top of page

CRÍTICAS | COMPILADO (ed. 01/25) – “Família a Prova de Balas”, “Drácula: Uma História de Amor Eterno”, “Amores Materialistas”, “Duro de Casar”, “Presença” e “Rabia: As Mulheres do Estado Islâmico”

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • há 9 horas
  • 7 min de leitura

Críticas curtas/comentários sobre alguns lançamentos recentes, para não deixar passarem batido por aqui!


ree

Imagem de "Amores Materialistas". 


Família a Prova de Balas (Guns Up, 2025)

Direção: Edward Drake

Origem: EUA

Avaliação: 3.5/5

Disponível: Cinemas

 

Para quem já conhece o cinema de Edward Drake de outros carnavais, sabe que é difícil de esperar alguma coisa de seus filmes, em geral produções de baixa qualidade com a participação especial de algum astro conhecido, que figura em larga escala no pôster para convencer o público a assistir, acreditando ser protagonizado por uma grande estrela.

 

Surpreendentemente, porém, o cineasta sai dessa fórmula, e prova em Família a Prova de Balas que sabe ser um bom diretor quando quer. Não que haja alguma originalidade alguma aqui - pelo contrário, um excesso de clichês e a narrativa pra lá de básica que emula, e mistura, desde John Wick até Anônimo é o carro-chefe deste projeto despretensioso. Mas enquanto uma comédia de ação familiar, é divertida pelas reviravoltas, pela dinâmica que estabelece entre os membros da família, especialmente Kevin James (surpreendente em um filme de ação), e mais ainda Christina Ricci.

 

É até bastante consciente dessa obviedade latente, e encontra virtude em não tentar ser mais do que é, entendendo seu lugar como um filme B, e rindo disso com piadas metalinguísticas que referenciam suas inspirações, em uma curta duração e a garantia de, pelo menos, algumas risadas.


ree

Drácula: Uma História de Amor Eterna (Dracula: A Love Tale, 2025)

Direção: Luc Besson

Origem: França, Reino Unido

Avaliação: 3/5

Disponível: Cinemas

 

Desde a versão dirigida por Francis Ford Coppola, muitos já tentaram reacender o interesse do público pelo personagem Drácula, de Bram Stocker, sem muito sucesso, tentando surfar nessa onda de um terror romântico carregado de mais seriedade.

 

Assim, é divertido pensar que Luc Besson, mesmo se inspirando no Dracula de Coppola, não cede seu projeto a uma mera reprodução, mas adapta o texto de Bram Stocker em um recorte muito próprio do personagem, com um olhar muito mais voltado a tragédia do personagem título, um apaixonado, com vistas ao passado e à busca por sua amada, do que efetivamente pelo momento presente, já explorado em outros tantos filmes. É uma proposta que, ao menos no papel, soa diferente, ao enfatizar atenção a sua busca pela reencarnação da falecida musa, o que muitos outros longas apenas passam batido ou restringem-se a mencionar em ou outro diálogo, tal como sua viagem junto ao Demeter, explorado em outro longa recente, infelizmente fraco (falo de A Última Viagem do Demeter, de André Øvredal), parte de uma onda de readaptações da obra original com outros enfoques e visões.

 

Nesse sentido, muitos nomes clássicos aqui são abandonados e trocados por personagens "genéricos", até mesmo alegóricos, e a própria narrativa é retirada de Londres e levada para a França, tudo parte de uma jornada de compreensão e dor por anos de solidão por parte do protagonista, em flashbacks que compõem alguns dos melhores momentos do longa, em meio ao estilo cafona, típico de Besson, cujo cineasta aqui abraça na extravagância do visual e dos próprios personagens, enquanto transitam pela alta sociedade.

