15º FESTIVAL CINEFANTASY | Asterrarium, de Armen H'Akopian e Dmitriy Tarkhov (Idem, 2023)
- Henrique Debski

- 5 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
A anarquia meteórica de “Asterrarium”.

Quando um astro ameaçava cair na Terra em “Não Olhe Para Cima”, Adam McKay explorou a fictícia tragédia iminente aos olhos do negacionismo, em uma sátira política repleta de críticas à sociedade em uma clara alusão à pandemia.
Com uma premissa semelhante, a dupla de cineastas russos Armen H'Akopian e Dmitriy Tarkhov aproveitam a chegada do cometa sob um prisma diferente. Ao invés de uma narrativa global, a sátira por eles proposta foca num microcosmo familiar situado no interior da Rússia.
Em meio ao iminente fim da humanidade, não é de se esperar que todos nos juntemos para dar-nos as mãos e cantar esperando pelo cometa. Ao contrário, em “Asterrarium”, sem esperanças de reverter a situação, o ser humano assume seu aspecto animalesco para lavar a roupa suja de anos, entre família e amigos.
Nesse cenário caótico, o trunfo é a imprevisibilidade. Armas na mesa, segredos à tona, conflitos mal resolvidos e o fim se aproximando levam todos a uma espiral de medo e desconfiança, enfrentados à cara e coragem, tendo em vista a inexistência do amanhã. Entre um momento e outro, uma pitada generosa de humor em dose ácida, quando não mesmo vem imerso no mar de caos.
Muito dessa atmosfera é bem reproduzida por uma câmera que durante boa parte do tempo está levemente inclinada, para um lado e para o outro. Quanto mais intenso fica o clima, mais incômoda se torna a fotografia, que transpassa a sensação da tela para os espectadores.
Essa abordagem concentrada em um ambiente específico e delimitado, que pouco se extravasa para o universo além, é o que nos prende à narrativa, da melhor forma. As fissões construídas, a cada momento, entre os personagens, são restauradas em um terceiro ato frenético que valoriza os laços familiares.
E tudo fica ainda melhor com o desfecho surpreendente, que gera um ar catártico ao espectador, e o convida a refletir após o encerramento da sessão, não apenas por isso, mas em relação a tudo o que foi visto até então, levando a experiência adiante da sala de cinema.
Avaliação: 4/5





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