24º TRIBECA FILM FESTIVAL | Dead Language, de Oded Binnun e Mihal Brezis (Idem, 2025)
- Henrique Debski
- há 1 dia
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Dead Language explora os sentimentos da protagonista em meio às dúvidas sobre seu casamento, a partir de elementos fantasiosos que revelam a realidade.

Baseado no curta-metragem Aya, indicado ao Oscar em 2015 na categoria de melhor curta em live-action, a proposta da dupla de cineastas israelenses Oded Binnun e Mihal Brezis em Dead Language, seu segundo longa-metragem, foi de, partindo da mesma premissa, expandir a base para novas ideias.
Os primeiros minutos de Dead Language sugerem uma situação completamente fora do comum, até absurda a certa maneira, na qual a protagonista, ao esperar pelo marido no aeroporto, faz o favor de segurar uma placa a um motorista que precisava ir ao banheiro, e, com a chegada espontânea do passageiro, decide leva-lo, sem desmentir ou explicar até chegar à metade do caminho.
Tudo isso se desenrola nos primeiros quinze minutos da projeção. Em um mundo no qual incompreendemos as intenções alheias, tal situação constitui um notável risco para ambos. Aya, a protagonista, definitivamente sabe disso, que acaba sendo discutido ao desmentir e tentar explicar a cenário para o estranho estrangeiro sentado no banco do passageiro de seu carro, com quem, a medida que conversa, se apaixona.
Em pouco tempo, esse encontro fortuito, construído a partir do absurdo, evolui em direção a um romance, cuja correspondência soa estranha para ambos os personagens, na medida em que Aya não consegue compreender os próprios sentimentos, ou lidar com uma sensação de culpa em virtude de seus atos de infidelidade. A apresentação de seu marido, Aviad, e uma primeira interação entre eles, já demonstra claros indícios de um casamento estremecido, na forma de um descompasso de interesses, onde, de seu ponto de vista, sente-se deslocada e escanteada frente às pesquisas, congressos e o lançamento do livro de Aviad.
Se outrora se sentira culpada, a cada instante que passa com seu cônjuge o sentimento de libertação em procurar pelo estrangeiro cresce, como se talvez pudesse ser valorizada por outro, ou ao menos percebida. Mas é nisso que o filme surpreende, ao fugir da fórmula óbvia pela qual transitava, quando coloca o estrangeiro para o lado, e volta suas atenções aos sentimentos da protagonista, em uma reviravolta que a obriga a parar para refletir.
O que começara como um romance fantasioso pela situação inicial aos poucos vai assentando seu pé no chão. O absurdo ainda é um elemento intrínseco à narrativa, mas ajustado com base em novos parâmetros, em um segundo momento de reflexão sobre a vida em conjunto. A fotografia assinada por Guy Sahaf imprime os sentimentos de Aya na imagem, da frieza do apartamento onde mora ao próprio escritório onde trabalha, e do calor do hotel onde se encontra com outros homens, aleatórios, e questiona suas próprias decisões – e se o que sentia pelo estrangeiro era de fato amor, ou apenas um desejo de estar com alguém diferente.
Aos poucos, o que parecia um casamento fadado ao fracasso, em uma visão pessimista da personagem, logo começa a dar indícios de que nem tudo pode estar perdido, mas apenas descompassado, talvez pela falta de diálogo, ou até pelo marasmo da vida conjunta, parte dos altos e baixos da vida. Talvez haja um traço de injustiça em sua visão, de que o marido não seja necessariamente arrogante como parece, nem tão narcisista em relação a si ou a obra que escrevera. São elementos pontuais que soam provocativos, e soterram bons sentimentos que ainda podem estar vivos entre eles, algo que fica a cargo da interpretação do próprio espectador.
O excelente trabalho de Sarah Adler na pele de Aya é um combustível para que a narrativa de Dead Language siga com personalidade, e mais, vivacidade, enquanto, a partir de sua introspecção, e das constantes dúvidas expressas em seu rosto, podemos nos juntar a ela e em sua percepção da própria vida junto ao marido, e o suposto desejo de romance verdadeiro.
O desfecho, com um caráter otimista, e inventivo, voltado para o mistério, em uma sequência final que, de certa forma, resume a mensagem que o longa deseja passar, permite compreender a visão dos realizadores Oded Binnun e Mihal Brezis sobre toda a jornada da personagem, com a conclusão de um ciclo que deixa margens ao seguimento da vida. Ainda que nem sempre relacionamentos durem para sempre, se existem bons sentimentos, pode ser que não valha a pena desperdiça-los.
Avaliação: 4/5
Dead Language (Idem, 2025)
Direção: Oded Binnun e Mihal Brezis
Roteiro: Mihal Brezis, Oded Binnun, Tom Shoval e Amital Stern
Gênero: Drama, Romance
Origem: Israel, Polônia, República Checa
Duração: 110 minutos (1h50)
24º Tribeca Film Festival (Viewpoints)
Sinopse: Um encontro ao acaso leva Aya, que está esperando seu marido no aeroporto, a pegar um completo estranho em seu lugar. A sensação imediata de intimidade que surge entre os dois termina abruptamente quando o homem desaparece, deixando para Aya a chave do quarto de hotel e um anseio que talvez só um completo estranho possa satisfazer. (Fonte: Hook Publicity – Adaptado)
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