IX MORCEGO VERMELHO | El Escuerzo, de Augusto Sinay (Idem, 2025)
- Henrique Debski

- 10 de nov.
- 3 min de leitura
El Escuerzo começa bem em sua abordagem histórica da Guerra do Paraguai, mas logo perde o brilho ao abraçar a fórmula do horror de maldição sem uma metáfora clara por detrás das ideias.

O terror como forma de realizar abordagens históricas e críticas a fatos e momentos do passado é sempre uma possibilidade no mínimo fascinante que o gênero oferece, especialmente a fim de se esquivar das abordagens dramáticas tradicionais, que não necessariamente são ruins, mas podem apenas tornar a narrativa mais do mesmo, sem um frescor que pode ser muito bem-vindo à proposta. De certa maneira, El Escuerzo começa muito interessante, ao colocar-se em uma Argentina de meados do século XIX, em guerra contra o Paraguai.
O clima do país nesse período histórico era de ansiedade. Muitas famílias fragmentadas pela necessidade de homens no campo de batalha, e a segregação de grupos se fazia mais do que presente, enquanto os “indesejados” eram capturados pelo exército e obrigados a lutar, pelo período mínimo de quatro anos, dos quais poucos, naquele contexto, sobreviviam. O início promissor do longa se dá justamente nesse momento de captura e obrigatoriedade de lutar pelo país, em um verdadeiro beco sem saída ao personagem que julgamos ser o protagonista. Tudo se complica, porém, a partir do momento em que o soldado que o acompanhava esmaga com uma pedra um sapo-boi – o que, ao filme, é um “péssimo sinal” a depender dos próximos passos.
E assim, descobrimos tratar-se tudo aquilo de um prólogo, para chegarmos ao verdadeiro protagonista, um jovem numa fazenda do interior, que vive isolado, junto da mãe, uma pessoa extremamente rígida e, de certa maneira, também cruel. Não demora para, como seria de se esperar, o mesmo do prólogo acontecer ao personagem: ele acidentalmente mata um sapo-boi.
Se até então ainda não haviam sido mostradas as cartas, agora El Escuerzo revela seu jogo: um terror de maldição. Baseando-se no folclore local, o protagonista perde a oportunidade de queimar as entranhas do animal – o que o permitiria se livrar daquilo que virá para o atormentar –, e em sua viagem de alguns dias ao comércio local para comprar comida, lidará com as alucinações e a espiral de horror crescente em uma verdadeira perseguição sobrenatural.
Apesar de todo o contexto histórico, e da suposta mitologia por detrás do sapo-boi, El Escuerzo não parece saber exatamente o lugar em que deseja chegar com a história que conta, sobretudo enquanto se mostra incapaz de se esquivar da fórmula do horror de maldição, já exaustivamente trabalhada pelo cinema hollywoodiano (como Corrente do Mal e Sorria), aqui sem qualquer refresco ou aprimoramento.
Ainda que sua ambientação rural e reconstrução de época seja muito bem realizada, sobretudo para uma produção de baixo orçamento, por vezes há de sentir um certo desnorteio na direção de Augusto Sinay, com um ritmo lento e passagens bastante segmentadas nas críticas que realiza, desde a extorsão do protagonista pelos comerciantes, a tentativa do padre, representante da Igreja, em obter dinheiro a todo custo, e até a confiança ou não em seguir adiante na companhia de um soldado e uma criança indígena.
São muitas ideias que, no todo, não parecem se conectar adequadamente. Ao mesmo tempo que pretende explorar todas essas frentes – sem ainda contar o prólogo, que apesar da conexão resta igualmente deslocado –, acaba se utilizando do terror como recurso secundário que pouco se intensifica à medida que se aproxima do fim. A progressão lenta, e o ritmo paciencioso aos poucos vão cansando um espectador que assiste a longas caminhadas sem um rumo aparente, e cada vez mais distante de um sentimento de destino. A metáfora do sapo-boi vai se perdendo nesse meio, e quando é retomada na reta final, apresenta uma resolução típica ao horror de maldição, visualmente interessante, é fato, mas vazia no significado pretendido, especialmente na ausência de um diferencial para algo já feito outras tantas vezes, e que segue sendo feita quase que anualmente.
Dessa maneira, é de se ficar confuso quanto as intenções de El Escuerzo, ao passo que saí da sessão sem compreender o que o filme desejava comunicar, ou onde gostaria de chegar, em uma abordagem histórica, cultural e mitológica que vai ficando cada vez mais perdida pelo caminho que segue, e se encerrando de maneira óbvia, ainda mais ao estilo de terror que adota, seguindo à risca uma fórmula sem construir necessariamente uma metáfora convincente, ou talvez bem estruturada, por trás.
Avaliação: 2/5
El Escuerzo (Idem, 2025)
Direção: Augusto Sinay
Roteiro: Augusto Sinay
Gênero: Thriller, Terror, Drama
Origem: Argentina, Espanha
Duração: 94 minutos (1h34)
IX Festival Morce-GO Vermelho
Sinopse: Argentina, 1866. Venancio, um jovem gaúcho, mata uma criatura parecida com um sapo, enfurecendo sua mãe, que prevê a vingança do animal. Ele parte em uma jornada entre contrabandistas, padres, xamãs e desertores para quebrar a maldição.





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