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49ª MOSTRA DE SP | Nosso Herói, Balthazar, de Oscar Boyson (Our Hero, Balthazar, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 29 de out.
  • 4 min de leitura

Nosso Herói, Balthazar coloca em xeque o “heroísmo de redes sociais”, em uma sátira da sociedade norte-americana e aos problemas sistêmicos que não desejam solucionar.


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Desde seus primeiros minutos, Our Hero, Balthazar é plenamente transparente com o espectador no tocante à natureza de seu protagonista, e ao tom satírico que emprega à narrativa. Sob a paisagem do centro de Manhattan, em um apartamento gigante nos últimos andares de um dos prédios mais altos da cidade, o adolescente Balthazar (muito bem vivido por Jaeden Martell) manipula o choro em frente a uma câmera, derramando falsas lágrimas e lamentos sobre tragédias que não o abalam de verdade, mas que podem render “likes” e engajamento nas redes sociais. Sonha em ser parte de algo, integrar um grupo, mas não encontra meios e nem possibilidades para tanto.

 

A partir do comentário de um perfil “falso”, intitulado “atirador de escola” (em tradução livre) ou algo assim, encontra, talvez, uma oportunidade de fazer a tão sonhada diferença, e tornar-se famoso por impedir um massacre. Inicialmente, ele realmente acredita nisso – tanto que, enquanto desenvolve essa trajetória de conhecimento, a direção ilustra sua imaginação por detrás da pessoa do perfil como um assassino sádico apertando teclas em um computador, em um ambiente macabro.

 

No entanto, a realidade fática contrapõe a imaginação que se tem por detrás dos perfis falsos dos chamados “trolls da internet”. O retrato oferecido pelo diretor Oscar Boyson é, na verdade, de um homem jovem adulto (na pele de Asa Butterfield, em um personagem pouco convencional ao arquétipo que costuma interpretar, e com excelente sotaque texano, que novamente reforça seu talento), ingênuo, em crise pessoal e financeira, tentando construir a própria vida, buscar um jeito de pagar suas contas e, quem sabe, encontrar uma parceira com quem pode se relacionar.

 

O encontro físico desses dois personagens pessoalmente problemáticos, a partir de um primeiro ato que valoriza o suspense quanto às identidades, e as pessoas por detrás dos perfis na internet, dá início a um jogo mútuo de manipulações. Ambos possuem interesses um no outro, e tentam usar-se mutuamente a fim de satisfazer os próprios objetivos pessoais. No entanto, esses não são exatamente conciliáveis entre si.

 

O roteiro, também assinado por Boyson, posiciona de maneira precisa suas peças no tabuleiro – contextos, questões financeiras, armas de fogo, planos, perfis em rede social, famílias -, para aos poucos descontruir os papéis de ambos. Na medida em que avança, começa a trazer questionamentos sobre qual dos dois personagens de fato mais se assemelha ao perfil criticado, de um “atirador de escola”, um “incel”, fazendo com que se aproximem, a partir de suas realidades de vida completamente distintas.

 

O cineasta inclusive vai além desses personagens na investigação do panorama que propõe. Quando coloca em pauta a questão dos tiroteios em massa, e dos casos de massacres que ocorrem em escolas, põe em xeque a própria cultura norte-americana, na medida que busca por meios de capitalizar tragédias, e remediar problemas sem resolver suas verdadeiras causas, mas sim, indiretamente, os perpetuar para manter a indústria em plena atividade. Não se trata, nesse sentido, de um grande plano maligno, mas de uma teia de elementos culturais cujas bases são muito difíceis de serem alteradas – da questão do armamento, “coaches da vida”, consultoria em segurança, defesa pessoal e por aí vai.

 

Em seu desfecho, talvez Nosso Herói, Balthazar possa não fugir de uma certa obviedade, mas esse aspecto previsível apela, com razão, para a verossimilhança na construção dessa dinâmica de heroísmo que se questiona desde o princípio, enquanto reflete sobre a veracidade das narrativas criadas através das redes sociais, e até onde vai o elemento real de uma verdade. Existe todo um aspecto sádico que se constrói nessa última metade do longa, na qual Boyson trabalha muito bem com o olhar de Martell nessa inversão entre os dois personagens, e a manipulação que existe entre eles. É um daqueles filmes que nas mãos erradas poderia se tornar uma verdadeira bomba-relógio, principalmente quanto aos seus discursos, mas encontra seu lugar a partir do sarcasmo empregado a todo tempo pelo diretor, que mesmo eventualmente abusando um pouco no humor, deixa claro desde o primeiro momento o verdadeiro aspecto problemático de sua história, um exemplo a não ser seguido. É exatamente o que falta a Lurker, de Alex Russell, exibido nesta mesma edição da Mostra de SP, que inclusive já possui crítica por aqui, e carece de um aspecto sarcástico melhor construído para que o protagonista não seja enxergado como um herói, justamente onde Oscar Boyson, em Nosso Herói, Balthazar, apresenta uma de suas maiores virtudes enquanto realizador.

 

Avaliação: 3.5/5

 

Nosso Herói, Balthazar (Our Hero, Balthazar, 2025)

Direção: Oscar Boyson

Roteiro: Oscar Boyson e Ricky Camilleri

Gênero: Thriller, Comédia

Origem: EUA

Duração: 91 minutos (1h31)

49ª Mostra de São Paulo

 

Sinopse: Balthazar “Balthy” Malone é um adolescente de uma família rica de Nova York que tenta impressionar sua colega de classe, uma ativista, postando nas redes sociais vídeos em que clama por leis mais rígidas para o controle sobre o porte de armas de fogo. Seus vídeos emotivos logo chamam a atenção de um perfil na internet, que afirma planejar um massacre escolar. Balthy, então, na tentativa de impedir essa iminente tragédia, viaja para o Texas e cria uma relação de amizade com o possível atirador.

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