13º MOSTRA TIRADENTES SP | Prédio Vazio, de Rodrigo Aragão (Idem, 2025)
- Henrique Debski
- 21 de mar.
- 4 min de leitura
O Prédio Vazio de Rodrigo Aragão dá continuidade ao seu universo no espaço urbano, retrabalhando as inspirações com originalidade em prol de algo novo.

Dentro de um cinema brasileiro de terror bastante autoral, Rodrigo Aragão, em seu sétimo longa-metragem, se mostra disposto a buscar por novos rumos em Prédio Vazio, quando, pela primeira vez no universo que constrói desde 2008, abandona os campos rurais para rumar à cidade, a partir da claustrofobia de um antigo prédio de apartamentos na beira da praia de Guarapari, em uma jornada de resgate e reconexão mãe-filha em meio às almas que assombram o local. O mais interessante é que, para além de mais um capítulo nesta realidade tão vasta e de mitologia tão bem elaborada, o presente projeto é também um “filme-escola”, cuja equipe, predominantemente capixaba, é fruto de diversas oficinas coordenadas e ministradas pelo próprio diretor e outros profissionais.
Aos que já conhecem o cinema de Aragão, é fácil de se imaginar – e esperar - que a morte tem lugar cativo em seu novo projeto. Se em seu longa anterior, Cipriano (muito bem, nunca me esqueço, na pele de Renato Chocair) foi finalmente personificado como um grande antagonista a ser derrotado em algum momento do passado, é inegável que seus dedos ainda permaneçam, mesmo que de maneira velada, neste prédio vazio, no tempo presente (seu livro inclusive pode ser visto em cima de uma mesa, um claro indício de conexão com o universo), onde almas atormentadas se desesperam para alimentar-se de quem quer que apareça.
Na contramão de tantas obras que reproduzem descaradamente suas inspirações sem sequer buscar por algum traço autoral, se contentando apenas com ideias óbvias, Prédio Vazio, como uma “continuidade espiritual” do trabalho de José Mojica Marins, invoca o melhor do cinema de Dario Argento como forma de trabalhar a fantasia dentro de um ambiente tão comum e realista quanto um prédio malcuidado e praticamente abandonado. Não se trata de espelhar suas referências, mas delas extrair vigor para algo original.
Quando adentramos pela primeira vez junto ao Edifício Magdalena, somos confrontados com o estranhamento de um local aparentemente fétido, mofado, conforme descrito pelos personagens, e mais do que tudo, incomum pelo excesso em seu estilo. São os estranhos vitrais que refletem uma mistura de cores no saguão; um elevador vermelho; e andares cuja decoração nos transporta à década de 1970 em plenos tempos atuais num piscar de olhos, ao mesmo tempo que a claustrofobia de seus corredores apertados muito lembra do trabalho recente de Lee Cronin em Evil Dead Rise. É fácil perceber que algo ali não se encaixa direito, e que o verdadeiro perigo não necessariamente é fruto do mundo dos vivos, mas até onde as pessoas que frequentam aquele prédio estão seguras? Onde se encontra a verdadeira ameaça?
Aragão sabe dosar os mistérios mostrando todo o aspecto sobrenatural do Prédio Vazio desde os minutos iniciais. Onde muitos trabalhariam apenas construindo atmosfera para revelar as criaturas na reta final, o cineasta já trabalha com elas em frente às câmeras logo no princípio, quando se mostra muito mais interessado em investigar o ‘como’ e o ‘porquê’ do que efetivamente o ‘o que’.
Em contrapartida ao clima de terror, o diretor articula o arco investigativo sob uma pitada de comédia romântica, onde aproveita para subverter os arquétipos de seus protagonistas, brincando com as convenções do terror ao inverter os papeis das personalidades do casal, formado por Lorena Correa, a corajosa, em seu primeiro trabalho, e Caio Macedo, o medroso receoso, cujo senso de humor do personagem, em sua excelente composição, se soma, e não diminui, a apreensão que sentimos em relação ao que pode acontecer com eles.
É quando entra a misteriosa personagem vivida pela talentosa Gilda Nomacce, em um de seus melhores trabalhos, entra no jogo, enquanto, em sua personalidade duvidosa em relação às verdadeiras intenções, as quais o filme nos bombardeia de perguntas e verdadeiras dúvidas, propõe uma reconstrução que muito nos remete à uma das obras-primas de Argento, Prelúdio para Matar.
O resultado final de Prédio Vazio, então, surpreende pela forma como equilibra referências com originalidade, em meio a um interessante debate que se articula no entorno a respeito da maternidade e relações familiares, ainda que por vezes possa parecer expositivo demais, e a montagem quebre o ritmo em algumas das transições. Para fechar com chave de ouro, então, os efeitos, em sua enorme maioria práticos, uma das especialidades do diretor, dão ao filme um ar de vivacidade muitas vezes raro no cinema recente, em meio à brutalidade da violência e o desenvolvimento do próprio terror em um cenário inédito à carreira de Aragão.
Avaliação: 4/5
Prédio Vazio (Idem, 2025)
Direção: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Gênero: Terror, Thriller, Comédia
Origem: Brasil
Duração: 80 minutos (1h20)
13º Mostra Tiradentes SP
Sinopse: A jovem Luna parte em uma jornada a procura de sua mãe, desaparecida no último dia de Carnaval em Guarapari. Suas buscas a levam a um antigo edifício aparentemente vazio, mas habitado por almas atormentadas.
(Fonte: Mostra Tiradentes SP - Adaptado)
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