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XXI FANTASPOA | As Outras Pessoas, de Chad McClarnon (The Other People, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 30 de abr.
  • 4 min de leitura

As Outras Pessoas ensaia trabalhar com a invasão domiciliar e a assombração sob novas perspectivas, mas acaba preso no mais do mesmo em quase duas horas de duração.


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O subgênero do thriller/terror voltado para invasão domiciliar, muito popular nos anos 1970, e especialmente nos anos 2000, logo cedo já deu claros sinais de desgaste quando inúmeros filmes, sem criatividade, apenas se limitavam a replicar as fórmulas daquilo que já tinha dado certo anteriormente. As possibilidades, como tudo na arte (e logicamente, no cinema) de se abordar a temática são inúmeras, basta um senso de criatividade e a vontade de fazer algo diferente.

 

Em um primeiro momento, é o que parece sugerir As Outras Pessoas, enquanto se inicia mostrando uma casa isolada pela polícia, onde um estranho crime brutal foi cometido. Sem saber se trata de um evento passado ou futuro, somos introduzidos aos protagonistas, William e Abby, um pai viúvo com sua filha, se mudando, felizes. Pouco depois, eles conhecem Rachel, que tão logo, em um estranho e não muito delimitado salto temporal feito pelo filme, torna-se um membro da família, ao casar-se com William. É interessante como surge um sentimento de completude com sua chegada, ainda mais quando assume o encargo, com amor, de tornar-se uma mãe para Abby.

 

A ideia base do roteiro, escrito pelos irmãos Chad e Trey McClarnon, surgiu com uma brincadeira que seu pai costumava fazer, ao sair. Ele trancava a casa, e tocava a campainha, perguntando “tem alguém aí?”. Logicamente, nunca ninguém abriu a porta, mas e se abrissem?

 

Talvez partir desse ponto, desse abrir de porta inesperado, fosse uma ideia mais interessante Às Outras Pessoas, uma fantasia aterrorizante do que poderia acontecer se realmente alguém, por alguma razão, abrisse a porta da casa. Mas a escolha de abordagem pende mais para o caminho da casa assombrada misturado com a invasão domiciliar, pois apesar dos antagonistas se esconderem nas sombras, a direção de Chad McClarnon sempre deixa clara a materialidade da ameaça em carne e osso, apenas mantendo no ar a dúvida de serem, ou não, eles de natureza sobrenatural.

 

De fato, é assustador pensar que podem existir outras pessoas morando em sua casa – sem que você saiba -, se escondendo nos armários, entre as paredes, te observando em uma posição de vantagem em relação aos seus interesses escusos, algo que a direção sabe habilmente trabalhar a partir do bom estabelecimento da casa como personagem, cuja geografia, bem construída nos longos plenos entre o vai e vem de seus moradores, favorece o uso da profundidade de campo como forma de construir a ameaça e a presença dos vilões em cena.

 

No entanto, é triste pensar que, por outro lado, o longa, em suas quase duas horas, parece limitar-se ao que já fora feito outras vezes no gênero, apenas concentrando-se na ameaça das “outras pessoas” na casa, sem realmente buscar trabalhar uma metáfora a partir disso, senão apenas um terror de assombração misturado com invasão domiciliar. Os problemas conjugais de Rachel e William, por exemplo, pouco tem relação ao terror estabelecido, desembocando em uma cena de traição que fica esquecida como uma subtrama desnecessária e desconectada da narrativa como um todo. A própria saudade da mãe por parte de Abby é outra temática que nunca resta de fato explorada a partir da relação com a madrasta.

 

Às vezes, enquanto Rachel nota a possível presença de outras pessoas na casa, a montagem, tentando algo original, torna-se confusa ao mesclar diferentes momentos de percepções da personagem a pequenas coisas fora do lugar no dia a dia a cada corte – o que pode soar como um exercício muito interessante ao diretor, e também montador do filme, mas que acaba soando estranho para o espectador que não tem a mesma intimidade com o material.

 

Ainda que a certo tempo seja capaz de construir uma atmosfera de incômodo eficiente ao espectador, sobretudo com a crueldade que consegue implicar à algumas situações próximas e durante o terço final (e com um orçamento modesto, mal chegando na casa do milhão de dólares), As Outras Pessoas é, na realidade, um filme longo demais que ensaia trabalhar a invasão domiciliar sob novas perspectivas, mas que, na prática, acaba por apenas repetir o básico do subgênero e estilo, seja com os personagens protagonistas, as vítimas, tomando atitudes estúpidas ou por não conseguir construir uma mitologia por detrás dessas “outras pessoas”, uma saída fácil para quem não tem certeza exatamente do que fazer para desenvolvê-las. E assim, toda a ideia que sugere sobre quem é o verdadeiro intruso naquela casa vai por água abaixo, deixando muito mais sugestões de fato, pouco passíveis de alguma reflexão, diante da ausência de uma metáfora, do que realmente boas ideias.

 

Avaliação: 3/5

 

As Outras Pessoas (The Other People, 2025)

Direção: Chad McClarnon

Roteiro: Chad McClarnon e Trey McClarnon

Gênero: Terror, Thriller

Origem: EUA

Duração: 113 minutos (1h53)

XXI Fantaspoa (Mostra: Internacional)

 

Sinopse: Quando Abby, uma menina problemática de oito anos, faz amizade com um menino que vive nas sombras, sua família descobre o porquê das coisas que habitam a escuridão de sua casa não quererem ser vistas. (Fonte: Fantaspoa)

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