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29º FANTASIA FILM FESTIVAL | Blazing Fists, de Takashi Miike (Blue Fight, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 6 de ago.
  • 3 min de leitura

Blazing Fists pode até ser um filme mais contido para o padrão de Takashi Miike, mas imprime seu estilo na ação fantasiosa e ao brincar com a causalidade e o destino.


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Com inspiração na vida do lutador japonês de MMA Mikuru Asakura, em Blazing Fists Takashi Miike novamente explora uma habilidade comum à sua filmografia, enquanto mescla gêneros e estilos de cinema diferentes em prol de uma narrativa multifacetada, de um drama prisional a um thriller esportivo, e de um coming of age a uma história sobre gangues de rua comandadas por adolescentes e disputas de território.

 

A improvável amizade entre os dois protagonistas, Yagura Ikuto e Ryoma Akai, no estabelecimento de detenção juvenil para adolescentes infratores, funciona como um sopro do destino em suas vidas rumo a solução daquilo que lhes deu errado. É se agarrando em um sonho, e juntando forças, que buscam pela resolução da própria miséria pessoal aprendendo a lutar e rumando ao estrelato como lutadores profissionais de MMA.

 

Apesar de, em sua base, parecer uma daquelas típicas histórias de superação, as quais se vê com muita frequência em especial no cinema norte-americano, o enfrentamento às adversidades em Blazing Fists, no entanto, se faz de maneira diferente, pouco através do diálogo, e muito através das próprias mãos e dos próprios punhos. A medida em que a narrativa avança, vamos conhecendo os motivos que levaram os personagens à “detenção”, ao mesmo tempo em que as pessoas responsáveis também acabam aparecendo.

 

Enquanto sozinhos talvez cometessem os mesmos erros, a amizade estabelecida entre Yagura e Ryoma funciona como uma dupla-alavanca, na medida em que impulsionam um ao outro, e resolvem, juntos, os problemas, que acabam, na prática, envolvendo as mesmas pessoas.

 

Com uma boa dose de inspiração em animes, mangás e até videogames, ainda que com um pequeno recorte temporal, o longa trabalha a evolução dos personagens através da prática com aquilo que treinam ativamente, entre vitórias e derrotas, sobretudo explorando o potencial a partir do ódio internalizado dentro de si, convertido no esporte, através da luta.

 

Essa trajetória, ainda que estabeleça antagonistas e conflitos entre os personagens, não se contenta com a unilateralidade de suas motivações, e ao invés de construir um universo maniqueísta, se aproxima da realidade ao compreender o ser humano como uma espécie de animal maleável. É seguindo por essa linha que o roteiro de Shin Kibayashi também trabalha com a bússola moral que guia seus protagonistas, assumindo-os como heróis falhos e vulneráveis, capazes de ajudar até mesmo um “inimigo” quando precisa de ajuda.

 

Toda essa “mirabolância” funciona muito bem enquanto o texto se aproveita de uma artificialidade para brincar com a causalidade e as relações de causa e consequências entre as atitudes tomadas pelos personagens, seguindo a risca um estilo muito similar a de um anime ou mangá, dos quais Miike já dirigiu inúmeras adaptações, e aqui, inclusive, contando com um elenco talentoso, encabeçado pelos jovens Danhi Kinoshita e Kaname Yoshizawa, que não apenas se aproveita do carisma deles, mas também os filma transbordando uma interessante tensão sexual, que se alia muito bem ao contexto geral. Ainda assim, eventualmente o roteiro ainda se perde dentro daquilo que constrói, pelo excesso de situações e de relações, que talvez o orçamento não permitisse ir para além de certo ponto – a última luta no ringue, por exemplo, decepciona um pouco pela forma abrupta com a qual se encerra –, o que geralmente não costuma comprometer o cineasta, que sempre encontra soluções criativas (vide o trecho em animação de First Love, como um bom exemplo).

 

Dessa forma, Blazing Fists, mesmo sendo um dos longas mais contidos de Takashi Miike que assisti até o momento, ainda transborda seu estilo de cinema característico, pela inspiração na fantasia, brutalidade na ação e em suas coreografias, e especialmente pelo humor peculiar com o qual conduz suas histórias. Uma das grandes felicidades, e surpresas, em cobrir esta edição do Fantasia, e ter a possibilidade de assistir um dos filmes que mais ansiava no ano.

 

Avaliação: 4/5

 

Blazing Fists (Blue Fight / 蒼き若者たちのブレイキングダウン, 2025)

Direção: Takashi Miike

Roteiro: Shin Kibayashi

Gênero: Ação, Thriller, Drama

Origem: Japão

Duração: 120 minutos (2h00)

29º Fantasia Film Festival (Selection 2025)

 

Sinopse: Ikuto e Ryoma se conhecem na detenção juvenil e se tornam melhores amigos. Eles perseguem o sonho de participar do evento de artes marciais Breaking Down, mas rivalidades com pessoas do passado logo transformam os sonhos em conflitos ainda mais complexos e inesperados.

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