24º TRIBECA FILM FESTIVAL | On a String, de Isabel Hagen (Idem, 2025)
- Henrique Debski
- há 13 minutos
- 3 min de leitura
Na comédia dramática On a String, Isabel Hagen trabalha, sob traços autorreflexivos, com as incertezas da juventude nos caminhos da vida adulta.

Talvez um dos momentos mais difíceis da vida é o aceitar da chegada da fase adulta. Quando nascemos, passamos quase vinte anos em uma rotina extremamente parecida, de escola e estudo como a única obrigação. Mas quando fazemos nossos dezoito anos, e acabamos o ensino médio, estamos libertos das amarras escolares, e livres para fazer o que quisermos. Enquanto crianças e adolescentes, muitas vezes ansiando por essa liberdade, quando a conseguimos nos assustamos – o que fazer com ela? A faculdade, nesse caso, é uma forma de estender essa rotina durante alguns anos, e temos a oportunidade de compreender o que fazer com nosso tempo livre, focar em uma área específica, se encaixar no mercado de trabalho e por aí vai, como uma readaptação. Mas tudo tem prazo de validade, até que essa fase acaba, e aí, a vida começa de verdade.
Certamente essa introdução não resume toda, mas uma parcela das pessoas, cujas vidas seguem precisamente estes passos. Faço parte desse grupo – e sou muito agradecido por isso todos os dias -, e creio que a cineasta Isabel Hagen também faça parte, enquanto seu drama de estreia, On a String, apesar de ficcional, transmite um inconfundível ar de autorreferência sobre essa vida tão comum à juventude.
Em um momento difícil, sua protagonista, não coincidentemente chamada Isabel, se encontra perdida em meio a própria vida. Questionando suas escolhas profissionais – em se tornar uma musicista, e mais especificamente uma violinista de formação, diante de um mercado pequeno, saturado -; o desmoronar da vida amorosa, a dificuldade de encontrar efetivamente alguém sério com quem possa se relacionar; e mesmo uma falta de apoio da família, que, mesmo unida, não a oferece o suporte psicológico que precisa, a personagem percebe que precisará se colocar nos trilhos por conta própria.
O curioso é que, na contramão de um drama óbvio, o filme de Isabel Hagen passa longe de oferecer uma proposta resolutiva aos problemas enfrentados por sua protagonista, e tampouco também busca por soluções absurdas a essa rotina confusa neste momento da vida. Sua comédia tragicômica, na verdade, é um retrato cíclico que representa toda uma juventude, ao acompanhar apenas alguns dias da vida de Isabel, em uma jornada por seu mundo e rotina na procura de pessoas e afazeres a quem e a que possa de fato se dedicar, com as quais pode pensar sobre o futuro e confiar.
O humor se debruça justamente na inconveniência de toda essa jornada a qual adentra, sobretudo diante de pessoas que não a compreendem, ou apenas não a ajudam, ainda que sem intenção de atrapalhar, deixando-a mais confusa diante das próprias ações, como bem faz sua mãe ou o pai de sua aluna, casado, com quem flerta em algumas oportunidades. Ao mesmo tempo, seu núcleo familiar, na forma da própria residência, também não colabora, de maneira cômica, com o irmão, também musicista, sempre a questionando em suas escolhas, e mesmo o pai, bem vivido por Dylan Baker, professor de música, nem sempre acertando em seus conselhos, mas talvez sendo a única pessoa que de fato a ajude quando precisa.
Por outro lado, o quarteto musical do qual participa é palco inclusive de bons comentários metalinguísticos na forma do próprio humor, quando parte de seus integrantes questiona o fato de serem escanteados, quando de fato a câmera, ao longo da narrativa, nunca direciona para eles o foco ou sequer alguma oportunidade de dizerem alguma coisa.
Dessa maneira, toda a composição dos planos, dentro desse formalismo de Hagen, tem algo a dizer em relação a si, enquanto autora, e à própria vida, sua e da personagem, como ciclos que se repetem constantemente, fruto do momento específico no qual mudanças são necessárias, e que aos poucos, durante a narrativa, vai se quebrando enquanto ela parece direcionar-se para encontrar um caminho, ao final de contas. Acaba que é um filme sobre aceitar a vida, planejar os próximos passos, ter paciência, e se ajustar, das oportunidades se fazendo o melhor possível – como sempre fala minha mãe, “fazer do limão a limonada”, e não focar nos problemas, mas sim nas soluções.
Avaliação: 4/5
On a String (Idem, 2025)
Direção: Isabel Hagen
Roteiro: Isabel Hagen
Gênero: Drama, Comédia
Origem: EUA
Duração: 78 minutos (1h18)
24º Tribeca Film Festival (US Narrative Competition)
Sinopse: A vida depois da faculdade sempre foi tão arrastada assim? Isabel é uma jovem violista formada pela Juilliard, ainda morando com os pais no coração de Nova York. Ela tenta ganhar a vida tocando em apresentações com amigos. Mas tudo muda quando seu ex-namorado ressurge, e, ele a informa sobre uma vaga para violino em uma prestigiada orquestra. (Fonte: Tribeca Film Festival - Adaptado)
Comments