top of page

CRÍTICA | Conclave, de Edward Berger (Idem, 2024)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 23 de jan.
  • 3 min de leitura

Afrontando as próprias bases da própria Igreja Católica, Conclave retrata com intensidade o processo de escolha do novo Papa.


ree

Sempre achei fascinante a forma como o alto escalão da Igreja Católica se reúne para a escolha do novo Papa. Como uma figura importante para toda uma religião, e mais ainda com sua função política e religiosa, é interessante que o processo se mantenha intocado, durante tanto tempo, mantendo a tradição, com suas devidas adaptações para cada época.

 

Algo nesse sentido já havia sido explorado recentemente no cinema pelo thriller Anjos e Demônios, dirigido por Ron Howard em sua segunda adaptação das obras do escritor Dan Brown, voltado essencialmente para uma situação extrema, de emergência, envolvendo sequestro e uma grande conspiração. Agora em Conclave, Edward Berger volta seu olhar para uma situação de normalidade – a sucessão do Papa, falecido por questões naturais, e a intriga política que se manifesta no interior da instituição para a escolha do novo líder.

 

Adaptado do livro homônimo de Robert Harris, acompanhamos de perto a rotina do Cardeal Lawrence, decano, e organizador do conclave, o processo de sucessão. Naquele momento tão delicado, o personagem passa por um dos momentos mais difíceis de sua vida, ao atravessar uma crise de fé, ao mesmo tempo que precisa manter a compostura e integridade diante da escolha de um novo líder.

 

Como de costume em toda e qualquer eleição, diversos lados se estabelecem nesse grande jogo político, dispostos a defender seus interesses a todo custo, sejam eles conservadores ou progressistas, de maneiras diversas. Nenhum homem de verdade é santo, e todos, querendo ou não, escondem os próprios segredos por detrás das palavras bonitas e dos discursos inflados sustentando suas posições.

 

Em meio a tantas verdades emergindo, até certo ponto existe uma previsibilidade na forma como o roteiro de Peter Straughan trabalha com esses elementos, no sentido de que as verdadeiras opções de candidatos para o novo Papa, na verdade, estão bastante claras. A questão é que, ainda assim, fica um excelente mistério no ar acerca do que realmente pode acontecer nessa eleição.

 

Berger constrói todo esse conclave através de um formalismo estético, pautado nas bases do ritualismo católico para o processo que retrata. A todo tempo sua direção se mostra mais interessada em filmar o aspecto da ambição (ou a falta de, em certo caso) do que trabalhar com a fé cristã de cada candidato e votante. Na realidade, a fé se mostra o ponto secundário neste jogo político, usada como mero instrumento para convencer o “eleitorado” que sua visão de mundo está mais correta que a dos demais.

 

Ralph Fiennes, diante da turbulência pela qual passa com seu protagonista, a todo tempo enfatiza em seu profundo olhar a frustração de uma instituição que cada vez mais caminha para um lugar obscuro, sobretudo em meio a tantos ambiciosos despreocupados com a fé querendo ascender ao trono da religião, intendendo ao culto da própria personalidade, e mais ainda a adoração de alguns a ideias que há séculos já se mostraram superadas e ineficazes, em tempos como os de hoje, em que a união é fundamental para que aprendamos a conviver com as nossas diferenças.

 

É por isso que Conclave, frente ao olhar de decepção lançado pelo protagonista a uma instituição da qual cada vez mais desacredita, e depois de muito brincar com as emoções de seu público, ansioso para conhecer da grande escolha realizada, se encerra de maneira catártica, ao utilizar das próprias bases da religião Católica para desconstruir os discursos mais retrógrados manifestados pela Igreja. É uma afronta sutil a um conservadorismo que não mais tem lugar no mundo de hoje, e talvez uma forma de (re)conduzir à fé ao lugar para o qual tanto se prega.

 

Avaliação: 4.5/5

 

Conclave (Idem, 2024)

Direção: Edward Berger

Roteiro: Peter Straughan, adaptado de Robert Harris (livro)

Gênero: Drama, Thriller

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 120 minutos (2h00)

Disponível: Cinemas (via Diamond Films)

 

Sinopse: Quando o Cardeal Lawrence é incumbido de liderar um dos eventos mais antigos e secretos do mundo, a seleção de um novo Papa, ele vê-se no centro de uma conspiração que pode abalar os alicerces da própria Igreja Católica. (Fonte: TMDB)

Comentários


© 2024 por Henrique Debski/Cineolhar - Criado com Wix.com

bottom of page