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29º FANTASIA FILM FESTIVAL | Hold The Fort, de William Bagley (Idem, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 21 de jul.
  • 4 min de leitura

Ainda que tenha dificuldades em construir seus personagens, Hold The Fort encontra personalidade na comédia e na ação.


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Desde seu prólogo, que se passa alguns anos antes do início da narrativa central, Hold the Fort não tenta esconder os indícios da ameaça que está por detrás daquele terreno localizado no interior de algum estado norte-americano. O mais cômico é que, mesmo diante das consequências daquela noite, da qual apenas vemos uma senhora idosa suja de sangue, a área chegou a ser vendida e, sobre ela, construído um grande condomínio de casas, ao maior estilo “american way of life”. É quando conhecemos o casal de protagonistas, que acabara de se mudar para a região.

 

Pouco depois, o filme já vai direto ao ponto onde deseja chegar: tanto nós espectadores quanto seus personagens estão diante de uma clara situação de “tower defense”, que, do universo dos games, trata-se de um estilo de jogo no qual o objetivo do jogador é segurar a posição e impedir que sua área seja atacada. Curiosamente, inclusive, já não é o primeiro filme do estilo que vemos neste ano, já que Scott Derickson também se aproveitou do conceito para o excelente Entre Montanhas, ainda que sob enfoques e propostas completamente diferentes.

 

Em um primeiro momento, é difícil de levar a sério essa ideia quando o síndico do condomínio, ao reunir os moradores, faz uma bizarra exposição tratando sobre bruxas, fantasmas, magia e ameaças estranhas. É algo que, não apenas fora do comum, e muitas vezes se faz parecer um culto, beira uma jogatina de RPG ou algo puramente fictício. Mas, como é de se imaginar, é a realidade do local.

 

Quando os ataques tem início, ao maior estilo Plants vs. Zombies (um clássico exemplo de “tower defense”, por sinal), e criaturas de outro mundo tentam atacar os moradores das mais variadas formas, a direção de William Bagley prova consciência e conhecimento na maneira de conduzir a ação diante da câmera, que, alinhado ao seu excelente timing cômico, brinca com os movimentos corporais e os mescla aos sentimentos de medo e apreensão daqueles em cena em lutas propositalmente atrapalhadas, em razão da falta de hábito e habilidade dos personagens, pessoas comuns que anualmente se reúnem para defender o próprio condomínio. No entanto, apesar disso, as coreografias possuem uma elegância, na forma como destacam o desespero e a vontade de sobreviver, na defesa do próprio patrimônio.

 

No entanto, enquanto a ação pode soar divertida, pela criatividade das criaturas e até pela forma como se demonstra autoconsciência em relação as limitações orçamentárias, convertidas em um charme típico de bons filmes B, e até pela preocupação em explicar as razões para o governo ou a polícia não intervirem no caos, a ausência de profundidade na construção dos personagens afasta a completa imersão do espectador em relação a narrativa. Ainda que sejam apenas pessoas comuns – e o filme enfatiza muito esse fato -, a dinâmica do casal protagonista praticamente não funciona, na medida em que não apenas os atores não aparentam uma química entre si, como suas diferenças de personalidade, mal aprofundadas, não transbordam o amor que o roteiro tanto precisa para justificar os sacrifícios realizados. Não apenas isso, como talvez o casal coadjuvante tenha mais personalidade do que os próprios protagonistas, enquanto possuem características bem definidas (seja pela produção de moonshine da mulher, ou pelo aspecto irritadiço e passivo-agressivo do homem), e acabam por protagonizar os momentos mais emotivos, ao ponto de torcer mais por eles do que pelos principais.

 

Com isso, todo o clímax do filme acaba prejudicado em razão de protagonistas pouco interessantes, além de uma resolução que, fácil e curta demais, parece evitar um confronto final, momento esperado para um filme que se aproveita tanto de elementos extraídos dos games. Mesmo que o final acabe sendo divertido em razão do exagero e do absurdo, decepciona seu aspecto abrupto, incapaz de provocar a sensação ameaçadora que tanto pretende.

 

Dessa forma, Hold The Fort, que faz sua estreia no Fantasia Film Festival, ainda que uma comédia de ação e terror bastante divertida, em determinados momentos parece não saber exatamente como aproveitar de seu próprio potencial por completo, seja com protagonistas rasos demais, na resolução abrupta, ou por deixar talvez a sua melhor cena de ação para uma piada pós-créditos, que muito bem poderia funcionar melhor se a montagem a colocasse dentro do filme. Contudo, nada tira o charme deste bom filme B, autoconsciente e bastante curto, mesmo que pudesse se alongar em alguns minutos para explorar um pouco melhor seus protagonistas e o clímax, ao final.

 

Avaliação: 3/5

 

Hold The Fort (Idem, 2025)

Direção: William Bagley

Roteiro: William Bagley

Gênero: Terror, Ação, Comédia

Origem: EUA

Duração: 74 minutos (1h14)

29º Fantasia Film Festival

 

Sinopse: O casal Lucas e Jenny está empolgado por ter se mudado para um bairro suburbano amigável. Mal eles se acomodaram na nova casa, o presidente da associação, Jerry, os convida para uma festa anual de equinócio que acontecerá naquela noite. A promessa é de que será uma oportunidade para conhecer os novos vizinhos, mas o que acontece, na verdade, é que o casal acaba sendo apresentado ao sombrio segredo da comunidade. (Fonte: Fantasia - Adaptado)

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