49ª MOSTRA DE SP | Aurora 15, de José Eduardo Belmonte (Idem, 2025)
- Henrique Debski

- 15 de nov.
- 3 min de leitura
Filmado há uma década, Aurora 15 é um exercício de cinema de gênero confuso, pensado às pressas por uma equipe e elenco talentosos, que não salvam o projeto do esquecimento.

Antes do início da sessão no CineSesc, na première do filme na 49ª Mostra de São Paulo, o elenco e equipe de Aurora 15 foi à frente da sala para uma rápida apresentação da obra. O renomado produtor brasileiro Rodrigo Teixeira tomou as rédeas da idealização do projeto, e dispôs-se a explicar suas origens e propósitos – o que é indicativo de uma certa desconfiança, ou pelo menos uma contenção de danos diante do público, e modulação das expectativas.
Nas palavras de Teixeira, responsável por inúmeros premiados longas nacionais e internacionais, tratou-se o projeto o mais rápido de sua carreira para filmar – apenas cinco diárias –, e o mais demorado para finalizar e lançar – mais de dez anos se passaram desde as gravações, ocorridas em 2015.
Tudo se passou na época em que estava de mudança. Visualizando o cenário de uma casa grande e vazia, tinha acabado de trabalhar com o também renomado diretor José Eduardo Belmonte (que apresenta três longas, incluindo este, nesta edição do festival) em outro projeto, e teve a ideia de convidá-lo para dirigir um filme de terror nessa antiga casa, para aproveitar aquele cenário interessante. Pensado como um exercício de gênero, o roteiro foi rapidamente redigido por Daniel Pech e Fernando Toste, formou-se uma equipe e elenco estelar às pressas, e começaram a rodas as filmagens.
Mais de dez anos no limbo talvez tenha uma certa explicação. Ainda que aproveitando-se do cenário escolhido, produzido rapidamente, e com grandes nomes no elenco – Carolina Dieckmmann, Humberto Carrão, Marjorie Estiano, Juliano Cazarré, Milhem Cortaz, Olivia Torres e João Bourbonnais –, a direção de Belmonte encontra muita dificuldade em trabalhar com a tensão e o próprio horror sem soar exageradamente confuso ou, quanto mais, apelativo demais.
Tudo bem que a base estabelecida pelo roteiro não busca por qualquer complexidade, e ao contrário, finca-se em uma certa dose de obviedade, com uma narrativa de ataque, possessão e sobrevivência bastante genérica. Acontece que em momento algum também se interessa por explorar uma mitologia, ou ao menos investigar o que acontece diante dos personagens, vítimas de uma criatura que talvez nem o próprio filme saiba o que é.
Já se iniciando com um susto gratuito oferecido pela montagem, que sustenta o perigo desde o princípio através de imagens de animais mortos e carcaças jogadas às ruas, a ação de Aurora 15 não se desenrola de maneira compreensível ao espectador. A câmera trêmula a todo tempo, filmando mesmo os ambientes internos da casa com um “zoom”, mexendo-se constantemente, nos impede de compreender exatamente as interações entre os personagens quando em luta corporal ou fugindo da criatura. Pelo contrário, só nos damos conta das consequências após o esvaziamento da tensão, quando o diretor decide olhar com mais calma para o cenário pós-violência.
É inegável que o trabalho de maquiagem realmente caprichou na violência gráfica e no próprio sangue, mas não consegue prender a atenção diante de personagens tão vazios, desinteressantes, ou estúpidos nas decisões que tomam, como se pedissem para morrer, sem que haja qualquer aspecto de humor ou subversão do gênero nessas escolhas.
No último plano, o encerramento com uma tirada cômica sarcástica coloca um último prego no desastre. Não deixa de ser divertido em alguns momentos, e até consegue assustar, ainda que de maneira apelativa, mas por vezes mais cansa pelo aspecto frenético e confuso do que efetivamente se torna memorável. A resposta do público até ficou evidente ao longo da sessão, frente às gargalhadas inoportunas e involuntárias – reflexo de um projeto que, embora um exercício interessante de gênero entre amigos, não consegue cumprir adequadamente o papel de um bom exemplar de horror, apoiando-se mais em elementos genéricos com uma equipe e elenco talentosos, do que propriamente buscando uma identidade.
Avaliação: 1.5/5
Aurora 15 (Idem, 2025)
Direção: José Eduardo Belmonte
Roteiro: Daniel Pech e Fernando Toste
Gênero: Terror, Thriller
Origem: Brasil
Duração: 70 minutos (1h10)
49ª Mostra de São Paulo
Sinopse: Um jovem casal se muda para a casa dos sonhos. O lugar perfeito para formar uma família. Quando estão prestes a assinar o contrato com a corretora, um senhor e sua filha adolescente invadem o espaço, alegando estarem sendo perseguidos por dois homens armados com a intenção de matar a menina. Os dois homens também chegam e argumentam que precisam desesperadamente capturá-la antes que anoiteça. Quando a noite chega, a menina já não possui mais a forma humana.





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