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49ª MOSTRA DE SP | Rose of Nevada, de Mark Jenkin (Idem, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 20 de nov.
  • 4 min de leitura

Mark Jenkin acredita reinventar a roda da viagem no tempo, mas Rose of Nevada apenas recicla ideias batidas e se recusa a dar respostas para soar mais complexo do que realmente é.


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Já logo na primeira cena de Rose of Nevada, ao mostrar imagens da natureza até a mão do ser humano, ao redor de alguma cidade litorânea na costa britânica, sem qualquer trilha sonora ao fundo, na forma de planos bastante contemplativos durante alguns minutos, já nos oferece uma visão clara do formalismo exacerbado de Mark Jenkin na condução de seu projeto. É até uma boa forma de já preparar um espectador impaciente, e estabelecer desde cedo o fato de que, no fundo, está-se imergindo em uma narrativa lenta.

 

E o fato de uma narrativa avançar devagar não é um problema desde que haja algo de interessante para contar, ou pelo menos que nos leve a algum lugar. De certa maneira, o desenrolar de Rose of Nevada não é algo que acontece exatamente em vão, porém, ao imaginar-se uma brilhante subversão aos temas que levanta, prova-se, na realidade, um filme completamente fincado sob as bases do lugar comum, porém vestida com o manto de um filme lento e contemplativo que pouco tem a dizer com tudo isso.

 

A verdade é que se trata o presente de uma obra de aproximadamente cento e vinte minutos capaz de cansar o espectador já em seu terço inicial, quando demora quase uma hora para estabelecer e avançar rumo ao conflito central. Muito se tenta trabalhar de antemão com os personagens interpretados pelos talentosos George McKay e Callum Turner, mas por mais que se busque explorar personalidade, parece existir uma barreira que impede o diretor (e roteirista) de chegar perto deles ao ponto de enxergá-los de fato. Da maneira como trabalhados em toda a introdução, os assistimos durante muito tempo em frente à câmera fazendo tarefas familiares e do cotidiano, compartilhando para conosco apenas características ínfimas de suas personalidades ou momentos de vida, ainda que os olhares possam indicar uma certa insatisfação de um com a vida que leva, e preocupação por parte do outro por razões financeiras. E é muito diferente de se falar em personagens misteriosos, na medida em que estes são apenas pessoas comuns cujo filme parece se interessar, mas não entende como, e muito menos os agarra junto o espectador para tanto.

 

Apesar de alguns eventos e elementos estranhos naquela comunidade litorânea, o filme realmente só parece engrenar quando os personagens adentram ao barco que titula a obra. Uma inscrição na parede, ao lado de uma das camas, entalhada com faca, sugerindo perigo, já nos é um indício do caminho temático pelo qual seguirá, para trabalhar a viagem no tempo. As esperanças de que depois se tornará interessante se sustentam durante algum tempo, na medida em que Jenkins até desenvolve o fenômeno com certa calma bastante provocativa, especialmente na maneira como contrapõe os personagens de McKay e Turner, capaz de nos fazer questionar quem está enlouquecendo de fato.

 

Esse sentimento então avança para uma sensação de que estamos perdendo por alguma peça, ou que algo soa desencaixado naquela história. O excesso de planos fechados, de um ambiente claustrofóbico – como o interior do barco –, e uma espécie de prisão temporal que acaba se construindo até oferecem algum incômodo, e ilustram as sensações sufocantes emanadas pelo personagem de George McKay, o protagonista da história, e no final das contas, nosso representante em tela.

 

O que incomoda é o olhar de certa arrogância do diretor para com seu filme, e até com o próprio espectador, ao acreditar que reinventa a roda com suas escolhas formais, quando na verdade não consegue sair do lugar comum. Essa coleção de imagens bonitas que acaba por fazer, junto desse ar “espertinho” que tenta imprimir com a montagem cortando entre a contemplação e o desespero dentro da embarcação, como uma forma de construir tensão, prova uma falta de ideias no trato da viagem no tempo e, quem sabe, até do multiverso. Apesar das escolhas tomadas pelos personagens, e do dilema moral que coloca diante do protagonista, Rose of Nevada renuncia a todas as oportunidades de fazer algo diferente ou “sair da caixa” para abraçar um ar de misterioso, e soar mais difícil do que é.

 

Por isso tanto se evitam as respostas, e quaisquer informações relevantes são passadas rapidamente pela fotografia, que se movimenta a todo instante. Independentemente de ter sido rodado com uma câmera 16mm, ou todo o som ter sido construído nas etapas de pós-produção, fato é que Rose of Nevada acredita ser muito mais do que de fato é. Não se trata de um longa verdadeiramente complicado, mas que assim se faz para se sentir superior, quando, pelo contrário, apenas perde oportunidades de fazer efetivamente diferente do que tantos outros já o fizeram, desperdiçando uma experimentação técnica interessante, e sobretudo dois excelentes atores.

 

Avaliação: 1.5/5

 

Rose of Nevada (Idem, 2025)

Direção: Mark Jenkin

Roteiro: Mark Jenkin

Gênero: Thriller, Drama

Origem: Reino Unido

Duração: 114 minutos (1h54)

49ª Mostra de São Paulo

 

Sinopse: Numa vila de pescadores esquecida, um barco surge misteriosamente no velho porto. É o Rose of Nevada, desaparecido no mar trinta anos atrás com toda a tripulação. Para os poucos que ainda se lembram, o retorno é um sinal: o barco precisa voltar ao mar, talvez assim a sorte dessa comunidade devastada mude. Nick aceita trabalhar a bordo do Rose of Nevada na tentativa de sustentar sua jovem família e, ao seu lado, embarca Liam, recém-chegado e desesperado para escapar de seu passado.

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