29º FANTASIA FILM FESTIVAL | Hi-Five, de Kang Hyung-chul (Haipaibeu, 2025)
- Henrique Debski

- 13 de ago.
- 3 min de leitura
Hi-Five não reinventa os filmes de heróis, mas tira o foco dos Estados Unidos, e com sucesso readapta à fórmula para se adequar ao estilo sul-coreano.

Na esteira da popularização dos filmes de heróis, todos já quiseram construir o próprio universo. Acontece que a mera replicação de fórmulas prontas deu resultados até certo ponto, e é evidente um esgotamento natural no gênero, o que se reflete diretamente nas recentes produções da Marvel e da DC – esta última que até deu início a uma completa reestruturação agora com o novo Superman.
Se aproveitando do cansaço desse desinteressado cinema norte-americano que agora procura a todo custo se reinventar, Hi-Five pegou carona nas fórmulas para a construção de algo bastante próprio. Ainda que passe longe de um filme de super-heróis completamente original, seu destaque está direcionado para dois pontos interessantes: em primeiro, trata-se de uma superprodução sul-coreana consciente da proposta e limitação orçamentária que, adotando um estilo bem definido de ação e comédia bastante alinhados aos interesses do público local, pode, seguindo por um bom caminho e fazendo boas escolhas em sua possível expansão, ser uma interessante concorrência à hegemonia do cinema de heróis norte-americano (algo que a Rússia até já tentou com Os Guardiões, mas fazendo as escolhas erradas); e segundo, mais importante, direcionando seu verdadeiro interesse não na ação propriamente, mas sim nos personagens, e naquilo que fazem diante dos superpoderes que tem em mãos.
Se por um lado existe uma evidente inspiração nos quadrinhos, filmes e séries protagonizados por um grupo de heróis, o drama pessoal de cada um aqui toma as verdadeiras rédeas da narrativa, enquanto a existência de uma ameaça proporcionada por um vilão atua como forma de se abrirem em relação às próprias feridas e fragilidades uns para com os outros na construção de um laço para viverem como uma família. É assim que o longa aproveita para trabalhar com a personalidade de cada um dos integrantes, e uni-los através do rompimento, da desunião e do trauma, fazendo com que cada um compreenda sua função dentro do grupo, e sua importância em relação aos outros – não à toa, e creio ser o melhor elemento do filme, cada personagem recebe um poder relacionado aos próprios defeitos, ligados ao próprio passado, para reconhecê-los, e tornarem-se uma pessoa melhor e mais resolvida consigo.
Ao mesmo tempo, o vilão também atua na lógica da equipe, mas de forma reversa. Não se trata de uma pessoa cuja vida roda entorno de feridas não cicatrizadas, mas sim de um homem idoso, rico e prestes a morrer, que sonha com a vida eterna e ainda mais poder do que já possui, como líder religioso, e suposto realizador de milagres.
A partir disso, a mitologia por trás dos poderes acaba sendo pouco explorada pelo texto, seguindo até uma dinâmica que se assemelha muito ao The Old Guard, adaptado pela Netflix em 2020. Acontece que esse desinteresse pela mitologia, que a torna pouco delineada, por outro lado, abre uma possibilidade perigosa ao roteiro de criar a todo tempo “deuses ex-machina”, quando não sabe como progredir ou resolver uma situação, o que, não ironicamente, acaba por acontecer mais de uma vez ao longo da batalha final, na medida em que não sabemos exatamente como funciona a fantasia naquele universo, dando ao filme completa liberdade para manipular suas regras conforme suas necessidades.
A ação, pelas mãos do diretor, e idealizador da obra Kang Hyung-chul, enquanto um filme de heróis, mesmo que secundarizada, encontra uma boa forma de contornar suas limitações orçamentárias assumindo uma estética artificial e típica de quadrinhos, com efeitos visuais artificiais, que se amolda, no entanto, ao aspecto cômico, e com autoconsciência, brinca até mesmo com a metalinguagem.
Dessa maneira, Hi-Five não reinventa o gênero, e nem propõe grandes novidades, mas opera muito bem dentro do universo que constrói, tirando o foco dos Estados Unidos, e trabalhando sob as bases da cultura e do próprio cinema sul-coreano, em seu estilo de fazer comédia e filmar ação. Com os personagens já estabelecidos, há grandes possibilidades para sequências, capazes de, agora sim, explorar a mitologia dos poderes, e buscar por ameaças mais complexas. Já fico ansioso para saber o que pode vir a seguir.
Avaliação: 3.5/5
Hi-Five (Haipaibeu, 2025)
Direção: Kang Hyung-chul
Roteiro: Kang Hyung-chul
Gênero: Ação, Comédia, Super-Heróis
Origem: Coréia do Sul
Duração: 119 minutos (1h59)
29º Fantasia Film Festival (Selection 2025)
Sinopse: Cinco indivíduos comuns ganham superpoderes após receberem transplantes de uma mesma pessoa, e precisam enfrentar um líder religioso charlatão que, da mesma maneira, também recebeu poderes, e deseja “roubá-los” dos demais para se tornar o homem mais poderoso do mundo. (Fonte: IMDB - Adaptado)





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