15º FESTIVAL CINEFANTASY | Auxilio, de Tamae Garateguy (Idem, 2023)
- Henrique Debski

- 11 de dez. de 2023
- 2 min de leitura
Em Auxilio, a cineasta argentina Tamae Garateguy explora o terror a partir do profano, e de uma acentuada provocação à Igreja Católica.

Sempre crio admiração por quem, dentro de sua obra, consegue provocar o público de maneiras diferentes, nem que por isso precise romper barreiras religiosas. E dentro do gênero terror, a provocação é um elemento sempre presente, até mesmo para criar desconforto e buscar pelo medo do espectador.
A atmosfera pesada construída pela diretora argentina Tamae Garateguy em “Auxílio” é um terreno fértil para sua narrativa, que brinca com o conservadorismo do início do século passado, e o utiliza como forma de denúncia para nos situar (na figura de sua protagonista), em uma espécie de manicômio, administrado pela Igreja Católica, onde diversos abusos acontecem a todo tempo.
Mesmo sendo conhecidos por todos, os abusos acontecem a partir de dois polos que medem forças de maneira hierárquica dentro do convento, mas que fecham os olhos para os erros cometidos uns pelos outros.
Nesse ambiente de perigo, violência e tortura, que na prática funciona como uma prisão, as personagens precisam jogar com a única arma que possuem em seu favor para vencer aquele jogo perverso de poder. E essa arma é a possessão.
É nesse ponto que o filme se aproveita do que há de mais profano para lutar contra a tirania que domina o convento, e Garateguy evoca o desrespeito ao solo sagrado em momentos que envolvem tudo aquilo que a Igreja conservadora se posiciona de forma contrária. O melhor é a transformação de todos esses elementos em planos bem construídos que evocam a arte barroca (europeia), mas com o aspecto religioso violado pelo profano.
No entanto, os minutos finais perdem um pouco do impacto que a reviravolta narrativa guardada a tantas chaves traz ao espectador, na medida em que a revelação se dá de maneira direta e expositiva demais, cuja simplicidade não coaduna com toda a construção apresentada anteriormente.
O desfecho, por assim ser, não se torna insatisfatório, mas soa como algo inorgânico em meio a uma narrativa tão bem construída até ali. Ao menos, a cena final retoma a organicidade anterior à reviravolta, e encerra “Auxílio” com sarcasmo e satisfação.
Avaliação: 3.5/5





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