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9º OVERLOOK FILM FESTIVAL | Best Wishes to All, de Yûta Shimotsu (Mina Ni Sachi Are, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 7 de abr.
  • 3 min de leitura

Em Best Wishes to All, Yûta Shimotsu provoca o espectador através de planos longos, uma câmera inerte e conflitos morais que colocam em xeque as heranças familiares em sociedades conservadoras.

 

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Toda a construção inicial de Best Wishes to All nos faz pensar estarmos diante de mais um filme de terror que trilhará por caminhos óbvios, naquela mesma reunião de ideias batidas envolvendo o retorno da protagonista à casa dos avós, em uma região rural do Japão, onde, quando criança, tem em memória uma situação na qual não sabe exatamente o que viu, e menos ainda sabe se foi real ou apenas um sonho estranho.

 

Ao chegar no local, diante dos estranhos comportamentos do casal de idosos (que em muito lembra algumas passagens de A Visita, de Shyamalan), ela tem certeza de que algo está errado, ainda mais quando a misteriosa porta no final do corredor, com a qual sonha, está realmente trancada (o que também lembra do excelente livro A Casa dos Pesadelos, de Marcos DeBrito). Apesar de parecer muitas informações sobre o filme, esta breve descrição apenas reflete seus dez ou quinze primeiros minutos, que estabelecem toda uma base bastante comum ao gênero do terror e já foi explorada por inúmeras oportunidades. O que Best Wishes to All precisava fazer, então, era encontrar seus diferenciais em meio a essas ideias comuns.

 

É nessa esteira que o roteiro de Rumi Kakuta e Yûta Shimotsu encontra espaço para trabalhar com a temática da felicidade, sob contornos perturbadores, enquanto um processo macabro mostra-se como a fonte de energia do casal de idosos. Como se não bastasse a provocação acerca da felicidade ser adquirida sob as custas dos outros, literalmente, a verdadeira crítica, no centro da narrativa, cai como uma bomba a uma sociedade tradicionalista e conservadora como a do Japão, quando, em determinado momento, ao ter conhecimento do que acontece naquela casa, aquilo que se perpétua há gerações é ameaçado pela protagonista, como um membro da família que se recusa a aceitar o próprio legado.

 

O verdadeiro terror da narrativa, então, mostra-se não apenas no procedimento da felicidade, que reserva alguns bons momentos de ‘body horror’, mas especialmente nas consequências da rejeição, por parte da personagem, àquilo que corre em seu sangue enquanto parte de uma família. O fato de a protagonista, inclusive, ser enfermeira e motivar-se pelo desejo de salvar pessoas se coaduna justamente à oposição do legado que tanto rejeita, mas que, pouco a pouco, a coloca em uma encruzilhada, quando o processo se mostra, além de tudo, uma dependência para a sobrevivência da família, enquanto grupo e mesmo fisicamente.

 

A dúvida, enquanto cresce, é permeada por uma série de situações incômodas ao espectador, tanto quanto a direção de Yûta Shimotsu tenta ao máximo nos deixar desconfortáveis, a partir de uma decupagem que privilegia inúmeros planos longos, estáticos e fechados, sufocantes, no rosto dos personagens em cena, ou, quando não assim, pela atmosfera de normalidade que emprega nas reações da família diante de momentos de intensa violência, com planos abertos que exploram o próprio conflito moral em que a protagonista se encontra, dividida entre a própria consciência ou a manutenção da família.

 

Ainda que vez ou outra se estenda, e fique um pouco desnorteado entre suas próprias ideias, especialmente nas passagens que flertam com o surrealismo, Best Wishes to All assusta com sua câmera inerte, sob longos planos que filmam um conflito moral provocativo, enquanto tece críticas afiadas às sociedades tradicionalistas e heranças familiares, ao mesmo tempo que, surpreendentemente, também discute a felicidade como moeda de troca no mundo, com tudo amarrado sob os fios do terror. A conclusão a que chega é resultado de uma desesperança do cineasta em relação à própria sociedade, revelando um ciclo vicioso que perpassa séculos e gerações.

 

Avaliação: 4/5

 

Best Wishes to All (Mina Ni Sachi Are, 2025)

Direção: Yûta Shimotsu

Roteiro: Rumi Kakuta e Yûta Shimotsu

Gênero: Terror, Thriller

Origem: Japão

Duração: 89 minutos (1h29)

9º Overlook Film Festival

 

Sinopse: Uma jovem estudante de enfermagem recebe uma estranha dose de realidade quando visita seus avós no campo, apenas para descobrir os segredos de sua vida excessivamente feliz.

(Fonte: Overlook - Adaptado)

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