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XXI FANTASPOA | Os Perigos da Viagem no Tempo, de Chris Reading (Time Travel is Dangerous!, 2025)

  • Foto do escritor: Henrique Debski
    Henrique Debski
  • 29 de abr.
  • 3 min de leitura

Os Perigos da Viagem no Tempo brinca e homenageia o conceito da ficção-científica misturando referências de diferentes momentos do cinema.


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No início de sua primeira cena, admito que me pegou de surpresa ser Os Perigos da Viagem no Tempo, em sua maior parte, um longa em formato “mockumentary” (um falso documentário). Acompanhando uma dupla de melhores amigas, elas administram uma loja de objetos “vintage” nos subúrbios de Londres, e imersas em dívidas que cada vez mais se acumulam, elas descobrem, ao acaso, uma solução, quando procuravam por mercadoria em lixeiras: uma máquina do tempo.

 

Quando diante de um objeto tão peculiar e com tamanho poder, muitos poderiam pensar nos grandes feitos que poderiam ser alcançados com a possibilidade de viajar no tempo, seja para resolver mistérios históricos, contribuições para a pesquisa científica ou mesmo pela satisfação de encontrar, mesmo que por um breve período de tempo ou apenas avistar de longe, grandes figuras da humanidade – ou quem sabe entes queridos que já se foram. Porém a dupla protagonista, Megan e Ruth (vividas por Megan Stevenson e Ruth Syratt, em versões cômicas e exageradas de si mesmas) representam, ironicamente, a mediocridade do ser humano, quando concluem ser aquela a melhor maneira de arrecadar dinheiro, voltando no tempo e furtando objetos históricos de diversos períodos e lugares diferentes do mundo, sem mirar nas consequências que seus atos podem ocasionar a longo prazo.

 

Para uma produção com um custo aproximado de um milhão de libras, Os Perigos da Viagem no Tempo reconstrói épocas, ainda que brevemente, com grande atenção aos detalhes. É o número de pessoas em cena, a quantidade de objetos utilizados, peças de figurino, e mesmo a ambientação, de uma antiga cidade no velho oeste norte-americano aos campos de treinamento napoleônicos. Mas mais do que isso, é no capricho dos efeitos visuais e no próprio trato para com a ficção científica – e em suas homenagens – que o filme realmente encontra seu lugar.

 

A partir de um grupo de cientistas, cuja parte dos membros foi responsável pela criação da máquina, que acreditavam não funcionar, surge o dever de fechar a fenda temporal aberta pelas protagonistas enquanto, gananciosamente, brincavam imprudentemente com a história, e acabaram separadas, com uma delas presa em uma espécie de dimensão intermediária chamada de “o irracional”, evocando um pé de horror cósmico e algumas boas referências ao mitológico monstro de Lovecraft, Cthulhu, trabalhadas sob um outro prisma, essencialmente voltado à comédia.

 

É como se todo esse espaço vazio, de fato irracional, representasse, de certa maneira, as incompreensões dos realizadores. Ao se permitirem brincar com elementos surrealistas, por exemplo, o diretor Chris Reading revelou, em uma conversa pós-filme, que o grande jogo de tabuleiro existente na vastidão desse universo perdido entre o tempo e o espaço manifesta sua própria dificuldade em jogar jogos de tabuleiro, e recordar de suas muitas regras.

 

Nesse meio, entretanto, a estética do falso documentário acaba eventualmente se tornando estranha à própria narrativa, quando por vezes um tanto indecisa sobre o que e quem realmente segue, alternando entre uma câmera tradicional e uma documental com certa aleatoriedade. Creio que o modelo documental, já pela reta final, se amolde adequadamente e encontre seu melhor uso ao acompanhar os cientistas, em uma espécie de The Office dos inventores de objetos bizarros, com mais ou menos os mesmos arquétipos de personagem e um humor levemente parecido, que varia entre o ácido e o absurdo.

 

Assim, ao abraçar a ficção-científica e, especialmente, trabalhar tão bem com duas não atrizes, carismáticas e realmente donas de uma loja de objetos vintage (justamente a qual se passa o filme), Os Perigos da Viagem no Tempo, ainda que sirva como uma grande propaganda a elas, diverte o espectador e igualmente se diverte entre suas próprias referências, homenageando, com orgulho, o vasto conceito da viagem no tempo desenvolvido ao longo de décadas no cinema, transitando entre ideias provenientes de Doctor Who até De Volta Para o Futuro.

 

Avaliação: 4/5

 

Os Perigos da Viagem no Tempo (Time Travel is Dangerous!, 2025)

Direção: Chris Reading

Roteiro: Chris Reading, Anna-Elizabeth Shakespeare, Hillary Shakespeare e Ruth Syratt

Gênero: Aventura, Comédia, Ficção-científica

Origem: Reino Unido

Duração: 110 minutos (1h39)

XXI Fantaspoa (Mostra: Internacional)

 

Sinopse: Melhores amigas, Ruth e Megan administram uma loja de antiguidades em Londres. Ao descobrirem uma máquina do tempo, elas embarcam em viagens ao passado para "pegar emprestado" itens e vender no presente. Elas não querem mudar a história, apenas encontrar pechinchas, até serem sugadas pelo vórtice infernal do espaço/tempo conhecido como Unreason. (Fonte: Fantaspoa)

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