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CRÍTICA | O’Dessa, de Geremy Jasper (Idem, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 10 horas
  • 4 min de leitura

Ao propor uma revolução na forma de uma “rock opera”, O’Dessa até começa muito bem, mas aos poucos se entrega aos clichês e conveniências de mais uma distopia adolescente sem personalidade.


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Desde o ano passado, parece que estamos vivendo em um momento no qual as distopias jovens e adolescentes estão tentando retornar. Nada como foi há cerca de dez anos, quando Jogos Vorazes abriu o precedente para que tantas franquias literárias fossem adaptadas – e a grande maioria sem o mesmo, ou as vezes nenhum, sucesso. A adaptação de Feios, lançada em 2024 pela Netflix, indicava por algo nesse caminho, apesar de seu terrível resultado, e agora O’Dessa segue mais ou menos essa mesma linha, porém a partir de um roteiro original e com uma proposta até subversiva.

 

Ao menos em teoria, O’Dessa vende a ideia de uma “rock opera” distópica, na qual uma jovem, com o dom da voz e munida de um violão, está destinada a realizar uma antiga profecia de sua família, e livrar o mundo das garras do autoritarismo, restaurando a paz e a liberdade. A ideia parece tão batida quanto de fato é, mas os primeiros momentos do longa, apesar do texto em tela como forma de estabelecer as bases daquele universo, sugere que algo ao menos interessante ou diferente dessa leva de distopias genéricas está por vir.

 

A escolha de cantar sobre a profecia, os sentimentos de viver naquele mundo deprimente e o destino da personagem em se tornar a última vagante por escolha própria funcionam com a proposta musical, como a motivação para a jornada, enquanto a direção de Geremy Jasper até busca experimentar com a própria linguagem, a partir da montagem que intercala uma materialização de sensações, com memórias do passado e o momento presente.

 

No entanto, as coisas já começam a desandar quando a protagonista deixa sua casa em definitivo para caminhar e cantar às pessoas, como está no sangue de sua família, encontrando, de cara, com um velho conhecido de seu falecido pai. Esse encontro é apenas uma forma fácil de se construir o conflito e acelerar sua ida para a grande cidade, centro de todas as mazelas daquele universo, onde terá a oportunidade de concretizar a tão falada profecia.

 

Se ao menos esse facilitador bastasse para retomar ao caminho original que O’Dessa trilhava, certamente seria algo a ser relevado. Mas não é. Apesar da construção visual interessante de uma cidade pós-apocalíptica, os meios de controle não passam credibilidade suficiente para crermos em uma distopia, e menos ainda para uma ameaça. Os elementos de fantasia, que se mesclam ao estilo cyberpunk, são trabalhados como meras conveniências para que o universo seja da maneira como é, com pessoas hipnotizadas pelo grande vilão Plutonovitch, através de um programa de televisão, e drogas circulando para todos os lados. Mas é difícil acreditar em tamanho controle quando a cidade em si aparenta uma dimensão muito pequena (40, 50 pessoas no máximo) e praticamente sem qualquer mecanismo estatal garantindo a ausência de uma rebelião ou revolta (4 ou 5 capangas desarmados não significam nada contra uma multidão).

 

E aí, para completar esse quadro de obviedades, não poderia deixar de aparecer um interesse romântico em frente à protagonista, por quem se apaixona perdidamente – e ele a mesma coisa em relação a ela. Não que o amor não tenha sua importância, pois é praticamente uma temática central aqui, mas o filme investe tempo demais tentando desenvolver de forma vazia uma paixão sem química ou qualquer sentimento – não por culpa dos intérpretes, até porque Sadie Sink é o que segura o filme em pé, ainda mais quando demonstra uma bela voz e habilidades como cantora, mas por ausência de tempo e espaço para tanto, ainda mais quando se coloca a antagonista de Regina Hall, que parece até desconfortável no papel, como mais uma ameaça sem relevância ou perigo.

 

E assim, percebe-se que, em O’Dessa, ficamos diante de um filme que não valoriza suas bases e nem suas próprias ideias. A direção de Jasper desperdiça seu próprio potencial sem saber exatamente no que focar, simplificando um universo complexo a elementos pouco críveis, investindo em um romance superficial, e esquecendo-se da música como a força motriz do projeto, em uma “rock opera” tímida demais, querendo trilhar caminhos mais convencionais e esquecendo-se de seu diferencial. Quando tudo é levado muito na literalidade – inclusive a profecia, com uma música que está longe de ser uma das melhores - , e a jornada da protagonista não parece depender de esforços ou sacrifícios, mas sim sorte a todo tempo, não há muito o que fazer senão se entediar, com um filme que, afinal, nós já vimos tantas outras vezes. 

 

Avaliação: 2/5

 

O’Dessa (Idem, 2025)

Direção: Geremy Jasper

Roteiro: Geremy Jasper

Gênero: Drama, Romance, Thriller, Musical

Origem: EUA, Brasil

Duração: 106 minutos (1h46)

Disponível: Disney+

 

Sinopse: Uma fazendeira que busca recuperar uma preciosa herança de família viaja para uma cidade estranha e perigosa, onde encontra seu verdadeiro amor. Para salvar sua alma, ela deve testar o poder do destino e lutar contra as forças de um governo autoritário com sua música, para transformar aquela realidade.

 
 
 

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