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CRÍTICA | Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, de Matt Shakman (The Fantastic Four: First Steps, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 2 dias
  • 5 min de leitura

Em Primeiros Passos, o Quarteto Fantástico do MCU acerta na originalidade, em filme de heróis com espaço para drama, ação, humor e despretensão.



Depois de alguns filmes reiterando o desgaste sofrido pela Marvel em suas fórmulas infinitas, afastando o interesse do público com as mesmas histórias, personagens cada vez menos cativantes, e um grande empurrão para o “depois”, sempre tornando o presente uma eterna preparação para um futuro que nunca chega, parece que agora, em seus dois longas mais recentes, Kevin Feige encontrou, talvez “sem querer”, a solução para os problemas que enfrentava em seu MCU – e a resposta é bastante simples: chama-se criatividade.

 

Ainda que Thunderbolts* não tenha atingido os valores pretendidos na bilheteria, que ao fim deixou a desejar, muito provavelmente em virtude do fraco filme anterior do universo no ano, provou-se, por outro lado, um certo interesse maior do público em histórias que se arrisquem a ir além dos super-heróis, e explorem também suas vulnerabilidades. O mesmo recentemente aconteceu, a meras duas semanas atrás, com o excelente Superman de James Gunn, e, surpreendentemente, este Quarteto Fantástico: Primeiros Passos em muito dialoga com o primeiro filme do novo universo DC.

 

Tendo em vista que os personagens de Quarteto Fantástico já foram introduzidos ao público em ao menos duas oportunidades anteriores (uma nos anos 2000, com direito a dois longas; e outra no fiasco de 2015 – sem contar a obra de 1994 nunca lançada oficialmente), esta introdução do grupo ao MCU nos poupou de mais um filme de origem como tantos outros, oferecendo, em seus primeiros minutos, uma rápida – e divertida – apresentação dos fatos que ensejaram no surgimento do Quarteto, para, em seguida, caminhar para um mundo retro futurista, onde suas presenças não apenas já estão consolidadas, como são parte integrante, e diria que também fundamental, para a sociedade.

 

Pois este novo Quarteto Fantástico não se restringe a mais uma história de super-heróis, ao colocar a típica promessa de “salvar o universo” em segundo plano, e, quem sabe, como uma consequência, para, em um primeiro momento, realmente buscar pela impressão de humanidade ao grupo, e explorar a relevância dos personagens como pessoas, antes de seus poderes especiais.

 

Claro, toda essa proposta vem unida em um grande pacote único, enquanto, ao mesmo tempo que os membros do Quarteto conversam com a população, e apresentam papel ativo em entidades democráticas e políticas (como a própria ONU daquele universo), atuando como pacificadores sociais, também enfrentam criminosos e outras ameaças que circundam aquela cidade de Nova York.

 

A ameaça da vez, no entanto, representada por Galactus e a Surfista Prateada, vem como uma forma de colocar em jogo a reputação dos heróis, a partir de uma negociação de alto custo para manter a Terra longe de uma completa destruição. O que realmente importa para a direção de Matt Shakman não é a maneira pela qual se utilizarão dos próprios poderes, ou como vencerão o inimigo em uma luta, mas sim no poder da união, como uma família, para solucionar o problema, seja por meio de estratégias ou o estudo e trabalho com a tecnologia disponível.

 

Nesse sentido, a ficção científica se posiciona, durante a maior parte do tempo, como uma verdadeira protagonista na narrativa, através da qual os personagens investigam e buscam por soluções críveis, fundamentadas pelo próprio texto, com base no que tem disponível ao próprio alcance. Claro que o detalhamento, superficial, não se estende para além do necessário, ao ponto de não adentrar a muitas questões técnicas ou complexas, mas essa atenção do filme ajuda com que as respostas encontradas não se tornem uma espécie de “deus ex-machina”, e façam sentido dentro do contexto trabalhado – algo que, por exemplo, é uma grande preocupação do cinema de Christopher Nolan, cujo estilo, por vezes, respinga aqui. Além do mais, não é algo que se restringe apenas a viagens espaciais e o teletransporte, mas enxerga a linguística como uma ciência importante para a solução de conflitos através de uma comunicação eficiente, o que funciona muito bem na exploração da Surfista Prateada de Julia Garner, apesar do excesso de exposição, e de seu pouco tempo de tela, ainda mais para uma atriz tão talentosa.

 

Ao mesmo tempo que se preocupa com a tecnologia, o filme também busca atenção a quem com ela trabalha. Dessa forma, fica muito nítida a dinâmica de grupo estabelecida, na qual os protagonistas não apenas possuem suas próprias funções e personalidades, mas atuam juntos, como uma verdadeira família – e realmente, assim não deixam de ser. O elenco carismático, encabeçado por Pedro Pascal e Vanessa Kirby, junto de Joseph Quinn e Ebon Moss-Bachrach transparece com muita química essa sensação, sobretudo de acolhimento para com o público, em uma atmosfera densa pela seriedade do que precisam lidar, mas também leve como um filme de heróis voltado, não ironicamente, para a família.

 

A ambientação retro futurista, ao estilo anos 1950, e a predominância da cor azul, passa uma sensação de quadrinhos levados para a tela de cinema sob um ar despretensioso, sobretudo com o aproveitamento da ação a partir dos poderes dos personagens, sob a ótima trilha de Michael Giacchino, que ajuda a tornar os combates, e suas proporções, mais emocionantes. É uma maneira diferente, nova, de trabalhar com o Quarteto Fantástico, ao ponto de romper com a obviedade de tantos outros filmes de heróis, ainda mais quando já existem outras adaptações.

 

Por isso Quarteto Fantástico: Primeiros Passos se torna uma obra diferenciada. Ao buscar por um aspecto político e pessoal ao Quarteto Fantástico, como super-heróis humanos e também vulneráveis, sentimentais e afetados pela opinião pública de seus atos – algo já visto este ano em Thunderbolts* e Superman –, quebra-se aquela sensação de impenetráveis, e ainda que por menor seja o risco da narrativa, a dinâmica entre eles e o mundo em que se inserem vale mais do que enfrentar um grande vilão. É um filme mais preocupado com seus personagens (a família, a gravidez de Sue, e a oferta de Galactus) do que em performar ação propriamente, ainda que, quando se caminha para esse lado, resulte, também, em ótimas sequências de luta e combate em equipe. É um filme que talvez equilibre, com precisão, os melhores elementos de um filme de heróis familiar e despretensioso, da relevância temática, carisma, humor e boa ação. Saí do cinema com um sorriso no rosto, e satisfação no coração, o que vinha sendo difícil com a Marvel recentemente.

 

Avaliação: 4/5

 

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (The Fantastic Four: First Steps, 2025)

Direção: Matt Shakman

Roteiro: Josh Friedman, Eric Pearson, Jeff Kaplan, Ian Springer e Kat Wood

Gênero: Ação, Aventura, Thriller, Super-Heróis

Origem: EUA, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia

Duração: 115 minutos (1h55)

Disponível: Cinemas

 

Sinopse: Forçados a equilibrar seus papéis como heróis e a força dos laços familiares, o Quarteto Fantástico deve defender a Terra de um deus espacial voraz chamado Galactus e sua enigmática arauta, a Surfista Prateada. (Fonte: IMDB)

 
 
 

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