 

O problema é que as mudanças na base feitas por Besson muitas vezes acabam soltas, enquanto não busca alterar por completo a história original, chegando numa espécie de "Frankenstein" de ideais, que nem sempre conversam bem, ou ao menos se justificam, em um cenário de fantasia mal estabelecido (como as gárgulas, por exemplo). E ainda que se tenha uma terrível dose de autoajuda na reta final, até contraditória em relação ao próprio filme como um todo (que mania essa do diretor, já que é o segundo filme dele nesse ano com essa tirada motivacional inconveniente), esse estilo piegas de Besson é um charme para o filme, junto de um aspecto profano, provocativo, que acaba em vão com o desfecho conformista-religioso (meio culpa cristã).

 

Mas o verdadeiro destaque, ao fim, fica para a excêntrica atuação do sempre versátil, e subestimado, Caleb Landry Jones, como Conde Drácula, certamente a alma do filme. Não nego que, mesmo diante da narrativa recheada de contradições, é uma adaptação curiosa pelo recorte que estabelece, e muito divertida pelo aspecto descompromissado de certas passagens.


ree

Amores Materialistas (Materialists, 2025)

Direção: Celine Song

Origem: EUA, Finlândia

Avaliação: 3/5

Disponível: Cinemas

 

Tal como Vidas Passadas, os Amores Materialistas de Celine Song é um filme agridoce. Mas se lá o sabor amargurado, fruto de uma obra com os dois pés no chão, era sua maior virtude, neste, pelo contrário, esse amargor não se dá por um efeito proposital, mas pelas contradições e incertezas que a própria narrativa converte para si.

 

Pois se por um lado a diretora debate o trabalho de sua protagonista como casamenteira, e a matemática de se encontrar um par perfeito, desconstruindo tais elementos ao longo de noventa minutos até um tanto perdidos quanto ao que deseja realmente, comunicar, os vinte minutos finais mudam completamente seus rumos e, numa virada repentina, começa a reconstruir e abraçar aquilo que criticou, caminhando para algo hollywoodiano demais, e de tão otimista em tão pouco tempo, inverossímil.

 

Não que seja impossível de se idealizar e seguir com essas mudanças repentinas, e pode até ser parte da proposta enquanto gera uma provocação sobre qual das direções apontadas faz mais sentido à personagem, enquanto pessoa, e até mesmo para a sociedade como um todo, amplamente falando, mas fica estranho pois se acaba se parecendo com duas obras diferentes, com posições distintas, que entram em um ciclo sem saber exatamente qual das visões é a que prevalecer.

 

O filme não precisa necessariamente se posicionar, e talvez a diretora nem tenha a intenção de o fazer, mas ao final, um sentimento estranho acaba reinando, com a sensação de um filme desconjuntado, que dá uma estranha volta em torno de si rumo a lugar algum, ainda que haja algum valor em tudo o que é dito. Soa até como um triângulo amoro genérico, em uma quase comédia romântica sem sal (apesar do excelente elenco), como tantos outros no próprio cinema norte-americano.


ree

 

Duro de Casar (Bride Hard, 2025)

Direção: Simon West

Origem: EUA, Chipre

Avaliação: 1.5/5

Disponível: alugar/comprar nas plataformas digitais

 

Difícil falar sobre uma comédia de ação em que o maior mérito são os momentos involuntariamente constrangedores, de um humor cuja risada provém mais da vergonha alheia do que propriamente da piada contada. E diferente de comédias como The Office, neste filme a maior parte do constrangimento não é proposital.

 

Verdade seja dita, Duro de Casar é como um rascunho de comédia de ação que acabou sendo filmado, pois não há nada aqui que outros dez ou vinte filmes, no mínimo, nessa última década já não tenham feito de maneiras mais criativas, com roteiros mais inteligentes, personagens mais críveis, e uma ação melhor desenrolada do que a coreografada por Simon West, um diretor que a cada filme parece dar passos para trás em relação à própria filmografia (o anterior dele neste ano, Old Guy, já não foi “grande coisa”, mas pelo menos ainda tinha algumas ideias promissoras e um elenco engajado no projeto, ainda que tudo já fosse bastante genérico).

