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24º TRIBECA FILM FESTIVAL | Holding Liat, de Brandon Kramer (Idem, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 21 de jun.
  • 4 min de leitura

Em Holding Liat, Brandon Kramer explora a complexidade do conflito envolvendo Israel e os terroristas do Hamas, sob os efeitos devastadores do dia 7 de outubro.


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O dia 7 de outubro de 2023 foi marcado como um dos momentos mais difíceis a Israel e seus residentes, com o registro de um dos dias mais violentos ao país desde sua fundação, em 1948. Enquanto Liat preparava a casa com seu marido, Aviv, para receber a família naquele sábado (shabbat), membros da organização terrorista Hamas invadiram o kibutz Nir Oz, onde moravam, e incendiaram estruturas, mataram pessoas, e sequestraram tantas outras, as levando para a faixa de Gaza, em lugar desconhecido. E entre as sequestradas, estavam Liat e Aviv, ambos de 49 anos.

 

A partir de uma perspectiva de incertezas e da declaração de guerra de Israel ao grupo Hamas, o cineasta Brandon Kramer acompanha e filma, com sua câmera, a família de Liat, desesperada por notícias ou quaisquer informações sobre seu paradeiro e estado de saúde. Em determinado momento do filme, numa reunião via Zoom, é dito por um familiar de outra pessoa sequestrada que a pior sensação, dentre toda a situação, é estar completamente no escuro acerca de seus entes queridos desaparecidos. Mais entristecedor do que a notícia de um falecimento é não ter sequer certeza de sua ocorrência, e guardar dentro de si uma esperança, talvez em vão, de que um dia poderão se reunir novamente. O não saber, nesses momentos, é infinitamente mais doloroso do que o saber – e isso, claramente, é proposital e parte da estratégia.

 

Com perseverança, os pais de Liat esperam ansiosamente por qualquer notícia. Em meio à tragédia que os assola, buscam forças na memória e tentam, a própria forma, movimentar o estado de Israel a aumentar a pressão pela libertação dos reféns – e o documentário apenas os fortalece. Ao retornarem, semanas depois, ao kibutz, a direção de Kramer enfatiza, com sua câmera, os resquícios dolorosos daquele dia impressos no local – é no olhar para as casas incendiadas e completamente destruídas; resquícios de sangue nas paredes; pias cheias de louça para lavar; armários e poltronas empoeiradas, com as portas escancaradas e, tudo, sem uma única pessoa por perto.

 

Por serem também cidadãos norte-americanos, o pai de Liat, juntos a outras famílias, vai para Washington DC para conversar com políticos norte-americanos, senadores e congressistas, a fim de também buscar ajuda para trazer a filha e o marido de volta. Homens se compadecem a situação do pai idoso, preocupado com a filha. Alguns o abraçam, outros com ele choram, ao lembrar do próprio passado, da situação vivida pelas próprias famílias, durante o Holocausto e da memória de identidade a que lhes foi passada.

 

Ao mesmo tempo, no entanto, o filme de Kramer enfatiza a complexidade de um conflito cujas origens remetem a séculos. Enquanto algumas pessoas efetivamente desejam buscar por ajuda e genuinamente se preocupam com os reféns, outros usam da situação para transformar em palanque político, explorar pensamentos que apenas fomentam a guerra, enquanto famílias, ao lado, choram preocupadas, sem dar ouvidos a propaganda.

 

É justamente o que pensa o pai de Liat, o qual, durante boa parte do tempo, assume o protagonismo do filme, esclarecendo que defender Israel não é sinônimo de defender Benjamin Netanyahu (Bibi, como o chamam), e suas decisões políticas. Tanto é assim que a própria obra demonstra certo conflito de ideias, claramente no calor de um momento delicado a família, quando nem todos apresentam a mesma opinião em relação ao primeiro-ministro.

 

É assim que Holding Liat busca trabalhar, de maneira abrangente, a complexidade de um conflito que está muito acima das rasas explicações e opiniões vazias de dirigentes políticos mundiais – muitos dos quais mal compreendem o conflito –, e da própria internet, onde todos sabem sobre tudo o tempo inteiro, sem dar espaço para o diálogo. Não é um filme que busca explicar fatos históricos – longe disso, não chega ao tema -, mas explorar, dentro de seu recorte, alguns pontos de vista diversos, enfatizando a brutalidade de uma organização terrorista, e, vagamente, seus interesses em impor seu regime sobre outros territórios.

 

No fim, chega a ser doloroso na maneira como habilmente o longa nos coloca diante de uma família em crise, e, sem precisar apelar para manipulações baratas, nos envolve na situação de constante dor e incerteza em que se encontram. É difícil não se colocar no lugar dos personagens em frente a câmera, e compadecer dessa dor.

 

Avaliação: 4.5/5

 

Holding Liat (Idem, 2025)

Direção: Brandon Kramer

Roteiro: Ra'anan Alexandrowicz, Carol Dysinger, Gordon Quinn (story consultant)

Gênero: Documentário

Origem: EUA

Duração: 97 minutos (1h37)

24º Tribeca Film Festival (Spotlight Documentary)

 

Sinopse: No dia 7 de outubro de 2023, durante um ataque do Hamas ao seu kibutz, a israelense-americana Liat Atzili foi sequestrada junto com outras 250 pessoas, das quais 12, como Liat, são cidadãs dos Estados Unidos. Começa então uma luta urgente e comovente de sua família por sua libertação, forçando seus membros a confrontar suas próprias incertezas e visões sobre o conflito enquanto buscam garantir o retorno seguro de Liat para casa. (Fonte: Tribeca Film Festival - Adaptado)

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