas, onde muito se estabelece, mas não existe nenhum risco real, ou sequer a criação de um vínculo entre os personagens, e nós, espectadores.

 

Na verdade, creio que o talentoso cineasta Julius Onah (do excelente thriller Luce, de 2019), quando aceitou dirigir o projeto, tinha a crença de que poderia fazer algo diferente, se não fossem pelas inúmeras e intermináveis refilmagens, ordenadas pelo estúdio, que certamente desvirtuaram o propósito original do longa para algo cada vez mais genérico. Pois existe uma inspiração pela maneira como a investigação é conduzida – certamente o ponto alto do filme, com uma trilha que ajuda muito no clima de suspense, e constrói-se a promessa de uma ameaça real ao governo norte-americano e suas bases. Porém isso tudo, no terço inicial, fica perdido entre sequências de ação que parecem desesperadamente emular um clima de Era de Ultron ou Guerra Civil, sem a mesma empolgação, e diálogos exageradamente expositivos, ao ponto de soarem artificiais pelo excesso de didatismo, quando o mostrar, ao invés do falar, poderia tornar tudo mais interessante – quando não faz ambos.

 

Ao mesmo tempo, a relação entre o presidente Ross e o então novo Capitão América, Sam Wilson, parece baseada única e exclusivamente em uma promessa do futuro – o que esses filmes fazem de melhor -, mas sem articulações o suficiente para um vínculo conflitivo entre eles, ou sequer um verdadeiro debate acerca de suas diferenças, sobretudo tendo em consideração as divergências que tiveram no passado, se contentado apenas com suas posições antagônicas, e com a necessidade de precisarem trabalhar juntos.

 

Então, o desenrolar desse mistério, ao longo do tempo, parece oferecer soluções e passos cada vez mais convenientes, sempre nos momentos certos e decisivos, quando há uma necessidade de avançar a narrativa com mais velocidade e sem tanta atenção aos detalhes, justamente o ponto crucial da conspiração. As respostas caem no colo dos personagens, e as resoluções para os problemas criados soam, por vezes, mirabolantes até mesmo para um filme de super-heróis, a um ponto inverossímil.

 

Com a revelação dos vilões, torna-se notável que Admirável Mundo Novo escolhe antagonistas com os quais o personagem não parece ter verdadeiras chances de vencer, sendo necessário recorrer, no ato final, para milagres e falhas que impedem o protagonista de perder, ao invés de assumir o seu lado mais humano e falho, que poderia resultar em um drama pessoal interessante a Wilson, em complemento aos eventos de Falcão e o Soldado Invernal. O pior disso tudo é que a própria equipe de marketing, a certo ponto, acaba com parte de um mistério que o filme se esforça para construir, ao revelar boa parte dos minutos finais ostensivamente em todos os materiais promocionais.

 

O longa, então, deixa um gosto amargo. Há de se perceber o potencial de um projeto que anseia soar diferente, e se desprender das amarras de um estúdio desesperado para retomar o interesse do público em algo que não parece mais despertar relevância. As salas de cinema lotadas deram lugar, agora, a inúmeros assentos vazios, e pouca repercussão a um universo cinematográfico que se afunda cada vez mais sob o esgotamento de uma fórmula mágica que criou, e que já não mais surte efeitos. Admirável Mundo Novo é a prova escancarada desse desespero, até ao repetir momentos importantes do passado, como as tramas de Soldado Invernal e Guerra Civil, para tentar atrair novamente o interesse.

 

Claramente não funciona assim. Não oferece qualquer comentário relacionado à política de seu universo – ainda que tente se vender como um thriller político, soando superficial e isento em qualquer passo que toma nessa direção; assim como nem mesmo faz do novo Capitão América o verdadeiro protagonista (cujo título, por excelência, fica ao presidente Ross), fazendo dele apenas em um dos infinitos coadjuvantes desse filme que parece tentar reunir muita gente, mas sem dar espaço ou destaque à ninguém, ainda que Harrison Ford (substituindo William Hurt, que falecera em 2022), Shira Haas, Danny Ramirez, Carl Lumbly, Tim Blake Nelson (com uma excelente maquiagem) e Giancarlo Esposito (sempre desperdiçado) façam boas participações. E assim, o filme que poderia significar renovação apenas reforçou tudo o que afunda este universo atualmente, nos deixando cada vez mais descrentes de que algo diferente possa estar por vir – ao menos nos próximos tempos.

 

Avaliação: 2.5/5

 

Capitão América: Admirável Mundo Novo (Captain America: Brave New World, 2025)

Diretor: Julius Onah

Roteiro: Rob Edwards, Malcolm Spellman, Dalan Musson, Julius Onah e Peter Glanz

 Gênero: Ação, Thriller, Super-Heróis

Origem: EUA

Duração: 118 minutos (1h58)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: Sam Wilson, o novo Capitão América, se vê no meio de um incidente internacional e deve descobrir o motivo e quem está por trás de uma conspiração que ameaça as bases do governo norte-americano. (Fonte: IMDB - Adaptado)

 
 
 

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