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CRÍTICA | Plano em Família 2, de Simon Cellan Jones (The Family Plan 2, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 12 minutos
  • 4 min de leitura

Plano em Família 2 perde o brilho do primeiro longa, com uma ameaça vazia, ação pouco inspirada e humor bem mais ingênuo, parecendo se direcionar mais ao público infantil do que a família como um todo.


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Quando do lançamento do primeiro longa, em 2023, pouco havia de novidade em Plano em Família, quando operava na base mais simples de uma comédia de ação familiar - uma típica produção da Skydance voltada para o streaming (e mais especificamente, para a Apple TV), com a fotografia digital acinzentada, sem cor, e uma ação hiper-controlada, repleta de telas verdes e baixa classificação indicativa, justamente na intenção de fisgar um público familiar. Apesar de todos os elementos em mãos para tornar-se apenas mais uma esquecível adição de catálogo, encontrava na premissa, e sobretudo no elenco talentoso, uma boa oportunidade de se sobressair. Afinal, existia um elemento surpresa que levava o cotidiano daquela tradicional família norte-americana a ter suas vidas viradas de cabeça para baixo: o pai, no passado, fora um assassino profissional, e o avô, que nunca conheceram, é um grande chefe do crime, dono de um grande império de matadores, que volta para acertar as contas com o filho, e puxá-lo de volta aos negócios.

 

Resolvido o problema já no primeiro longa, a sequência tinha a árdua tarefa de se reinventar - ou pelo menos construir algo à altura, para não apenas justificar a ação, como também um novo “plano em família”. Pelas mãos dos mesmos realizadores, o roteiro de David Coggeshall reforça, ainda mais, um elemento de referência à Férias Frustradas, quando novamente uma viagem em família é resultado de caos e destruição. Ao mesmo tempo, dedica uma parte razoável de todo o primeiro ato para explorar a evolução do aspecto familiar - o crescimento dos filhos, as mudanças de interesses, e especialmente o fortalecimento do vínculo entre o pai, vivido por Mark Wahlberg, e a mãe, interpretada por Michelle Monaghan.

 

No entanto, em contrapartida, até existe uma tentativa de oferecer um novo elemento surpresa à narrativa, com o surgimento do antagonista vivido por Kit Harington, que inclusive surpreende não apenas à família como também ao pai, mas, diferentemente de Ciarán Hinds no primeiro longa, aqui não se produz qualquer senso de ameaça.

 

Claro que por ser um filme hollywoodiano de ação voltado a um público familiar, a ameaça é naturalmente mais um elemento fictício e sobre o qual sabemos ser, desde o princípio, incapaz de produzir efeitos diretos nos personagens em cena, ainda mais nos termos de um filme como este. Sua função primordial é uma agitação para que os protagonistas possam sair do status quo em que se encontram, daquela mesmice, e possam ter suas relações interpessoais alteradas, e especialmente, fortalecidas enquanto um grupo unido por afeto e laços de sangue. Não à toa o pai do protagonista de Wahlberg interpretar o grande vilão da primeira aventura reforça a ideia de união proposta, enquanto inexistente entre pai e filho.

 

Agora o surgimento de um tio “perdido" (ou irmão perdido, desconhecido, ao protagonista), decidido a retomar o império criminoso, já não alcança os mesmos efeitos, ainda que houvesse boas abordagens capazes de motivar uma nova aventura. Entretanto, em que pese as oportunidades, tudo segue pelos caminhos mais óbvios possíveis, e pouco se demonstra uma efetiva preocupação em trabalhar mais a fundo com esses laços familiares, que não por meros diálogos vazios proferidos um ao outro.

 

Constrói-se toda uma situação incriminadora nos primeiros instantes do conflito, quando se estabelece, referente ao suposto roubo de um banco, que nunca surte qualquer efeito. Os protagonistas nunca são realmente procurados pela polícia ou mesmo pela Interpol, e tão somente viajam escondidos por território europeu como forma de apresentar personagens exóticos, que talvez um dia reapareçam em uma eventual sequência ou, quem sabe, spin-off.

 

E nem mesmo a ação parece encontrar espaço ao longo do filme, na medida em que, além das poucas cenas em quase duas horas de projeção, sofrem com dificuldades por parte da direção de Simon Cellan Jones em filmar as coreografias que compõe. A cena do ônibus em Londres é grande exemplo disso, na medida em que seus cortes excessivos, para todos os lados, esvaziam todo o contexto que existe no entorno dos personagens, e da própria cidade. Igualmente se aplica ao desfecho, que não apenas caminha para o que há de pior nos recentes longas da franquia Velozes e Furiosos (a cena pós-créditos é desanimadora), como derrota o antagonista de uma maneira que se assemelha a um filme infantil.

 

Dessa maneira, o que salva Plano em Família 2 do completo desinteresse é justamente a união familiar dos protagonistas, e do sentimento que habilmente transpassam em ser uma família de verdade. Se como um filme de ação derrapa excessivamente em uma expansão tola de um universo interessante, que carece de um aprofundamento mais sério, se assemelhando muito a um filme voltado mais ao público infantil do que adulto, ao menos se sobressai através da comédia, e da evidente conexão que se sustenta no elenco em suas interpretações. Admito, como alguém que gosta muito do primeiro filme, que esta sequência é uma verdadeira decepção, muito mais ingênuo e desnorteado que o anterior - e talvez, seja uma prova que nem todo bom filme precisa de uma continuação.

 

Avaliação: 2/5

 

Plano em Família 2 (The Family Plan 2, 2025)

Direção: Simon Cellan Jones

Roteiro: David Coggeshall

Gênero: Ação, Comédia

Origem: EUA, Reino Unido

Duração: 106 minutos (1h46)

Disponível: Apple TV+

 

Sinopse: Dan Morgan, um ex-assassino, tenta ter férias natalinas tranquilas em Londres com sua esposa Jessica e filhos, mas um inimigo do passado ressurge, transformando a viagem em uma caçada internacional cheia de perseguições e confusões, forçando a família a usar suas habilidades para sobreviver.

 
 
 

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