 

Assim, muito pouco sobra para destacar de Duro de Casar senão um amontoado de ideias batidas trabalhadas sem qualquer criatividade, sob um roteiro repleto de situações forçadas e até contraditórias, em uma produção sem capricho ou qualidade, e menos ainda timing cômico. De longe, o melhor é Da'Vine Joy Randolph roubando a cena, especialmente de Rebel Wilson, que ativa um modo “piloto automático” completamente desinteressado.


ree

Presença (Presence, 2025)

Direção: Steven Soderbergh

Origem: EUA

Avaliação: 3.5/5

Disponível: Prime Video

 

Soderbergh e David Koepp subverteram, em um mesmo ano, duas ideias óbvias amplamente trabalhadas no cinema recente. Ao mesmo tempo em que trabalharam a espionagem apenas por meio da investigação em Código Preto, rejeitando quase que completamente a ação, típica companheira do gênero, em Presença tiveram uma ideia curiosa ao construir um terror de assombração sob o ponto de vista da entidade.

 

Algumas vezes já acompanhamos uma ideia parecida em outros projetos, mas não articulada da mesma maneira, enquanto acompanhamos, dessa vez, o olhar subjetivo da entidade naquela casa, sob uma lente angular exagerada, em certa altura do chão, como se pairasse pelo ar. Essa câmera, caminhando pela residência em planos longos torna a experiência interessante enquanto, ao mesmo tempo que contemplativa, valoriza a atuação do elenco em cena e, especialmente, as coreografias, como se de fato acompanhássemos o cotidiano da família, de forma bastante natural, entre seus típicos problemas rotineiros e as rivalidades que se estabelecem entre os pais e filhos, pai e mãe (na forma de lidar com os conflitos), e mais ainda, entre irmãos.

 

Até certo ponto, o filme consegue manter o ar de mistério de maneira interessante, enquanto explora as possíveis intenções da entidade para com aquela família, mas seu desfecho, apesar da reviravolta, não apenas muda de tom, como parece quebrar em partes a lógica interna da própria obra, desembocando em uma temática um tanto óbvia, contrariando a própria subversão pretendida pelo projeto. É de um sentimento estranho que fica, ainda que, no geral, a proposta funcione muito bem. Mais um acerto do Soderbergh em 2025.


ree

Rabia: As Mulheres do Estado Islâmico (Rabia, 2025)

Direção: Mareike Engelhardt

Origem: França

Avaliação: 2.5/5

Disponível: Cinemas

 

Sabe quando um filme pouco te desperta sensações, para além daquele velho sentimento de que já o vimos antes? Pois bem, é precisamente o caso de Rabia, que, ao denunciar a situação de mulheres francesas que se unem voluntariamente ao Estado Islâmico na Síria, pouco consegue produzir em relação às motivações que as levam a tal ponto, ou desenvolver um mínimo capaz de chegar a alguma raiz para o problema, senão mostrar repetidas cenas de violência - sob diversas formas, físicas, psicológicas e até sexuais -, bem como a desilusão de que teriam uma vida melhor.

 

Ainda que Megan Northan se esforce como protagonista, a direção de Mareike Engelhardt não consegue extrair muito daqui, senão alguns momentos interessantes acerca do totalitarismo (e um bom paralelo com uma cena de 1984 - tanto do livro quanto do filme), e uma claustrofobia latente, cuja câmera transita entre ambientes apertados, escuros e insalubres, como um reflexo das desilusões das personagens à realidade que encontram, ao perceber terem sido ludibriadas com promessas de vidas incapazes de se concretizar em um ambiente machista e, sobretudo, opressor, que apenas as objetifica.

 

Mas além de tudo isso, Rabia não sabe como concluir sua narrativa, ou o que fazer para encerrá-la, e desperdiça ainda mais uma proposta que já nascera um tanto datada para 2025 com um encerramento vazio, e até covarde, ao não estabelecer conclusões para tudo o que tratou até ali.


ree

 
 
 

Comentários


© 2024 por Henrique Debski/Cineolhar - Criado com Wix.com

bottom of page